sábado, 20 de março de 2010

Política suicida



Quantas vezes você pode gritar “anti-semitismo” e ser levado a sério? Há um país no mundo que, ao longo das décadas, tem constantemente – através de administrações democratas e republicanas – apoiado Israel, desde sua fundação depois da Segunda Guerra até os dias de hoje, ao longo de duas guerras entre árabes e judeus, em 1948 e 1967, e incessantes hostilidades.

Os Estados Unidos têm sido a garantia moral, econômica e militar da inviolabilidade do estado judeu.

Tal garantia foi mais uma vez reiterada na semana passada durante a visita do Vice-Presidente americano Joe Biden a Israel. Mas, no dia mesmo em que Biden proclamava a “indestrutível” lealdade dos Estados Unidos a Israel e dizia que “ninguém precisa ser judeu para ser sionista”, recebeu uma simbólica bofetada na face quando o governo de Benjamin Netanyahu anunciou que faria mais 1.600 “assentamentos” na Jerusalém Leste.

Os contínuos “assentamentos” de Israel são nada mais nada menos do que a paulatina e inexorável anexação de terras palestinas, de terras que não pertencem a Israel.

No meio da nova confusão chegou o presidente brasileiro Lula, cuja presença foi ignorada pela imprensa internacional, por ser irrelevante para qualquer solução a curto e a médio prazos.

A curto e a médio prazos o único país que realmente conta são os Estados Unidos, que, ao fim e ao cabo, subvencionam as irresponsáveis empreitadas de Israel através de uma subvenção anual de três e meio bilhões de dólares, além de “empréstimos garantidos” de mais dois bilhões.

Aí fica mais claro ainda o insulto do governo Netanyahu ao governo Obama. Israel está cuspindo no prato onde come, mordendo a mão que o protege. Foi também sintomática a charge em que um jornal israelense mostrou Netanyahu num caldeirão, levado ao fogo por Obama. Anti-semitismo? Que tal falarmos em preconceito de cor, pois havia uma clara insinuação de que um negro canibal, como na suposta África de outrora, cozinhava um branco para seu jantar?

A longo prazo – quem sabe? – a iniciativa do Itamaraty de tentar desempenhar um papel no conflito no Oriente Médio talvez dê frutos. Pois é possível – mais do que possível – que os dias em que os Estados Unidos desempenham uma inquestionável liderança econômica e militar no mundo cheguem ao fim.

Aí dificilmente Israel encontrará, seja na China, na Índia, na Indonésia ou no Brasil um aliado tão disposto a aturar seus excessos quanto os Estados Unidos.

José Inácio Werneck - Bristol, EUA
By: Página Um

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