quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Com a Mamãe e Papai Noel






Com a chegada do final do ano, das festas natalinas e de ano novo, muitos de nós fazemos balanços existenciais. Do que conquistamos e do que queremos para o próximo período. Nossa sociedade se move assim, criando ritmos e modos de viver que parecem naturais, mas que são socialmente construídos. Anos atrás, Martha Medeiros, colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre/RS, escreveu um texto intitulado Mamãe Noel, onde afirma que Papai Noel não existe porque é homem.

Em Mamãe Noel, Martha, com muito bom humor, retoma a lógica da mulher que conhece brinquedos e lojas e do homem que nem comprar suas meias sabe. O texto é super interessante para as mulheres. Faz-nos rir, inclusive homens, pelo talento de Martha e pelo senso comum impregnado em nossa consciência individual, coletivamente construída. Porém, tenho que discordar de Martha, Papai Noel existe. Ou melhor: momentos como o do Natal são possíveis também porque homens se colocam a tarefa de Noel. Homens também conhecem a Polly, o Max Steel, a Turma da Mônica, e até sabem comprar suas meias.

Aprofundando um pouco mais, entre 1993 e 2007 cresceu em mais de 30% o número de lares classificados como “homens com filhos”, representando 3% do total de famílias brasileiras. Embora, esmagadoramente, sejam as mulheres as responsáveis únicas, cresce também a participação de homens cuidadores tanto individualmente quanto em parceria com a mulher e não só para comprar, mas para levar à pracinha, dar banho, ir à escola e ao médico, etc. O lugar de única capaz do cuidado, inclusive daqueles simbólicos (do universo dos sonhos e desejos), tragicamente é também o lugar da mulher sobrecarregada com o fardo de cuidar dos outros e pouco de si.

Uma contradição já tantas vezes estudada, discutida, e que persiste. E, por outro lado, o do homem como desajeitado, que não sabe cuidar ou, pior, em quem não se pode confiar para o cuidado com crianças, especialmente se pequenas ou meninas, é também trágico: é o da construção da ausência paterna (do pai que não está ou do que está e não se faz presente). Ambas construções, da mulher super (mãe, cuidadora, sábia em relação a criação de filhos) e do homem pouco (pai, cuidador, sábio...) por serem culturalmente construídas, felizmente, podem ser questionadas.

Talvez um exercício interessante neste final de ano seja pensarmos um pouco sobre o quanto realmente nossa mãe, nosso pai, companheiro ou companheira realmente está ausente ou presente e no quanto sabe-faz cuidar de nós mesmos/as e de nossos/as filhos/as. Assim como o quanto deixamos e ajudamos que algo mude ou continue acontecendo.
* José Carlos Sturza de Moraes é cientista social, professor da Escola Técnica José César de Mesquita. Co-autor do livro 'Conselhos Tutelares, impasses e desafios - A experiência de Porto Alegre'

(Envolverde/Pauta Social)


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