Claro que a resposta à pergunta acima é não. Mas muito do que ele escreveu mostra que a “inovadora economia colaborativa” pode assumir formas de exploração bem antigas.
No artigo “Capitalismoem tempos de uberização: do emprego ao trabalho”, Virgínia Fontes lembra o pagamento de salários por “peças”, muito comum no século 19. Nele, a remuneração do trabalhador depende não de sua jornada, mas de sua produção.
Em uma nota de rodapé, o texto cita trechos de “O Capital”:
Dado o salário por peça, é naturalmente do interesse pessoal do trabalhador aplicar sua força de trabalho o mais intensamente possível, o que facilita ao capitalista elevar o grau normal de intensidade. Do mesmo modo, é interesse pessoal do trabalhador prolongar a jornada de trabalho. (...) Mas a maior liberdade que o salário por peça oferece à individualidade tende a desenvolver, por um lado, a individualidade e, com ela o sentimento de liberdade, a independência e autocontrole dos trabalhadores. Por outro lado, a concorrência entre eles e de uns contra os outros.
Mas no caso da Uber, quem seria o patrão? Os próprios motoristas, diriam seus defensores. Afinal, eles seriam donos de seus meios de produção.
O problema é que os automóveis só se tornam meios de produção quando acionados pela Uber. E mesmo assim, o “apurado” final ainda precisa ser dividido com outros “parceiros”: cartões de crédito, locadoras de automóveis, empresas de telefonia, seguradoras, planos de saúde e montadoras de automóveis.
O salário “por peça” só perdeu espaço quando os trabalhadores conquistaram direitos através de muita luta. Mas luta contra os patrões, não entre eles.
https://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/08/teria-marx-previsto-o-uber.html
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