No fim de ano, quem fica de plantão nas redações dos jornalões torce, contraditoriamente, por duas coisas: para que nenhum fato interrompa a modorra, e que ocorra algo extraordinário que quebre a enfadonha rotina da espera da hora de ir embora.
Geralmente, nada acontece. Mas de vez em quando alguma desgraça livra o plantão da chatice - coisas boas, todos sabem, não são notícia, pelo menos para o jornalismo praticado no Brasil.
Talvez pensando nisso, nessa quietude de fim de ano, os jornalões preparam de antemão matérias para tentar adivinhar como será o novo ano que se aproxima.
Antigamente gastavam páginas e mais páginas com as insuportáveis e nunca lidas "retrospectivas".
A moda agora é outra, a das "prospectivas".
E nelas os jornalões dão vazão ao seu natural instinto de dizer que o Brasil está à beira do Apocalipse, que nada vai dar certo no futuro breve, por culpa única e exclusiva de um governo incompetente, corrupto, que insiste em inchar a máquina pública com "companheiros", verdadeiros parasitas de um Estado paquidérmico e perdulário.
Para tanto contam com a inestimável ajuda dos sempre presentes "analistas", geralmente ex-alguma coisa dos governos tucanos, ou meros operadores do mercado financeiro, que falam umas tantas imbecilidades livremente, sem ninguém para contestá-los ou sequer tentar trazê-los de volta à realidade.
Porque tudo se resume a isso: há o Brasil real, que vai muito bem, e o Brasil dos jornalões, no qual nada funciona, o país do "Pibinho", do "mensalão", do "Rosegate" - e por aí vai.
Os plantões de fim de ano são mesmo chatos, há horas demais para notícias de menos.
Talvez por isso fosse conveniente aproveitar esse tempo livre para dar uma voltinha pela cidade, conversar com as pessoas, olhar as coisas todas diretamente, sem a interferência da janela escurecida e permanentemente fechada por causa do ar-condicionado.
O jornalismo, esse ofício tão maltratado pela indolência, agradeceria a iniciativa.
Cronicasdomotta
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