André Ferretti, Plurale
"O clima estava morno na primeira semana da 20ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, a COP 20. Essa apatia inicial fez com que alguns participantes antecipassem sua volta aos seus países de origem, mesmo sabendo que a semana principal do evento começaria em 08 de dezembro.
No ano passado, o Brasil havia apresentado uma proposta na COP de Varsóvia no qual defendia que os países apresentassem compromissos em função da sua responsabilidade histórica pelo aumento da temperatura, observado desde a Revolução Industrial até hoje; e sugeria que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) definisse uma metodologia para calcular a taxa a ser utilizada por cada país.
Essa posição é muito similar a que foi apresentada na COP 6, realizada em Haia, na Holanda, em 2000. Naquele tempo, o Brasil tinha a posição firme de defender com unhas e dentes o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Esse foi um ponto apresentado inicialmente pelo Brasil, e que acabou sendo incorporado ao Protocolo de Quioto, criado em 1997 durante a COP 3.
Depois de duas décadas, o que está sendo apresentado em Lima é mais do mesmo, insuficiente para provocar as mudanças necessárias. O Brasil segue com o seu mesmo discurso de que os países do Anexo 1 (os desenvolvidos) do Protocolo de Quioto precisam promover grandes mudanças para que os demais comecem a fazer alguma coisa. O caminho não é bem por aí.
Todo mundo precisa fazer o máximo de esforço possível para que as mudanças ocorram agora. A Convenção do Clima deveria criar uma forma de estimular todo e qualquer esforço positivo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Não dá mais para esperar.
* André Ferretti é gerente de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima. Participou de diversas Conferências das Partes (COPs) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, como da COP 6 em Haia, da COP 7 em Marrakesh, da COP 9 em Milão, da COP 10 em Buenos Aires, da COP 15 em Copenhague, da COP 16 em Cancun, da COP 17 em Durban, da COP 18 em Doha e da COP 19 em Varsóvia.
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