Em um momento em que o país vê uma mulher chegar ao poder, alguns poderiam se surpreender com o fato de que há uma efervescência social contra o que se convencionou chamar de machismo, conduta preconceituosa da qual deriva o sexismo, que pressupõe diferenças de um sexo para outro em desfavor de um deles.
O que é ser machista? É, sobretudo, negar à mulher “direitos” não escritos concedidos ao homem, como o de poder exercer com liberdade a própria sexualidade. O lado mais odioso do machismo é o de se caricaturar a mulher por sua conduta sexual.
A transformação das mulheres em objeto de prazer, porém, talvez seja dos traços da cultura patriarcal que mais demorará a ser superado, até por contribuição de expressiva parcela do sexo feminino que retira prazer do fato de ser vista como uma iguaria e não como ser humano.
Mas sexualidade não é o único alvo do machismo. Há o tratamento debochado para com a mulher, de não levá-la a sério, de tratá-la como um ser que deve ser visto em vez de ouvido. Não se trata de reconhecer as diferenças de gênero na forma de ver e se relacionar com o mundo, pois as peculiaridades de cada sexo não podem ser vistas como adequadas ou inadequadas a nenhuma situação.
Mulheres e homens podem exercer as mesmas profissões e ter as mesmas responsabilidades. O gênero a que se pertence jamais influirá no desempenho de alguém. O que pode influir são fatores como determinação, perseverança e ousadia, sem falar na inteligência de cada indivíduo.
Não se pode, tampouco, desconhecer que a veemência que os que pertencem a grupos sociais oprimidos levam consigo decorre de reação óbvia de quem tem razões mais do que suficientes para acreditar que através dos bons modos pode ser difícil se fazer entender por aqueles que têm o dever de tomar atitudes contra a discriminação – e que não tomam.
Este blogueiro está entre os que defendem que os oprimidos lutem pelos seus direitos, gritem suas razões e, se necessário, que ultrapassem os limites da polidez. Porque, às vezes, para produzir reações há que aumentar o volume da voz de quem clama por elas.
Se houver um limite para lutas justas e necessárias como a das mulheres, a dos negros, a dos homossexuais e a de qualquer outro alvo de discriminação, deve ser o de não criarem novos preconceitos com base naqueles de que são alvo. O negro não deve estereotipar o branco analisando suas palavras com lupa a fim de descobrir preconceitos ocultos, por exemplo.
O limite para a legítima luta pela igualdade de direitos é a observância de deveres impositiva a todo cidadão. Em questões tão sensíveis, todos devem estar sempre dispostos a aprender com erros que podem ser cometidos por oprimidos e não-oprimidos, que sempre estarão ameaçados de eventualmente se tornarem opressores.
Eduardo Guimarães
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