Corrupção na Fifa: Entenda por que o silêncio de Ronaldo e Pelé está ligado a J. Hawilla e aos EUA, país que lidera investigações
No país do futebol, não são poucos os brasileiros que se questionam sobre o silêncio de grandes ídolos da bola, como os ex-jogadores Ronaldo Fenômeno e Pelé acerca do escândalo de corrupção na Fifa. Uma rápida busca nas redes sociais permite ver que a demanda por uma palavra deles existe. Porém, a expectativa não deve ser atendida por pelo menos dois motivos: José Hawilla e os Estados Unidos.
Citado pela Justiça norte-americana como um delator no processo que investiga o pagamento de propinas a cartolas nos últimos 24 anos, o empresário brasileiro J. Hawilla possui conexões com os principais dirigentes do futebol nacional há décadas. Ele intermediou negócios da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no auge da era Ricardo Teixeira. A empresa fundada por ele, a Traffic, comandou diversas negociações, de direitos de transmissão a jogadores.
A ligação com Hawilla fez do empresário Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo,o primeiro alvo de buscas por parte da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), na quarta-feira (27), no Rio de Janeiro. As autoridades brasileiras participam do esforço concentrado que, além dos EUA, ainda possui um braço investigatório na Suíça – este apurando mais precisamente os processos das escolhas das Copas do Mundo de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar).
Tanto Ronaldo quanto Pelé possuem conexões antigas com Hawilla. O primeiro projeto do Fenômeno na área de comunicação, em 2002 – a compra dos direitos de transmissão do Campeonato Espanhol pela Rede Bandeirantes – aconteceu em uma parceria com a Traffic. Na época, Kleber Leite (então vice-presidente da empresa de Hawilla) disse ao jornal Folha de S. Paulo que a “intenção é fazer com que o brasileiro possa assistir ao maior jogador da atualidade todos os domingos”. Ronaldo integrava o time galáctico do Real Madrid na ocasião.
Posteriormente, a Traffic chegou a ter algumas disputas de mercado com a 9ine, empresa que o Fenômeno abriu para atuar no mercado do marketing esportivo – uma delas no Flamengo, como noticiou o Lance! em 2011. Apenas um ano antes, em uma festa que comemorou os 30 anos de atuação da Traffic no mercado, Hawilla reuniu a nata do futebol nacional – incluindo Ronaldo, Pelé e Ricardo Teixeira –, mostrando ao mundo por que era tido como "dono do futebol brasileiro".
Hawilla se afastou dos negócios e se mudou para os EUA em 2013. Lá, passou a ser figura importante na NASL, sendo dono inclusive de alguns times da liga que é uma espécie de segunda divisão do futebol americano. Em dezembro de 2014, Ronaldo adquiriu uma participação no Fort Lauderdale Strikers, time adquirido quatro meses antes por um grupo de empresários brasileiros da Traffic – que ainda detém o Carolina RailHawks.
A sociedade indireta entre Ronaldo e Hawilla no futebol dos EUA também atinge, em menor grau, o Rei Pelé. Enquanto explodia o escândalo da Fifa, com prisões em um hotel de luxo de Zurique – incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin –,Pelé estava em Nova York. Lá o maior jogador de futebol de todos os tempos fez história com o New York Cosmos, clube com o qual mantém relações (emocionais e econômicas) até hoje. Pelé inclusive irá com a delegação da equipe para Cuba, onde um jogo amistoso entre o Cosmos e a seleção cubana será realizado no dia 2 de junho.
Os dados disponíveis até o momento em torno das investigações nos EUA não implicam o nome de Ronaldo ou de Pelé em irregularidades. Possivelmente isso nem venha a ocorrer. O mesmo não pode ser dito da Traffic e da própria NASL. O executivo Aaron Davidson, ex-presidente dos Strikers, atual presidente dos RailHawks e da Traffic nos EUA, é um dos executivos da Fifa denunciados pelas autoridades americanas. Para tentar conter a crise, a NASL e seus executivos suspenderam Davidson e também os negócios com a firma de Hawilla.
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