"Qual dos candidatos, dos que hoje postulam a Presidência da República, estão comprometidos com essa pauta da reforma política [pra valer] e da Constituinte exclusiva para este fim? Quais os partidos que encampam esta proposta?
Lula Miranda, Brasil 247
Hipocrisia, voluntarismo, charlatanismo e messianismo à parte, já se tem mais ou menos consolidados alguns consensos ou premissas básicas hoje, na sociedade em que convivemos, acerca da política.
Primeiro, o consenso de que o exercício pleno da política e o respeito aos partidos políticos são fundamentais numa democracia. Ou seja, não dá para reclamar e não participar, minimamente, da vida pública do país. Não dá para fazer política, encastelado num casulo de uma suposta autossuficiência, simplesmente esconjurando e maldizendo TODOS os políticos e partidos.
Essa é uma postura, embora muito não se deem conta, literalmente "idiota". Consultando a etimologia, a origem grega da palavra, "idiota" é "aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política" [ver no ensaio "Política para Não Ser Idiota"].
Não dá para gozar da cidadania plena quando se é, com despropositado "orgulho", um "analfabeto político".
Em segundo lugar, sabe-se que para se acabar de fato com as práticas nefastas da velha política velhaca só mesmo melhorando/aperfeiçoando as regras e construindo um código de ética, através de uma reforma política para valer assentada em premissas básicas, consensuais e debatidas a fundo pela sociedade e pelo Parlamento.
Não será uma pessoa ou um partido, individualmente, que fará com que, num piscar de olhos, o país passe a praticar uma "nova" e virtuosa política. E que sejam sepultadas, como num passe de mágica, práticas que já estão enraizadas no nosso sistema político e do qual, inclusive, depende a existência de muitos parlamentares e partidos – práticas como, só para citar um exemplo, o "famigerado" caixa dois, por todos condenado, mas que, hipocrisia à parte, não sai de moda nunca, e é por todos utilizado.
Portanto, essas pseudo e esporádicas "escandalizações" com o "mensalão" tucano, petista ou demista, com o "escândalo" (mais um?!) das propinas na Petrobras, da "máfia do ISS" em SP ou do "trensalão" tucano, não nos levarão a lugar algum, pois, sabe-se, trata-se do velho recurso de "atacar" [para inglês ver] as consequências sem atacar as causas.
Hipocrisia à parte, sabe-se que em todos os governos e administrações, de TODOS os partidos, existem propinas sendo pagas para alimentar os caixas dois que financiam o "caciquismo", o clientelismo e o patrimonialismo, que hoje são a liga da nossa política.
Por isso, reitero, com a licença dos hipócritas e falsos moralistas: só uma reforma política para valer pode, aos poucos, mudar esse estado de coisas. E mesmo assim, faça-se a devida ressalva, será um extenuante e doloroso processo, um logo e penoso caminho.
Por fim, sabe-se que uma reforma política para valer só será possível com uma Constituinte exclusiva para tratar dessa pauta, porque os deputados eleitos segundo as velhas regras da política velhaca jamais terão interesse em mudar as regras do jogo em que estão ganhando, e que lhes propiciam alternativas e caminhos heterodoxos, ou os mais diversos descaminhos e atalhos, como se sabe.
Cabe então a pergunta: qual dos candidatos, dos que hoje postulam a Presidência da República, estão comprometidos com essa pauta da reforma política [pra valer] e da Constituinte exclusiva para este fim? Quais os partidos que encampam esta proposta?
Lutamos, em um passado recente, pelas "Diretas Já!" numa envolvente e histórica jornada cívica para que pudéssemos ter o direito de votar para presidente. Quem não se lembra? Multidões saíram às ruas por todo o Brasil reivindicando esse direito, ainda sob os rescaldos de uma ditadura. Isso já é história. Mas não podemos esquecer a nossa história, para que não caiamos nas ciladas e armadilhas da ignorância.
É, portanto, uma conquista da cidadania o fato, que hoje nos parece "corriqueiro", de votarmos para presidente da República, para governador, para deputado etc.
Em face disso, para que possamos ser coerentes e consequentes com a nossa cidadania plena, e com o necessário zelo para com essa nossa jovem democracia, devemos melhorá-la, aperfeiçoá-la.
Sem abrirmos mão das nossas responsabilidades de cidadãos; em vez de tão somente maldizer e esconjurar a Política e a democracia.
Sim, existem os maus políticos, mas não podemos nos esquecer de louvar também os bons políticos. Parlamentares como os senadores petistas Eduardo Suplicy (SP) e Jorge Vianna (Acre), ou os deputados Paulo Teixeira (SP) e Emiliano José (BA). Mas você e deve/pode citar outros nomes, de outros partidos, pois eles existem e resistem nos representando de forma digna no Parlamento.
Se você é contra a corrupção e o aparelhamento da máquina pública pelos partidos, Constituinte Já!
Se você é contra as oligarquias e os velhos coronéis que se eternizam no poder, Constituinte Já!
Constituinte Já! Se você quer dar o primeiro passo para construir e consolidar uma nova política de fato neste país.
[N.A.: A propósito, aproveito o tema e o ensejo para um "merchandising cultural": recomendar a leitura do livro Política para Não Ser Idiota, de Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro. Vale a pena dar uma passada d'olhos – pode se ter acesso a um "aperitivo" por intermédio do Google mesmo]"
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