quinta-feira, 18 de junho de 2015

A inquisição política-social avança a passos largos

Eduardo Cunha é o nome a frente da onda conservadora, mas os interesses e patrocinadores do conservadorismo radical se escondem na mídia, na oposição e na sociedade...
Eduardo Cunha é o nome a frente da onda conservadora, mas os interesses e patrocinadores do conservadorismo radical se escondem na mídia, na oposição e na sociedade…
O momento é delicado e é preciso reafirmar que o país vive uma ofensiva conservadora, só comparável ao período que antecedeu ao golpe militar de 1964, depois sabemos no que deu.
A aprovação da redução da maioridade penal para 16 anos, em uma comissão especial da Câmara Federal, não é um fato isolado. Tem fortes laços políticos com outros ataques a liberdade de expressão e aos direitos do trabalhador. Na verdade, se constituem em uma agenda, muito bem desencadeada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha do PMDB/RJ, e seus aliados no Senado e na sociedade civil.
A mídia serve o banquete indigesto do conservadorismo radical a sua audiência, diariamente.
Aliás, o serviço prestado pela grande imprensa foi diretamente responsável pela eleição mais esquizofrênica dos últimos 54 anos. Elegeu-se um governo, de forte viés social, mas foi entregue a este mesmo governo um Congresso reacionário, considerado o mais conservador desde as eleições de 1960!
Este desequilíbrio na contabilidade eleitoral no plenário do parlamento e nos interesses dos eleitos, constituiu um quadro de ingovernabilidade, em que, a revelia do governo, empossado pela vontade da maioria do povo, é o parlamento quem dita quais matérias são as mais importantes e urgentes.
Em pouco mais de cinco meses, Cunha avançou sobre os direitos dos trabalhadores, com a PEC da Terceirização, que precariza as relações de trabalho em desfavor do empregado; costurou uma reforma política que legaliza o caixa dois e favorece o político patrocinado por grandes empresas e seus impublicáveis interesses; ameaça a soberania nacional e a Petrobrás; atenta contra a juventude pobre e sem assistência do Estado, entre outras maldades guardadas na mesa da presidência da Câmara.
Estas ações políticas, muito bem casadas com a propaganda da mídia e combinadas com um governo frágil e acossado, neste momento mais preocupado em manter as aparências da governabilidade, mas já perdida, possibilitaram as mais bem sucedidas atuações legislativas do conservadorismo brasileiro em décadas.
Em apenas cinco meses!
Engana-se quem pensa que a onda fundamentalista religiosa, que prega a intolerância quanto a diferença do pensamento político, da escolha de credo, da diversidade sexual, ocorrem de maneira isoladas. São elos de uma mesma corrente.
O Brasil sofre um forte atentado às liberdades de expressão e à democracia, coordenado por forças poderosas do atraso, visto a olho nu, todos os dias.
O governo, em que pese suas dificuldades e equívocos, não é um corpo conservador, suas diretrizes políticas convergem para a democratização da sociedade e respeito às diferenças, por mais que tenha evitado avançar em questões importantes, como o aborto ou a descriminalização da maconha, por exemplo, para não se comprometer eleitoralmente, os governos petistas não podem ser rotulados de propagadores de políticas retrógradas.
É preciso deixar muito claro: o PT, seus governos e aliados à esquerda, são os entes políticos que estão sendo atacados pelo caldo do ódio e do retrocesso social instalado no Brasil.
Como foi dito antes, em outro texto AQUI“não é apenas o governo Dilma que está a perigo, é toda uma rede de conquistas e liberdade alcançadas, com muita luta, ao longo da história que está em jogo.”
Se as forças democráticas e progressistas não formalizarem um amplo arco de aliança política, todos aqueles que não concordam com o que está sendo construído (ou destruído), serão fragorosamente derrotados. Uma governante fragilizada não é capaz de, sem aliados fortes, combater as forças reacionárias, que agem à margem dos interesses de uma sociedade que, vendo tudo acontecer de maneira tão rápida e pouco esclarecedora, se sente incapaz de reagir. Cala-se, conforma-se e, desta maneira, caminhará para a ruptura social mais adiante, inevitavelmente.
Apenas a soma dos esforços da esquerda e também do centro político que não pactua esta agenda dos horrores, será possível dar um fim a ousadia de Cunha e seus asseclas do baixo clero do parlamento. Sem uma resposta imediata, estes personagens se sentirão ainda mais a vontade para continuar avançando sobre os direitos do povo. A reação clamada, com realismo necessário, tão somente será capaz de equilibrar as forças, à espera de 2018, preservando o que ainda resta de políticas públicas democráticas.
Ao governo pouco sobra de manobra no campo político, mas é nítido que a composição de sua base só lhe permitiu sustentar-se em seu posto e aprovar as medidas do ajuste econômico. Pouco vale ser governo e ver prosperar a plataforma política da oposição. A reforma ministerial talvez seja necessária para rearranjar esta composição falida. Esperar que o ajuste de Joaquim Levy seja bem sucedido e possibilite a recuperação de apoios, popular e político, para tentar virar o jogo, talvez seja uma expectativa que só possa se realizar tardiamente, quando a “terra estiver arrasada”, dadas as atuais conjunturas.
À sociedade organizada não resta outro caminho que senão o do repúdio ao ódio e à intolerância de todo tipo e do fortalecimento da democracia e a radicalização da representação política, através de manifestações, coordenadas e direcionadas, contra os atuais patrocinadores do conservadorismo.
As tristes cenas, repetidas diariamente, de agressões morais e físicas, por conta da intolerância religiosa, homofobia ou contra integrantes e/ou simpatizantes de partidos políticos de esquerda, tenderão a aumentar e serem naturalizadas, aceitas por uma massa atônita, como exemplos de “punição dos homens de bem e de Deus contra os impuros”, como uma espécie de inquisição política-social.
O que é que tá faltando para a reação progressista começar? O tempo urge.
https://blogpalavrasdiversas.wordpress.com/2015/06/17/a-inquisicao-politica-social-avanca-a-passos-largos/

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