Pais de alunos em Jundiaí pedem ao MP recolhimento de livro com conto erótico
“Eles são burros porque não estão vendo a realidade”, afirma o escritor Ignácio de Loyola Brandão. Ele se refere a um grupo de pais em Jundiaí que pediu ao Ministério Público o recolhimento do livro “Cem melhores contos brasileiros do século”, distribuído em escolas da rede pública. Eles alegam que o conto “Obscenidades para uma dona de casa”, escrito por Brandão, é inapropriado para alunos do ensino médio.
Segundo Gilberto Aparecido da Rosa, pai de duas adolescentes gêmeas de 17 anos, a linguagem do conto “é muito chula para os padrões acadêmicos”. “Acho que os jovens não mereceriam receber uma linguagem dessas dentro das escolas”, afirma.
Brandão diz que esse tipo de abordagem em relação ao livro não é novidade. “Já aconteceu em Jundiaí, já aconteceu em Piracicaba, já aconteceu em Avaré, já aconteceu em Santos”, enumera. “É um livro distribuído para a rede estadual, foi a Secretaria de Educação que escolheu”.
O conto, que foi publicado pela primeira vez em 1983 na revista “Ele & Ela”, narra a história de uma mulher que recebe cartas de um desconhecido, e é baseado em uma história real, que teria acontecido com uma vizinha do escritor.
Sem obscenidades
Para ele, o texto, que já foi publicado em dez línguas e virou vídeo e monólogo teatral, não é obsceno. “Ele é erótico, é sensual, mas é poético. Já foi tema até de vestibular! Não existe obscenidade na arte, a não ser quando ela é pornográfica, e isso é a última coisa que o conto é”, afirma.
Irônico, Brandão agradece aos pais “por terem chamado a atenção para uma obra de arte” e diz não se preocupar com os processos. “Acho que vou ser preso”, brinca. “Estou absolutamente tranquilo. Faço literatura e vou continuar a fazer. Se eu me preocupasse com isso não escrevia nenhuma linha”.
Obra poética de Ignácio de Loyola Brandão para uso dos adolescentes de SP |
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