O Brasil completou em 15 de maço um período de 30 anos de democracia, após o fim melancólico da ditadura militar em 1985.
Neste espaço de tempo o país saiu de uma penosa crise econômica e social, para incluir dezenas de milhões na sociedade de consumo e abrir as portas de oportunidades de estudo e de trabalho, com mais renda, para muitos cidadãos invisíveis.
Esta transformação se deu de maneira lenta e com pequenos retrocessos nos anos 1990. A maior velocidade destas mudanças na paisagem social ocorreu a partir dos governos petistas, apesar de no momento, o Brasil estar passando por uma crise econômica de difícil resolução, reflexo da estagnação da economia mundial.
O fato é que em 30 anos as estruturas políticas de representação pouco mudaram. Os principais partidos políticos são quase todos os mesmos.
Os personagens que desfilam nos palácios pouco mudaram.
As experiências de poder desfiguraram os partidos que lá chegaram.
Podemos considerar que hoje (r)existem três grandes partidos: O PMDB, uma agremiação criada artificialmente no sistema bi partidário editado pela ditadura, para aglutinar quem se opunha aos militares; o PT, o maior partido orgânico e de bases de nossa história; e o PSDB, o principal representante do pensamento liberal/conservador atualmente.
PMDB: de resistência à ditadura ao fisiologismo
O PMDB perdeu quadros importantes, tanto a direita, quanto a esquerda, com a redemocratização. Configurou-se em um partido de centro, de composição de governos federais, como o PT, ou com o PSDB. O PMDB é um arco de representação política dos mais variados matizes ideológicos. Vai da esquerda, minoria, passando pela maioria de centro e que lhe dá maior identificação, até chegar aos representantes do atraso reacionário. Mas principalmente tornou-se, após o governo José Sarney, em fiador de governos no Congresso, a base de apoios locais e nacos do poder nos ministérios.
PSDB: de pretensões sociais até tornar-se bastião do conservadorismo
O PSDB que nasceu social democrata, que pretendia agregar uma esquerda pretensa moderna, à parte do marxismo, e grupos políticos ligados ao empresariado, transformou-se, ao longo de seus quase 30 anos, em um arcabouço conservador e sede do empresariado mais reacionário e irresponsável. Suas teses aceitam desde propostas racistas e sexistas, latifundiários e a abertura total do mercado. Propostas muito distintas de sua carta de fundação.
PT: do berço sindical ao pragmatismo político
O PT que surgiu no berço sindical do país, o ABC paulista, que cunhou (talvez a melhor afirmação seja dizer que foi cunhado por) uma das maiores figuras políticas da história brasileira e seu fundador, Lula, construiu as bases para a chegada da esquerda ao poder em prefeituras, governos estaduais e a sua própria chegada ao poder, 22 anos após sua criação.
A CUT, maior central sindical da América Latina, e o MST são resultados da organização social das bases sociais do partido.
Mas o PT, que em sua gênese surge como propagador do socialismo, hoje pode ser enxergado como uma agremiação de centro-esquerda, que aboliu o termo socialismo de sua certidão de nascimento.
O PT é hoje, aos 35 anos, o que o PSDB pretendia ser quando foi fundado no final dos anos 1980.
A crise é para todos
Não há quem escape desta crise de representação, que atinge em cheio as identidades partidárias. O PSOL, uma dissidência do PT surgida no primeiro governo Lula, que se auto intitula um “partido diferente”, teve eleito em sua bancada federal, um fundamentalista religioso e fã de Jair Bolsonaro, ícone da intolerância, o deputado Cabo Daciolo. Governa uma capital no norte do Brasil, em aliança com o PSDB e o DEM, que é espectro da Arena.
A Rede Sustentabilidade, partido apolítico(?), criado por Marina Silva, ex-PT, ex-PV e ex-PSB, já nasceu fragmentado, com integrantes deixando seus quadros, pela esquerda e pela direita.
Velhos alicerces e novas demandas não combinam
Os principais partidos políticos perdem identidade, mas ganham adesões, muitas delas fisiológicas, e aprofundam uma crise que é presente e aponta para mudanças drásticas nas estruturas que ainda vigem. Os novos partidos políticos que surgem evitam o prefixo “partido” e se apresentam como federações de movimentos políticos dispersos, que tentam refletir sentimentos comuns da sociedade.
O fato é que os alicerces estão envelhecidos, pouco representam setores descontentes da sociedade, que são cada vez maiores.
Mesmo o PT, de ainda sólidas bases sociais, sofre desta crise, após a invasão de quadros que pregam o pragmatismo e a governabilidade sobre sua personalidade política. Como compreender, por exemplo, que figuras como Vacarezza e Maria do Rosário, de distinção abissais em suas visões de mundo e de fazer política, estejam abrigados na mesma legenda?
O esgotamento dos partidos políticos e de seus discursos em busca de adesão, são também causadores das vicissitudes do sistema político.
A Reforma política não será bem construída e implementada por partidos políticos fragilizados e hermeticamente fechados às mudanças que rondam, não somente as ruas, mas corações e mentes de considerável parte da sociedade. Analisar caminhos viáveis de transformação dos partidos políticos não é o objetivo aqui, mas mostrar que não se pode mais ignorar tal enrascada.
No final das contas, movimentos dispersos oportunistas ameaçam a nossa jovem democracia, avançando sobre os direitos da maioria desorganizada e à espreita para esmagar minorias. Sem democracia plena voltaremos a um espiral de crises que a nossa história comprova.
Não há soluções individuais e inventadas, Collor foi um nefasto exemplo desse tipo de artifício. Afirmando o óbvio, a construção é coletiva, plural, democrática enfim, com estruturas ágeis para apreciar e deliberar, povoado por grupos sociais, razoavelmente organizados, com interesses comuns e abertos ao diálogo e ao debate com outros grupos organizados.
https://blogpalavrasdiversas.wordpress.com/2015/03/28/crise-politica-novas-demandas-e-estruturas-envelhecidas/
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