O que está em cartaz hoje, na mídia, é caso “Bruno-goleiro”. E por mais que o evite, este circo de horrores insiste em invadir meu dia-a-dia. Nos últimos jogos da Copa, por exemplo, o narrador repetia a cada 5 minutos: “Não perca hoje – logo mais, depois do jogo – Datena trazendo novas revelações do caso Bruno”.
E as manchetes escancaradas por toda parte também não dão trégua. Desesperados para salvarem seus empregos e o negócio dos patrões da decadência irreversível, os editores deste “jornalismo” vagabundo agradecem aos céus por receberem o prato cheio que lhes garante uma semana de audiência. Porque, ao contrário dos casos de anônimos, o caso Bruno-goleiro é “filé”.
Passei os olhos em algumas manchetes, ouvi frases soltas aqui e ali e isso me bastou para entender o que a moça sofreu na mão desses marmanjos e quais foram os motivos dessa insanidade. É uma repetição de outros casos “filé” que nem vou perder tempo em citar. Qualquer um de nós, sem muito esforço, lembrará de vários. É sempre o mesmo: mulher emboscada por um “valentão” é estuprada e assassinada covardemente.
Não tenho o estômago nem a curiosidade mórbida de acompanhar os detalhes, servidos em capítulos diários, dessa obscenidade insaciável. Casos como este acontecem às pencas no Brasil. E quando envolvem ou “fabricam” famosos, sempre apresentam os tais especialistas nisso e naquilo, alertando que “é preciso fazer isso e aquilo”… Nada muda. Nunca muda. (Neste exato momento em que você me lê, algum animal da raça humana, em algum lugar do Brasil, está agredindo ou matando uma mulher. Leia-se isso no plural…)
Os réus de crimes hediondos permanecem absolutamente impunes em nosso país. Mesmo julgados, condenados e soltos depois de cumprirem suas penas. É inaceitável que o sujeito tire a vida de uma mulher ou de uma criança, cumpra 1/5 da pena máxima (na prática, 6 anos contados a partir da data em que foi preso) e, depois disso, volte a ser um cidadão comum, livre, com a “dívida paga” à sociedade! Seus amigos o recebem com tapinhas nas costas e lá vai ele atrás de outro “rabo de saia”. E não hesitará em reincidir, já que vivemos numa sociedade patriarcal com um judiciário cheirando a mofo.
A quem queremos enganar? Sabemos o que deve ser feito. E pior: sabemos que é pouco provável que seja feito. As leis são uma piada e o castigo, moleza. Nossa impotência cresce na mesma medida de nossa tolerância. Vivemos anestesiados pelo medo crescente e pela realidade do mundo cão que bate à nossa porta através da TV.
Devemos exigir que mudem as leis que praticamente perdoam esses psicopatas. Urgentemente. Definitivamente. Devemos exigir que Dilma Rousseff se comprometa a não descansar até mudar a legislação sobre estes crimes. Ou a vitória do povo não será completa.
Não peço isso ao Serra por dois motivos:
1- Mesmo que jure mudar as leis, mentirá, como é do seu feitio. (É capaz de furtar o crédito da lei já na próxima campanha eleitoral).
2 – É apoiado pela mídia que deu suporte à ditadura e seus torturadores. E as únicas ações autênticas do seu governo foram descer o cacete nos professores durante a “greve do vale-coxinha” e na população da zona leste de São Paulo que protestava contra seu descaso nas enchentes que deixaram um saldo de 78 mortos.
Mas Dilma – como a primeira mulher a chegar à presidência deste país, e por tudo que passou na juventude – tem a grande chance de abraçar esta causa e cumprí-la. Não nos interessa se não será de sua alçada. Que exija da alçada de quem for. Não é possível que um governo que realizou tantas mudanças importantes no país, seja incapaz de reformar as leis que estimulam estes canalhas a agredirem e matarem mulheres e crianças.
Que mudem as leis e suas brechas. Que revoguem todos os atalhos de jurisprudência usados pelos advogados para livrarem seus clientes assassinos. Que os condenados a 30 anos cumpram sua pena integralmente. Que os culpados por crimes hediondos, sejam primários ou não, recebam a pena de prisão perpétua. Que as prisões não sejam jaulas lotadas de animais comendo, dormindo e defecando às custas do estado. Que sejam locais onde os presos devem trabalhar para pagar sua estadia na prisão. Colônias agrícolas, fábricas, coisas assim.
Mudar as leis e construir prisões adequadas custa muitíssimo menos que construir uma hidrelétrica. Reunir juristas dispostos a debruçar sobre essa questão não deve ser tarefa tão complexa. E mesmo que seja, até quando vamos esperar para iniciá-la? Minha filha, tua irmã, a mãe dele; nossas amigas, vossas esposas e as crianças deles – não podem mais esperar!
By: O que será que me dá?, via Com textolivre
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