INGO, 19 DE OUTUBRO DE 2014
O Brasil poderia fazer uma grande convenção de delatores todos cadastrados, reconhecidos pela Justiça, alguns com experiência de mais de 10 anos. Iriam se reunir para trocar informações, aperfeiçoar seus métodos e prosperar.
O Brasil ganharia dinheiro com a exportação do conhecimento de seus delatores, a forma de agir, a traição, a técnica de listar nomes, comprometer amigos e inimigos e espalhar terror no meio de uma eleição.
A delação é quase uma profissão. O mais veterano, o decano dos delatores, é o doleiro Alberto Youssef, da Operação Lava-Jato. Youssef delatou meio mundo, em 2003, nas investigações da CPI do Banestado.
Sabia tudo do esquema de remessa de dólares para o Exterior através do banco do Paraná. O Congresso tem, numa sala, pilhas de papéis da CPI. Não vou dizer o que aconteceu com os que exportavam dólares das mais variadas atividades ilegais. Nem com a CPI. Você deduz.
Youssef está aí de novo. Ao lado dele, Roberto Jefferson, delator do mensalão do PT, é um aprendiz. Outro conferencista, este com fama mundial, seria Everton Rheinheimer, diretor da Siemens que denunciou o esquema de superfaturamento e propinas do metrô de São Paulo. A Siemens e suas irmãs empreiteiras abasteciam os ninhos dos governos tucanos desde Mario Covas.
A grande pauta da convenção seria a delação como um dos mais rentáveis negócios do Brasil. A Europa decidiu incluir tráfico de drogas, contrabando e prostituição na conta do PIB, para melhor medir o tamanho de suas economias. O Brasil poderia incluir a propina, a partir de dados contábeis fornecidos pelos delatores.
Esta semana, soube-se um pouco mais das ações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, o delator do momento. Plantado pelo PP numa direção da estatal, corrupto de carreira, concursado, com anos de Petrobras, Costa disse na delação ter pago propina ao ex-senador Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB.
O dedo-duro já havia apontado duas dúzias de políticos ligados ao PT como beneficiados pelas propinas. Uma semana antes da eleição, a metralhadora foi virada para o PSDB, graças a furo da Folha de S. Paulo. Em 2009, Guerra teria sido o destinatário de dinheiro de uma empreiteira prestadora de serviços à Petrobras. Como líder tucano e referência no Congresso, seria pago para esvaziar uma CPI criada para investigar a estatal. Costa ataca um morto e nem tem certeza do que diz. Sabe que a propina seria paga, mas não tem como comprovar se o senador recebeu o dinheiro.
Um delator não poupa ex-amigos, ex-sócios e ex-compadres. O delator cumpre integralmente sua missão se for destemido, egoísta e amoral, como esse Costa, protagonista do maior escândalo desde o mensalão. Ele delata vivos, moribundos, mortos, e tudo o que diz vira manchete.
O delator é um informante que pode embaralhar a verdade. É só apontar o dedo – como faz o homem de franja e bigode da Petrobras – para quem quiser e assim pôr em dia seus ressentimentos e suas vinganças. E depois ir para casa com uma tornozeleira. É seu único incômodo.
Mas, no efervescente mercado da delação, alguns ficam pelo caminho e nunca serão um Costa ou um Roberto Jefferson. É o caso de Nilton Monteiro. Poucos ouviram falar do delator do mensalão tucano.
Ele confessou que operava o esquema em favor de uma turma liderada pelo ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (que renunciou ao mandato de deputado federal, em março, para escapar do julgamento no Supremo).
Monteiro está preso desde maio de 2013, em Contagem, acusado de tentar coagir testemunhas. Nunca foi levado a sério – como todo o mensalão do PSDB, que tramita entre gavetas da Justiça mineira.
Monteiro é um caso único de fracasso nessa área. Participará da convenção dos delatores como exemplo do trapalhão transformado em vítima dos que foram por ele delatados. Todos, menos ele, estão soltos.
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