Em editorial, jornal de João Roberto Marinho diz que a Petrobras precisa de uma política mais realista de preços, ainda que o momento não seja oportuno, uma vez que a inflação não está no centro da meta
247 - O jornal O Globo, conduzido por João Roberto Marinho, assumiu sua posição na questão dos combustíveis. Quer aumento para a gasolina já, ainda que isso possa prejudicar o cumprimento da meta de inflação. Leia editorial desta quinta-feira:
O governo caiu na armadilha de ‘congelar’ a gasolina e o diesel, desequilibrando fortemente o consumo, agora mais dependente de importações crescentes
O estilo Graça Forster começa a dar resultados na Petrobras. A produção, que vinha em franco declínio, já dá sinais de recuperação (dezembro será um mês especialmente bom, adiantou a presidente da companhia, em entrevista ao GLOBO). Metas e programas específicos para redução de custos operacionais foram estabelecidos para os próximos anos, e espera-se que ao longo de 2013 se pavimente o caminho para que, em 2014, os números da empresa sejam substancialmente diferentes dos que foram registrados nos últimos exercícios — chegando a um considerável prejuízo em um dos trimestres.
Mas, em contrapartida, a Petrobras e a indústria do petróleo como um todo precisam de uma política de preços mais realista. O governo caiu na armadilha de “congelar” os preços dos derivados mais consumidos, como o óleo diesel e a gasolina, e o resultado foi um acentuado desequilíbrio no mercado. O etanol, que antes até contribuía como amortecedor das variações dos preços da gasolina, perdeu competitividade diante desse longo “congelamento”. A produção praticamente se estagnou. Assim, como as refinarias estão no seu limite de capacidade, a opção tem sido importar gasolina, em volumes crescentes e por preços mais elevados do que os estabelecidos no mercado brasileiro, com graves prejuízos também para o meio ambiente.
Essa alta vertiginosa no consumo de gasolina tumultuou a logística do abastecimento. Caminhões percorrem distâncias cada vez maiores para levar diesel e gasolina aos consumidores, o que torna necessária a expansão da frota, encarecendo o frete.
No fim das contas, parte das perdas acaba nas contas da Petrobras, em um subsídio cujo único sentido é de ordem política, com inclinação populista e demagógica. Sem que a política de preços dos combustíveis volte a ser realista, o desequilíbrio só tende a aumentar, tornando mais difícil a solução. O governo tem condições de avaliar se o reajuste reivindicado pela Petrobras é o correto. A conjuntura de fato não é das melhores, pois os índices de inflação têm se mantido acima do patamar que é necessário para se atingir o centro da meta (4,5%) definido pelo próprio governo.
Mas essa inflação incômoda não é decorrente do setor de transportes, pois os principais combustíveis estiveram “congelados”. O governo estabeleceu regras que definem aumentos reais para os pisos salariais sem qualquer relação com a produtividade do trabalho. Há uma significativa pressão de custos nos serviços que é transferida em parte ou totalmente aos preços do segmento. Se tal política não for revista, a inflação acabará anulando o efeito desejado de distribuição de renda. E não haverá “congelamento” de combustíveis capaz de ajudar a resolver a questão.
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