terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os bons patrões



Numa sociedade capitalista tudo é movido pelo dinheiro. Você vê uma ação aparentemente altruísta e descompromissada, olha de novo e, pimba! - tem grana no meio.
O apoio incondicional, cego, das empresas de comunicação ao candidato oposicionista José Serra não é por simples identificação ideológica.
Mistura um pouco de tudo: o horror do patronato ao PT, o preconceito contra o "anarfa" migrante nordestino que virou presidente, o medo de que a mobilidade social estrague a "harmonia" que julgam existir na sociedade, o conservadorismo extremado e, last but not least, uma imensa sede pelo lucro.
Pois que a meia dúzia de famílias que controla os meios de comunicação do país acredita que o que vem ganhando nos últimos anos não é suficiente. O grupo quer mais e julga que a volta ao poder dos confiáveis amigos demotucanos afastaria de vez qualquer ameaça de mudança na legislação que pudesse comprometer seus planos.
Por isso essa incessante campanha para transformar a imprensa numa entidade acima do bem e do mal, num poder autônomo, inquestionável, detentor da verdade única, de sentenças definitivas e inapeláveis.
É um jogo pesadíssimo esse que jogam os empresários de comunicação do Brasil, que invocam a todo instante a "liberdade de imprensa" para sufocar as manifestações da sociedade que pretendem levar a democracia também a esse segmento.
Quase nada dessa batalha sangrenta chega ao público. Ele não fica sabendo, por exemplo, que os jornalistas de São Paulo estão há três meses tentando fechar um acordo salarial com os patrões, que não se dispõem nem a repor a inflação acumulada desde o último reajuste, em junho do ano passado - na ocasião, as discussões se estenderam por longos seis meses.
Esse pouco caso do patronato com a categoria que, bem ou mal, produz a matéria-prima de seu negócio, mostra a distância abissal que existe entre o discurso dos empresários, que pregam para os outros - o governo federal, principalmente - uma ética que desprezam solenemente no dia a dia.
Há muito tempo sei, por experiência própria nos quase 40 anos de trabalho profissional, que os empresários de comunicação do Brasil estão entre os mais atrasados que existem.
O que me surpreende, porém, é constatar que, ao contrário de todos os outros, eles não só não evoluem, acompanhando as profundas mudanças no país, mas têm regredido em suas práticas corporativas e sociais.

Crônicas do Motta

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