Brigas entre torcidas devem ser tão antigas quanto o próprio futebol. Mais que a disputa pela vitória, a rivalidade é a alma desse esporte. Um grupo escolhe um time para que ele expresse suas emoções e sentimentos mais primários. Torcer, nesse caso, não significa simplesmente querer que seu time vença. Muitas vezes o jogo é o que menos importa, seu resultado só tem sentido quando o torcedor, tanto da equipe vitoriosa quanto da perdedora, se confronta com o rival.
Quando alguém diz "meu time é melhor que o seu" está, na verdade, dizendo "eu sou melhor que você".
Claro que há quem goste do futebol pelo que ele é em si, um esporte coletivo que exige uma grande dose de talento individual e, ao mesmo tempo, uma ferrenha disciplina coletiva, além de muito preparo físico, concentração e força de vontade.
E porque suas regras são anacrônicas, dependem muito mais da interpretação de uma só pessoa, o desenrolar do jogo acaba se tornando imprevisível, às vezes um carrossel descontrolado de emoções.
O futebol tem o seu charme, é inegável.
Mas ao mesmo tempo ele carrega um lado sombrio, esse das intenções ocultas, das maracutaias de uma cartolagem que usa a extraordinária força do esporte mais popular do mundo em proveito próprio, como uma associação criminosa que age fora da lei.
Por isso não faz bem para a saúde acreditar que o futebol é 100% sério.
Se dá melhor quem o usa simplesmente como uma válvula de escape para o estresse diário - e não como mais um elemento para alimentar esse estresse, como muitos que conheço.
O episódio da batalha campal entre as duas maiores torcidas paulistanas, domingo, poderia ter sido uma lição para as autoridades e para quem se interessa em acabar com essa selvageria.
Infelizmente, pelo que tenho lido, tanto a polícia, quanto os cartolas, quanto os representantes do Judiciário, parecem pouco se importar com o que houve.
A polícia assistiu à guerra como se estivesse apreciando um filme, confortavelmente instalada em suas viaturas. "Éramos poucos para tanta gente", justificaram. Estranho: ninguém sequer se lembrou de pedir reforços. E os policiais estavam escoltando uma das torcidas! Boa proteção que deram...
Os cartolas resolveram proibir a ida dos Gaviões da Fiel e da Mancha Alviverde aos jogos. Como se isso fosse possível. Os torcedores simplesmente deixarão de usar os "uniformes" para ver os jogos. E, outra coisa: como se viu, eles não precisam estar nos estádios para se matar.
Quanto ao Judiciário, de que adianta reclamar das leis "frouxas", "ultrapassadas", se nem essas são cumpridas?
Torcedor que mata outro não é torcedor, é simplesmente um assassino.
Torcedor não é um cidadão diferente do outro e, portanto, não precisa de uma legislação específica.
Como os promotores, os juízes, os desembargadores, os advogados, como todos dizem, a lei deve ser igual para todos.
Infelizmente, inexplicavelmente, ela é diferente, no Brasil, para o torcedor de futebol.
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