terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

É Carnaval! Viva a hipocrisia nacional!


Fernando Brito, Tijolaço  

"A BBC publicou uma curiosa reportagem sobre o financiamento recebido pela Beija-Flor do ditador Teodoro Obiang Nguema para exaltar as maravilhas da Guiné Equatorial.

Permita-me avisar ao coleguinha Jefferson Puff, que é brasileiro mas fez carreira no exterior, que isso não é, propriamente, uma novidade nem na história da Beija-Flor, nem nas escolas de samba cariocas.

Nem é preciso falar dos tempos em que os bicheiros – oficialmente, criminosos – eram as grandes celebridades nos desfiles.

Ou na cumplicidade explícita de escolas com políticos, como fizeram contra Brizola, com as bençãos de João Figueiredo, Anísio Abraão David e Castor de Andrade.

Ninguém quis fazer uma investigação sobre como o apartamento de Anísio – invadido espetacularmente pela Polícia Federal descendo de rapel de um helicóptero (não entendo porque não pela porta) tinha sido vendido a ele pelos filhos de Roberto Marinho, um ano depois da morte do velho, que fazia festas suntuosas ali no réveillon.

Já imaginaram se fosse o José Dirceu comprando o apartamento de Mendes Júnior?

Como estou velho e sem paciência com a hipocrisia de nossa imprensa, dos políticos e das autoridades, além de ter aguentado por anos a fio as histórias dobre ligações entre Brizola e o jogo-do-bicho, só porque ele proibiu as operações “quebra-caixote” (como eram conhecidas as incursões sobre os pontos de bicho, com prisão e agressão aos pobres apontadores, gente muito pobre e que estava ali trabalhando), resolvi reproduzir o post de Nílson Lage, no Facebook, que entra de sola neste assunto.

Infelizmente, a nossa turma moralista é igual àquela piada sobre a razão de os gringos no Carnaval com dois dedinhos apontados para cima. Para quê? Para que não lhe olhem os pés desajeitados, com os da nossa moralidade seletiva, que só fica indignada quando interessa.

A realidade é essa, assumam
Nílson Lage
Se há coisa que me chateia é hipocrisia.

Quem queriam que financiasse o carnaval carioca?

O tesouro nacional?

As gravadoras, que fariam desfilar como destaques Beyoncé, Ricky Martin e Julio Iglesias, ao som de rock, country e rap?

As multinacionais, cobrindo de logos e marcas o desfile, com a rainha da bateria anunciando preservativos durex e a magnífica comissão de frente fantasiada de semente Monsanto?

Políticos com certificado de democracia, folha corrida e vida ilibada – com dinheiro de quem?


Queriam que o carnaval voltasse a ser, como antes, uma festa de bairro, com corsos de carrinhos da classe média (confetes, serpentinas…), escolas mambembes e blocos de sujos?


Assumam a realidade.


O jogo do bicho é uma tradição enraizada, assumida, consolidada no Rio de Janeiro e no Brasil Todo combate ao jogo do bicho é, na verdade, achaque de bicheiros.


O mesmo está acontecendo com o tráfico de drogas. O tráfico sustenta um aparelho repressivo corrupto, num nível muito mais alto do que se imagina.


Houve mil oportunidades, há milhares de jeitos de regularizar o jogo do bicho. Não regularizam porque não querem, ganham mais com ele.


Algo similar com a “guerra ao tráfico”, conduzida com a inteligência de uma bush-barata. Cada carga apreendida, cada bagrinho preso, é mais dinheiro que entra no sistema.


Para quem vai à festa e gosta dela, não importa quem paga. Importa, sim, a mensagem estética, ética e politica do desfile."

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