Tem-se um país pronto para alçar voo, com uma sociedade civil complexa, estrutura universitária, de pesquisas, grandes empresas, diversidade regional, mercado de capitais, múltiplas vocações econômicas.
Mas há um vácuo político e uma imprevisibilidade total sobre os desdobramentos da crise.
* * *
Vamos a uma análise dos principais personagens:
Fernando Henrique Cardoso — ainda é o principal mentor dos grupos de oposição. Mas seu único objetivo é a revanche com Lula. O resto — país, PSDB, aliados — que exploda.
Lula — entrou na chamada sinuca de bico. Tem que preservar Dilma e o PT, mas, ao mesmo tempo, teme afundar com ambos. Sua decantada intuição travou.
PT — desde a prisão dos principais líderes, uma militância sem comando. com os parlamentares votando sistematicamente contra bandeiras que levantou um dia. A única bandeira capaz de unir a todos é a perspectiva de um impeachment de Dilma.
PSDB — não existe mais como partido. Tem votado sistematicamente contra o rigor fiscal e contra um conjunto de leis que ele próprio patrocinou. Há um grupo com articulação com mídia e empresariado (FHC-Serra), um governador que tenta se articular, mas sem possuir familiaridade para os grandes arranjos políticos (Geraldo Alckmin) e um garotão sem noção (Aécio). Debaixo deles, um bando de tresloucados.
Aécio Neves — colocado na linha de frente por FHC para o chamado fogo de exaustão no governo Dilma desgastou-se sozinho. É figura descartável, assim que formar-se um consenso sobre os rumos da crise.
PMDB — os presidentes da Câmara e do Senado precisam acumular poder para escapar do risco de prisão. Ou sentam no trono ou vão para o calabouço. A única âncora de bom senso é o vice-presidente Michel Temer.
Grupos de mídia — a palavra de ordem é impeachment, e se colocam todos a produzir clima para tal. A ponte quebrou, exageramos, e toca a produzir artigos de bom senso relativo. Todos disciplinadamente andando em manada ao sabor da falta de rumo.
Presidência da República — poucas vezes na história se teve uma quadra tão medíocre e sem noção. Dilma só se valeu da palavra de presidente para defender a si própria das insinuações e dos abusos do inquérito. Não montou nenhuma estratégia consistente para poupar a economia dos reflexos da Lava Jato, nem se abriu para fora do seu gabinete, para preparar projetos minimamente articulados com a opinião pública.
Procurador Geral da República — hoje em dia, qualquer réu pode acertar contas com qualquer adversário. Basta tornar-se delator e mencionar o nome do desafeto em um interrogatório. Os bravos procuradores e delegados da Lava Jato se encarregarão de levar para a mídia. Foi necessário o Ministro Teori Zavascki chamar os procuradores à razão, para o PGR agir.
STF (Supremo Tribunal Federal) — só tem dois Ministros com coragem de investir contra as ondas: Marco Aurélio Mello, e sua tradição de remar contra a corrente; e Gilmar Mendes, e sua tradição de atuar de forma vergonhosamente partidária.
Grupos econômicos — o “road show” de Dilma nos EUA mostrou que ruim com ela, pior sem ela, péssimo com o impeachment. Mas, sem Dilma apresentar um projeto consistente, ficam ao sabor das manchetes.
Repito: quem disser que sabe o que sairá dessa miscelânea estará mentindo.
Luís Nassif
No GGN via: http://www.contextolivre.com.br/2015/07/o-sanatorio-geral-da-politica.html
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