O Globo
Por Wanderley Guilherme do Santos
Por Wanderley Guilherme do Santos
Se é um governo democrático, tem que governar com o Parlamento. Afinal, todos os grandes programas de governo tiveram e têm que passar pelo Parlamento: Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, partilha do pré-sal, etc. Governar com o Parlamento significa governar com os partidos. Se os partidos cobram pelo apoio, isso faz parte da competição institucional e está longe de significar, em si mesmo, um loteamento do Estado. Não é uma visão cor-de-rosa, pois ainda assim existem abusos. O que digo é que negociação, em si, faz parte da democracia.
Se um deputado briga pra caramba para conseguir uma UPP para sua comunidade e ameaça não dar seu voto ou se ausentar do plenário na hora da votação, o jornalismo político diz que esse cara só faz serviço de clientela. Pode? — Sim. Eles estão lá para fazer esse serviço de clientela do bem, respeitados os limites da boa educação política. É o preço da democracia, e quem acha que sem ela não haveria corrupção é muito ingênuo. Na democracia ateniense, que, a rigor, nem era tão democrática, a venda de voto corria solta, nas ruas.
Nenhum governo é descaracterizado total nem mesmo sensivelmente pela corrupção nele ocorrida. Pode parecer cínico, mas é o seguinte: caso não houvesse qualquer corrupção, os governos JK, FH e Lula, para dar três exemplos famosos, teriam sido exatamente o que foram, só que mais baratos. Isso é para dar a noção de que, exceto em tiranias conhecidas, é impossível submeter a democracia a desígnios de burocratas ou políticos ou empresários corruptos.
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