No futuro, quando o período da história em que o Brasil foi governado por Luiz Inácio Lula da Silva for estudado, o que a grande imprensa disse daquele governo em seus últimos dias colidirá com os fatos e com o que dizia a nova mídia que surgia na internet, que, apesar de então ainda não ter o mesmo alcance da velha mídia, começava a ganhar importância entre os formadores de opinião.
Apurar-se-á que, durante os oito anos do governo Lula, todos os grandes jornais, revistas, televisões, rádios e portais de internet repetiam, em uníssono e como se fosse um mantra, um discurso que intensificaram na reta final daquele governo, de que não teria tido outro mérito além do de continuar a obra de Fernando Henrique Cardoso, que, segundo essa imprensa, seria o verdadeiro responsável pelo sucesso estrondoso com que o Brasil chegou ao primeiro dia da segunda década do século XXI.
Historiadores espantar-se-ão com a quantidade de editoriais, colunas e artigos ou com programas sobre política no rádio e na tevê que entoavam exatamente o mesmo discurso, como se obedecessem a uma única ordem de comando.
Na internet, porém, encontrarão versão diametralmente diferente, embasada por argumentos bem construídos, expostos em milhares de páginas, e concluirão que aqueles grandes meios de comunicação tentavam impedir que versão diferente da história fosse conhecida simplesmente censurando opiniões divergentes da sua.
Para dirimirem dúvidas, buscarão conhecer o sentimento da sociedade exposto inequivocamente nas urnas poucas semanas antes de Lula deixar o poder ou em pesquisas de opinião. Novamente ficarão espantados ao descobrir que o homem que a mídia tratara como um oportunista que fez fama usurpando os feitos de seu antecessor enquanto cometia erros sucessivos e estimulava a corrupção, era amado por seu povo como nenhum outro governante jamais fora.
Nesse aspecto da corrupção, aliás, os estudiosos deste período da história novamente ficarão surpresos ao compararem o discurso uníssono da grande imprensa com os investimentos imensos que Lula fez na Polícia Federal, com a miríade de operações dessa polícia contra focos de corrupção que jamais tinham sido atacados por governo algum e, finalmente, com as indicações para o Judiciário – sobretudo para a Procuradoria Geral da República – de pessoas que incomodaram muito aquele que as indicara.
Ao fim do estudo da Presidência de Lula, será possível ao observador sensato do futuro, descontaminado de paixões políticas, espantar-se uma derradeira vez com o nível de transformação que o Brasil sofrera em período tão curto – em termos históricos – em que um ex-operário de pouca instrução formal governou o país.
Não será possível impedir a descoberta de que tudo de bom que os grandes meios de comunicação opositores de Lula diziam ter se originado no governo de seu antecessor direto, pouco existiu. Encontrarão que o segundo mandato de FHC foi um desastre do primeiro ao último dia, e saberão que aquilo que dizem que ele legou ao sucessor nada mais foi do que imposição dos credores do Brasil de então, que eram os que de fato geriam a economia do país.
Que a presidente Dilma Rousseff, eleita quase que exclusivamente sob o aval de Lula apesar de seus inegáveis méritos em seu governo, ao fim de seu período – que deverá ser de oito anos, salvo imprevistos – possa ser avaliada como tendo sabido aproveitar a herança bendita que recebeu – à diferença de seu padrinho político, que herdara de FHC uma massa falida.
Dilma terá uma vantagem adicional em relação a Lula. Sua relação com a mesma imprensa que sabotou seu antecessor durante oito anos deverá ser melhor por duas razões, sua origem de classe média alta e o fato de jamais ter afrontado essa imprensa como fez seu padrinho político.
Dilma terá uma chance de diálogo com a imprensa, quando poderá lhe dar uma chance de não enveredar pelo caminho tortuoso do confronto e de aceitar um marco regulatório para o setor de comunicação. A imprensa corporativa sabe quanto perdeu com a guerra que travou contra Lula e poderá ser convencida de que a negociação dos interesses dos setores exíguos – mas poderosos – da sociedade que representa tem que ser feita com o Estado de igual para igual, e não como imposição.
O fim da guerra mídia versus governo, aliás, daria a pessoas como este blogueiro sujo a oportunidade de cobrar esse novo governo, uma oportunidade que deixou de existir na era Lula devido a ter sido alvo de sabotagem midiática do primeiro ao último dia.
Haverá muito a cobrar do governo Dilma simplesmente porque sua titular receberá um país muito diferente daquele que recebeu Lula, o que a obrigará a avançar mais rápida e profundamente, sobretudo em questões como Educação, para que essa que é a maior chaga nacional possa se tornar compatível com o estágio de desenvolvimento do país.
O grande erro da mídia corporativa será tentar impor sua visão e os interesses de seus financiadores e beneficiários de suas ações. Se for capaz de cobrir a política com maior responsabilidade, seriedade e transparência, eximindo-se de tentar direcionar o povo politicamente, finalmente pessoas como eu poderão tratar de política da forma correta, cobrando e fiscalizando todos os políticos da mesma forma.
Todavia, editoriais dos grandes jornais no primeiro dia da nova década não oferecem muita esperança. Continuam arrogantes, querendo ditar regras para o novo governo em vez de tentarem estabelecer uma relação construtiva, ainda que fiscalizadora.
A partir deste 1º de janeiro de 2011, termina a era Lula. Pessoas como eu, que durante mais de duas décadas apoiaram jornada tão dura e edificante, esse projeto de país que o ex-presidente consolidou de forma tão impressionante, sentem, agora, certo vazio. Caberá a Dilma Rousseff preenchê-lo aproveitando e honrando o legado de Lula. Condições para tanto certamente não lhe faltarão.
blog da cidadania
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