Texto enviado pelo seguidor: Rui Alves Grilo
Curiosa a maneira como os governantes de nosso país, de nossos estados e municípios utilizam o termo “política”.
Os jornais de São Paulo — como tantos outros pelo país todo — têm publicado declarações dos coronéis da nação referindo-se às greves como “greve política”. Ao fazerem tais declarações, se queixam de que essas greves sempre aconteçam em ano eleitoral, ao mesmo tempo em que jamais reconhecem a verdadeira extensão da adesão de profissionais envolvidos nos movimentos reivindicatórios, sempre alegando baixa adesão (no caso da greve dos professores paulistas, por exemplo, os governantes têm afirmado que apenas 1% das escolas foram afetadas pelo movimento, enquanto que a realidade está demonstrando que mais de 60% das escolas estão total ou parcialmente paralisadas).
Hoje mesmo estamos passando por um momento em que esse tipo de “fenômeno” se repete.
Os educadores da rede estadual de São Paulo estão em greve. Professores, diretores de escola e supervisores deflagraram uma grave que reivindica melhores salários, melhores condições de trabalho e melhor qualidade da Educação.
Para o governador José Serra, e toda sua falange de pupilos neoliberais, a greve é política.
Oras, dizer que uma greve é política equivale a dizer que “o açúcar é doce” ou “o sal é salgado”. Afinal de contas, como poderia uma grave não ser política?
A maneira como se dão as relações entre os funcionários públicos — neste caso os professores, diretores de escola e supervisores educacionais — e seu “patrão” — no caso o estado de Sâo Paulo, representado pelo seu governo atual, exercido pelo mandato de José Serra —, configura uma relação política, seja quando há greve, seja quando não há, da mesma maneira como ocorre entre o0s patrões da iniciativa privada e seus trabalhadores.
Originalmente, a palavra política deriva do gregopolitikós, e tem a ver com tudo quanto diga respeito aos cidadãos e ao governo. De acordo com os professores Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, “a filosofia política é assim a análise filosófica da relação entre os cidadãos e a sociedade, as formas de poder e as condições em que este se exerce, os sistemas de governo e a natureza, a validade e a justificação das decisões políticas.” (Dicionário Básico de Filosofia, p. 215, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001 — grifos meus)
As reivindicações, que levaram à greve os professores, diretores de escolas e supervisores da rede estadual de Educação, estão diretamente relacionadas às formas de poder e às condições em que este se exerce. Alguém tem alguma dúvida em relação a isso?
Entretanto, como em nosso país a palavra política, no senso comum e na voz do povo, se relaciona aos políticos — que exercem o poder de governo —, sua acepção se reveste de uma significação negativa. É juízo geral que “político não presta”, devido ao exemplo que os representantes dos poderes legislativo e executivo nos têm legado. Por isso, dizer que uma atividade, um fenômeno ou um acontecimento qualquer “é político”, praticamente significa dizer que tal atividade, fenômeno ou acontecimento “não preste”.
Mas é preciso que se supere tal paradigma. Afinal de contas, o senso comum, apesar de muito sábio no que diz respeito aos políticos brasileiro, não representa o significado preciso (original) da palavra política. Se a maioria de nossos políticos “não presta”, não significa que a greve, por “ser política”, também não preste.
Quanto às decisões tomadas por um e outro lado no movimento reivindicatório dos educadores vale destacar que o governo paulista, formado pelos políticos do estado de São Paulo, está se recusando ao diálogo e à negociação, fazendo jus à acepção popular do termo “política”.
Por outro lado, a greve dos educadores, deflagrada neste ano eleitoral, por ser política, no sentido grego do verbete, reflete sabedoria por parte de seus organizadores, já que coloca “em xeque” as decisões dos políticos que representam o poder que se exerce sobre os cidadãos e a sociedade.
Cabe à sociedade tomar cuidado ao eleger quem presta e quem não presta! Afinal, a greve é um movimento deflagrado pelos educadores, ao passo que as críticas têm vindo dos “políticos” do governo.
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