segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Movimento nos defenda de Higienópolis



  Reportagem da Folha on line diz que moradores do chiquetérrimo Higienópolis estão se mobilizando CONTRA a possível presença de uma estação de metrô no seu bairro, famoso pela diversidade de cachorrinhos de raças exóticas (pugs, chow-chows, scottish terriers e french bulldogs) que esmerdeiam as calçadas e fodem com o nome do aprazível vilarejo.

É, você não leu errado: eles não querem metrô na porta de casa. Metrô tem de passar longe porque atrai muito pobre, camelô, drogado e vagabundo. Afinal, compramos nossos Mercedes, Azeras e BMWs justamente para não dependermos dessas latas de sardinha e nos misturarmos à choldra ignara e seus perfumes baratos.
Não é a primeira vez que isso acontece no planalto paulistano. No também chiquetérrimo Morumbi, as madames subiram em seus saltos sete-e-meio, empunharam suas bolsas Louis Vuitton e foram à luta,impedindo com uma mobilização altaneira a construção da Estação Três Poderes da linha 4. Com isso, ou o empregado doméstico deles desce na estação São Paulo – Morumbi (e toma um busão), ou desce na estação Butantã (e toma um busão), o que resultará num dos trechos mais longos (se não for o MAIS longo) entre estações de todo o metrô paulistano. Eles que acordem mais cedo, oras! Afinal, a Martaxa fez bilhete único e os serviçais podem tomar quantas conduções precisarem para saírem de suas aldeias primitivas e chegarem à civilização.
Alguns viram na mobilização dos quatrocentões do Movimento Defenda Higienópolisdesvalorizará suas residências. IPTU é o de menos, pode-se ajeitar isso com um bom vereador a propor uma desvalorização na PGV da região, baseado em estudos estatísticos confiáveis patrocinados pela Cyrella ou Adolpho Lindemberg. contra a horda de desocupados que o metrô traz em seus vagões apenas uma desculpa para a real preocupação dos bacanas: impedir o aumento do IPTU de suas taperas de 400 m² superpostas. Só quem não conhece SP poderia pensar nessa hipótese:  quando se fala em imóvel aqui na Paulicéia, a palavra associada é “valorização”. E existe um movimento bastante peculiar por aqui: se uma estação é construída perto de um centro comercial ou bairro popular, os imóveis do entorno se valorizam. O mesmo não ocorre nos “redutos dos homens bons”. Portanto, o problema é que eles acham que transporte público degrada o entorno e, por consequência,
Especificamente sobre Higienópolis/Pacaembu, é secular a guerra dos moradores contra o Estádio Paulo Machado de Carvalho, que para eles deveria ser fechado aos fétidos torcedores e destinado exclusivamente para suas caminhadas matinais e, vá lá, a tradicional feira livre da Praça Charles Miller, onde podem adquirir vegetais fresquinhos para o repasto. E, claro, comer pastel. Afinal, todo rico tem de ter umas manias de pobre pra se mostrar enturmado, solidário e galeroso.
É muito provável que a mobilização dos bacanas de Higienópolis seja bem sucedida, a julgar pela experiência exitosa dos colegas do Morumbi e à tradicional sensibilidade dos governantes paulistas às reivindicações dos homens bons da nação.
Roubando o genial Humberto Capellari, humildemente proponho a criação do Movimento nos Defenda de Higienópolis, antes que seja tarde.
Vinícius Duarte, no blog Com Fel e Limão
By: Maria Frô, via Com textolivre

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