por Luiz Carlos Azenha
Confesso antecipadamente a minha incapacidade para a análise política. Costumo errar grosseiramente sempre que faço previsões. Alguns leitores reclamam que eu deveria escrever mais, quando opto por escrever menos diante de minha crescente incapacidade. Aquela história de que sei cada vez menos se aplica. Porém, gosto de observar a integração de novas tecnologias ao dia-a-dia das pessoas. Fiquei agradavelmente surpreso com as observações instigantes do Cristóvão Feil a respeito da relação entre os tolos e os gadgets. Estão aqui.
Estive entre os que criticaram o senador Aloízio Mercadante no episódio das denúncias envolvendo o senador José Sarney, quando o petista ameaçou roer a corda sob aparente pressão de seguidores dele no Twitter. Mercadante, em minha opinião, confundiu as bolas. Confundiu a opinião pública com a opinião dos seguidores dele no Twitter. Confundiu o espaço público, em que ele deve satisfação não só aos que o elegeram, mas também àqueles que como ele foram investidos de cargos parlamentares, com o espaço digital que ele divide com gente que não tem necessariamente compromisso com a coalizão governista, o Parlamento ou a opinião pública como um todo.
Meu ponto é que fazer política via Twitter degrada a representação parlamentar. Uma coisa é você usar o Twitter como uma ferramenta, propagar através dela seus textos, anunciar viagens e coisas do gênero. Outra coisa é usar o Twitter para anunciar renúncias, declarar votos, rompimentos partidários. É como se a política fosse sequestrada e se tornasse privilégio de um grupo de insiders, de eleitos. É uma espécie de pedágio: siga-me no Twitter e eu te darei acesso à minha intimidade (espero que o governador Serra não aplique esse meu "pedágio" literalmente).
Não estranho, pois, que o Twitter seja uma grande ferramenta para nosso trio de intelectuais: Bonner, Tas e Huck. O que eles tem a nos dizer cabe facilmente em 140 caracteres. Mas que o senador Aloizio Mercadante ou o governador José Serra acreditem sinceramente que podem legislar ou governar através do Twitter... é triste, ou cômico, ou reflexivo da pequena margem de manobra que sobrou para nossos representantes diante do grande poder dos conglomerados econômicos na nossa democracia.
Para o governador Serra, deve servir de alívio o fato de que o Twitter é coisa da classe média branca, ou quase só dela. Não corre o risco de receber uma resposta mal educada de um morador do Jardim Romano quando, de madrugada, Serra se espantar com a quantidade de chuva que anda caindo em São Paulo.Como se sabe, durante a madrugada Serra deixa de ser governador. Ele cumpre jornada do meio-dia à meia-noite. Depois, vão reclamar ao bispo. Serra, de madrugada, é exclusivo do Twitter. Escolhe as informações que quer "dividir" com seus seguidores. Trata-se do mesmo governador que comanda o DAEE, que se nega a responder às perguntas da repórter Conceição Lemes sobre a limpeza da calha do rio Tietê.
O uso do Twitter, nesse caso, parece transparência. Parece. Mas trata-se, na verdade, de puro e simples gerenciamento da desinformação.
Comentário do Aguinaldo: Se alguém me dissesse que Twitter é alguma marca de chocolate, salgadinho ou absorvente destinado ao público teen da classe média, eu acreditaria. No mais, deve ser gostoso ficar de madrugada tuitando com aquele sonzinho gostoso da chucava caindo no telhado do palácio, não?
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