Durante anos (entre 2003 e 2010), este país viveu confrontos políticos entre o governo federal, de um lado, e a grande imprensa e a oposição do outro que chegaram a fazer o país temer que acabassem em uma guerra civil ou em (outro) golpe de Estado.
Para se ter uma idéia do nível de virulência que a direita midiática empreendeu na tentativa de voltar ao poder, supostos jornalistas chegaram a escrever livros sobre o ex-presidente Lula e seu partido que, mais do que difamar, pretendiam meramente insultar......
Os títulos desses livros dão bem a dimensão do clima político que vigeu durante anos: “O país dos petralhas” e “Lula é minha anta”, de autoria, respectivamente, dos colunistas da revista Veja Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi.
A Veja foi um capítulo à parte. Durante pelo menos seis anos, toda semana trazia um “grande escândalo” do juízo final contra o governo Lula, que, daquela vez, derrubaria aquele governo.
O site da Agência Reuters, perto da eleição presidencial do ano passado, publicou alentada matéria que explica bem a guerra que a grande imprensa declarara ao governo. Vale a pena este texto reproduzir um trecho antes de prosseguir.
—–
Agência Reuters Brasil
Revista pode ser o último obstáculo para vitória de Dilma
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Por Stuart Grudgings
RIO DE JANEIRO (Reuters) – Já se tornou um ritual nas manhãs de sábado durante a atual corrida presidencial — funcionários dos partidos e jornalistas correm às bancas para verem se, desta vez, a edição da revista Veja derruba a candidata Dilma Rousseff (PT).
Com sua capacidade para fazer ataques, a revista mais lida do Brasil –que já divulgou dois escândalos de corrupção que afetaram Dilma– parece ser o último grande trunfo da oposição, numa disputa em que a candidata governista chega à penúltima semana ampliando sua vantagem na dianteira das pesquisas.
Alguns analistas políticos descrevem a corrida em termos de quantas capas da Veja faltam para a eleição: duas.
A incansável campanha da publicação contra Dilma é um sinal daquilo que alguns dizem ser uma profunda tendência da mídia brasileira contra o PT e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro presidente brasileiro egresso da classe operária.
(…)
Clique aqui para continuar lendo.
—–
Outros grandes meios de comunicação não fizeram por menos. Distorceram, omitiram, falsificaram, inventaram tudo o que puderam para recolocar a oposição demo-tucana no poder.
A Folha de São Paulo, por exemplo, chegou a publicar, na primeira página, uma falsificação de ficha policial com pesadas acusações contra a hoje presidente Dilma Rousseff, e a acusar o ex-presidente Lula até de maníaco sexual e assassino.
Para citar todos os ataques, haveria que escrever um livro. Devido à diferença do alcance das comunicações, nem Getúlio Vargas, levado ao suicídio pelos mesmos veículos que agora fustigavam Lula, sofreu campanha de desmoralização igual.
O resultado de tudo isso ainda está sendo conhecido. Apesar de os brasileiros terem dado uma sobrevida à direita midiática votando em vários de seus candidatos a governador, praticamente a exilaram do cenário federal.
No Congresso, a oposição encolheu pelo voto popular. Encolheu muito. O recado das urnas foi claro: a esmagadora maioria dos brasileiros desaprovou a campanha que esses jornais, revistas, tevês, rádios e portais de internet fizeram contra o governo Lula.
Não é difícil encontrar quem diga que tentaram sabotar o governo anterior. Milhões de brasileiros parecem achar que foram prejudicados pela aliança entre esses meios de comunicação e o PSDB, o DEM e o PPS. E foram.
O Poder Legislativo, no total, deve ter perdido mais da metade dos últimos oito anos atuando como instância policial contra o governo do país, enredado em dezenas de CPIs que a nada chegaram e que paralisaram a apreciação de matérias de interesse nacional.
Neste sábado, um dos colunistas de um dos veículos mais beligerantes e que deu sua imensa contribuição para a guerra política dos últimos anos constata, mergulhado na amargura, o resumo da ópera que ajudou a escrever. A leitura desse texto é obrigatória.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
23 de abril de 2011
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Pelada em praça pública
SÃO PAULO – Roupa suja se lava em casa. Sim, mas a oposição já não tem roupa, está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise em praça pública. Perdeu, literalmente, a vergonha de mostrar seus vexames.
A nudez é tanto do DEM quanto do PSDB. Anteontem, no jornal “O Globo”, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) desafiava: “Que os coveiros fracassados sigam o caminho adesista e de traição. As urnas darão a resposta!”. Referia-se ao tesoureiro do partido, Saulo Queiróz, de saída para o PSD de Gilberto Kassab, e ia além: “O Saulo é um cão fila do Jorge Bornhausen, que está agindo nos bastidores para minar o partido”.
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, deve trocar o DEM pelo PSD.
No “Painel” da Folha de ontem, o senador tucano Aloysio Nunes dizia o seguinte: “Stalin bania os inimigos para se manter no poder. O PSDB agora extermina seus amigos para se manter na oposição”.
Atacava o grupo alckmista, acusado de segregar vereadores simpáticos a Serra-Kassab, seis dos quais debandaram do ninho piando alto contra a turma do governador.
O PSD pode ter sido o deflagrador imediato dessa crise, mas o partido de ocasião do prefeito é muito mais um sintoma da fragilidade da oposição do que a sua causa.
É irônico que essas cenas de desinteligência explícita venham logo na sequência do artigo em que FHC se esforçava para dar um sentido programático, estratégico e coletivo à ação do PSDB.
A palavra de ordem mostra-se impotente e vazia diante do clima de “cada um por si” que toma conta dos tucanos, do DEM, dos dissidentes, da oposição. Kassab virou líder do Partido Salve-se quem Puder.
A fusão dos cacos do PSDB com o que restou do DEM entrou na roda de conversas. Mas, por ora, as reações contrárias de lado a lado à formação desse novo-velho partido parecem mais fortes.
O movimento da oposição não é mesmo de fusão nem de união, mas de dissolução, de esfarelamento.
blog da cidadania
Nenhum comentário:
Postar um comentário