Acreditar na meritocracia pura é como imaginar que tartaruga amputada pode vencer uma corrida contra uma lebre no auge da sua saúde. A imagem é rasteira e de mau gosto. Mas ajuda a perceber que não há muito mérito em vencer uma competição para qual os participantes não tem as mesmas condições de preparação, o que leva uns a largarem quilômetros na frente.
A competição na educação não individual. É social.
O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, falando dos resultados do Enem, botou os pingos no is: “Queremos mostrar que os resultados não são apenas fruto de mérito pessoal, do estudo, mas há componentes sociais fortes. O objetivo não é desqualificar os resultados ou o Enem. É entender como podemos melhorar a escola e o aluno. Quais fatores são internos e externos às escolas? Desigualdade social é externa à escola, tem um peso impressionante e é opressora. Fatores internos têm peso menor, mas papel libertador [podem melhorar a situação do jovem]. Você não consegue assegurar igualdade de oportunidades só pela escola”. O Enem revela o óbvio: quem larga na frente tende a chegar na frente.
Janine, para desgosto da mídia, vai direto ao ponto: “Não podemos culpar o aluno pobre pela nota ruim. Nem considerar que o muito rico alcançou notas altas apenas a partir de seu mérito”. Conclusão: “O mérito maior vem das escolas públicas, simples, que conseguem bons resultados, mesmo com alunos pobres. Não das escolas que selecionam alunos, excluem os que têm problemas ou aliciam bons estudantes de outras escolas para o 3º ano do ensino médio (quando o Enem vale para a nota do colégio)”. A meritocracia é um sistema de hierarquia social pela qual se dá a reprodução da desigualdade. Quem está na frente, larga na frente e tende a chegar na frente, o que fará seus sucessos largarem na frente e assim sucessivamente.
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