quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Os astros brasileiros e a patrulha

Por Carlos Brickmann em 6/10/2009


Como dizia Tom Jobim, no Brasil o sucesso é ofensa pessoal. O meia Kaká, exatamente após ter recebido o troféu de Melhor do Mundo, sofreu violentíssima campanha questionando sua opção religiosa. Rubens Barrichello não é o melhor piloto do mundo (e seria difícil sê-lo, já que em sua carreira na Fórmula 1 topou com adversários como Ayrton Senna e Michael Schumacher), mas é um dos melhores. Uma história engraçada mostra que Rubinho não é o piloto que teve mais segundos lugares: é o segundo. E isso mostra que está entre os corredores de ponta. Mas a imprensa gosta de retratá-lo, de forma até desrespeitosa, como aquilo que também não é, uma tartaruga entre coelhos.

E Pelé, o maior de todos os ídolos? Num discurso em Copenhague, chamou Michael Jordan de Michael Jackson. Patrulheiros jornalistas que não perdoam o apoio de Pelé à realização das Olimpíadas no Rio informaram que o Rei, por causa disso, foi relegado a segundo plano na delegação brasileira que apresentou os planos (afinal vitoriosos) para os Jogos Olímpicos; outros disseram que Pelé "estava ficando gagá". Quando a ministra Dilma Rousseff trocou o nome de um estado, houve piadinhas, claro, mas ninguém a acusou de ser gagá. O exemplo máximo de troca de nomes, o governador paulista André Franco Montoro, referência positiva na política brasileira, é lembrado por sua honradez e capacidade, enquanto as confusões ficam onde devem ficar – no campo das brincadeiras. E Montoro caprichava: durante anos chamou seu assessor de imprensa, Luthero Maynard, de Homero. E daí?

Pelé só não conseguiu realizar um sonho: jogar no Corinthians, o cume da carreira de um jogador de futebol. Quanto ao resto, fez tudo: era veloz, hábil, inteligente, excelente chutador, excelente cabeceador, raciocinava mais depressa do que qualquer outro jogador do mundo. Tinha força física, malícia, personalidade, e muito, muito carisma. Este colunista estava a seu lado, no aeroporto de San Francisco, EUA, quando três rapazes tunisianos, entre seus 17 e 20 anos, pediram para ser fotografados com ele. Pelé jamais jogou na Tunísia. E os três nasceram depois que ele havia deixado o futebol. Mas o trataram como se ele fosse, naquele instante, o melhor jogador do mundo, e atuasse na seleção de seu país.

Talvez seja demais para gente que não pode ver brasileiro vencer, odeia admitir que somos os melhores em alguma coisa, detesta (ou inveja) ídolos. E tem espaço nos meios de comunicação para descarregar todas as amarguras de sua vida.

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