Não há nada na vida do Corinthians que não seja sofrido.
Com nossa casa própria não seria diferente.
Desde Pedro Álvares Cabral até os dias de hoje, todo mundo gozou a vida. Quando chega a nossa vez todo mundo resolveu ser moralista.
Os privilegiados de sempre, que historicamente se apropriaram das riquezas nacionais e jogaram algumas migalhas para o restante da nação, de um dia para o outro se tornaram arautos da correção e da preservação da coisa pública.
Pouco importa que o desenvolvimento econômico e social esteja concentrado em algumas poucas ruas e avenidas de um pedaço pequeno da cidade, frente a enorme periferia entregue ao flagelo.
Sim, ali onde estão os bons bairros da cidade os ricos se apropriaram dos investimentos do Estado. Viadutos, metrô, túneis, universidades, museus, estacionamentos, saneamento básico, praças floridas, calçadas bem cuidadas, faixas de pedestres bem pintadas, iluminação pública, postos da polícia, rondas ostensivas, segurança privada, tudo muito diferente do resto da cidade.
Tudo bem. Não somos contra as ruas bonitas e bem cuidadas. Deixa lá. Está bonito, então tudo bem. Afinal de contas, o povão também trabalha naquele eixo da Vila Olímpia, Brooklin, Itaim, Morumbi, Pinheiros, Paulista. O problema é que a cidade inteira tem que ir e voltar para lá todos os dias. Não por acaso temos um problema tão grande de deslocamento urbano em São Paulo.
Nos prédios modernos da Berrini ou da Faria Lima, trabalham milhares de pessoas. Meia dúzia mora ali nas redondezas. A parte mais privilegiada é claro. De resto, o povão se amontoa nos trens e ônibus lotados. Ou parados dentro do carro na Marginal Tietê, esperando a hora de chegar em casa para descansar um pouco e quem sabe encontrar o filho acordado. No outro dia é a mesma coisa. Bora acordar bem cedo para fazer tudo de novo. Saindo de casa rumo às ilhas de prosperidade. Para trabalhar é claro.
No fim de semana a gente dá um jeito de se divertir. Tá tudo tão caro. Os ônibus mal circulam. Na madrugada então, nem pensar. O jeito é ficar jogando sinuca no boteco da esquina, rezando para não receber a visita de nenhum esquadrão da morte.
Eita, cidade cruel.
Justo na vez do estádio do Coringão em Itaquera todo mundo resolveu bancar o ativista.
E sabe aquele ditado: “Todo mundo vê as pingas que eu tomo, mas ninguém vê os tombos que eu levo?”. É bem por aí. Só Deus sabe como vamos fazer para pagar esse financiamento que, aliás, foi liberado somente no mês passado. O estádio é de primeiro mundo, mas os juros são de terceiro. Cacetada!
Os críticos precisam se decidir. Antes as manchetes diziam que o estádio seria dado de presente. Agora as manchetes dizem que o Corinthians não vai conseguir pagar as prestações e que podemos ser despejados do próprio estádio.
Só falta dizer que quem compra casa financiada pela Caixa e com o dinheiro do Fundo de Garantia está recebendo presente do governo. Atrasa a prestação pra ver o que acontece...
E vai ser do nosso jeito. Sofrido. Tem ainda que dar um acabamento. Depois a gente resolve isso.
Funciona assim, a gente nunca teve porra nenhuma. Agora que conseguimos uma casinha mais ajeitada tem um montão de gente colocando defeito e menosprezando.
Quer saber? Chupa! Não entendeu direito? Então eu repito: CHUPA! Pronto.
Outro dia visitei um apartamento legal que meu amigo comprou. Ao entrar na sala me deparei com um espelho enorme. Ele me explicou que deixando um espelho na entrada o olho gordo também se reflete e volta para quem “lançou”.
Pois bem, poderíamos espelhar o estádio inteiro. Ou pelo menos a entrada.
Chama também uma mãe de santo, um padre e um pastor evangélico.
Faz um jardim bonito e manda plantar arruda e pimenta.
No nosso banheiro que ficou da hora, além do sabonetinho que sai automaticamente da torneira, manda deixar um pouco de sal grosso pra gente se lavar.
Fizemos uma puta casa legal no coração da periferia de São Paulo. Para escandalizar geral. Coisa de pobre? Como disse o Mano Brown, “a questão é que fartura alegra o sofredor”.
E pode chegar com o som alto porque não tem frescura. Se rolar algum show de vez em quando, ninguém vai ligar para o PSIU. A galera da COHAB vai gritar: “aumenta mais o som que é pra nois curtir!”. Esta é uma sociedade viva! Que está experimentado tudo e descobrindo a alegria de viver. Aqui é Corinthians!
Que delícia vai ser ver o meu Corinthians em Itaquera.
http://blogdorafaelcastilho.blogspot.com.br/
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