quinta-feira, 4 de março de 2010

Quem é a Devassa?


Foi um massacre a reação da mídia contra a decisão do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) de suspender a exibição de propaganda da cervejaria Schincariol que se utilizou da bombshell Paris Hilton para promover o lançamento de sua cerveja batizada como “Devassa”.

Nos jornais e em dezenas de sites e blogs ligados aos grandes meios de comunicação, a reação foi de uma ironia uníssona por conta de uma medida tida como “moralista”. Os tantos textos nesse sentido parecem ter sido escritos todos pela mesma pessoa.

A tese pseudo liberal seria a de que em um país de sensualidade marcada de suas mulheres e no qual várias outras propagandas de cerveja apelam para a sensualidade mostrando mulheres de “fio-dental” na praia, seria ridículo proibir a propaganda da cerveja Devassa por conta das poses sensuais de Paris em um comportado “tubinho” preto.

O Conar deliberou nesse sentido por moto próprio e também sob denúncias de consumidores e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, órgão do governo vinculado à Presidência da República. Ter um órgão do governo Lula vinculado à decisão do órgão regulador gerido pelo setor publicitário foi o que bastou para começar a gritaria midiática sobre “censura”.

Particularmente, sou contra o moralismo. E se, de fato, formos analisar a indumentária de Paris Hilton na propaganda proibida, veremos que, em termos de permissividade, nem se compara aos trajes de praia das propagandas das outras cervejarias, as quais encasquetaram que devem associar o consumo de álcool a jovens saudáveis e de corpos “sarados” divertindo-se saudavelmente na praia.

Contudo, a meu ver é escandalosamente claro que a propaganda da Schincariol é mais inaceitável do que as outras. Apesar de ser absurdo associar jovens saudáveis a consumo de álcool, isso vem sendo feito de forma a não denegrir grupos sociais ou de gênero. Jovens usarem roupa de banho na praia é um comportamento absolutamente normal. Exaltar a devassidão de uma mulher, não.

Uma mulher devassa é uma mulher libertina. Conforme explica o Houaiss, libertino é aquele que leva uma vida dissoluta, que se entrega imoderadamente aos prazeres do sexo, que revela irreverência a regras e dogmas estabelecidos, especialmente à religião e à prática desta, que não tem disciplina e que negligencia deveres e obrigações.

Quando uma propaganda de cerveja diz que a Juliana Paes é “boa”, é por ela ser bonita. E quando a exibe na praia em trajes que qualquer moça de vida regrada usa, não vejo estímulo a comportamentos degradantes como o da foto acima, feita no âmbito da campanha publicitária em que logo em seu lançamento a protagonista fica “de quatro” em uma festa com uma lata de cerveja na mão.

Essa gritaria midiática contra uma medida correta de proteção à imagem da mulher e contrária ao estímulo a comportamentos degradantes como a devassidão pode até ser prestação de serviço à cervejaria que fez a propaganda. Contudo, o fato de se poder usar a decisão do Conar para atacar mais um pouquinho o governo, deve ter pesado muito.

Convenhamos: se existe alguma devassa nessa história é essa mídia que só pensa “naquilo” – em atacar este governo por qualquer meio possível e imaginável.

Escrito por Eduardo Guimarães

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