sábado, 19 de fevereiro de 2011

Votação do mínimo desmoralizou oposição a Dilma, dizem analistas

“Viva a luta dos trabalhadores”, bradou o líder do Democratas, ACM Neto (BA), ao concluir sua defesa por um salário mínimo de R$ 560. Seu colega no PSDB, Duarte Nogueira (SP), desfilou pelo plenário na quarta-feira (16) com um adesivo: “Salário de R$ 600 é viável”. Derrotados pelos governistas por ampla margem, os oposicionistas também perderam a bandeira da responsabilidade fiscal, dizem analistas ouvidos pelo UOL Notícias.
A decisão da Câmara será submetida aos senadores na quarta-feira que vem (23). Se não sofrer mudanças, o texto segue para a aprovação da presidente Dilma Rousseff. O líder do PSDB no Senado, o senador Álvaro Dias (PR), já adiantou que o partido repetirá a estratégia adotada na Câmara e vai propor salário mínimo de R$ 600 neste ano. Dessa vez, porém, os tucanos pedirão o apoio do DEM na proposta.
“Vão repetir o erro então?”, disse o cientista político David Fleischer, professor da UnB (Universidade de Brasília). “A vantagem do governo não é imutável, mas foi um recado muito forte. Refletiu também a falta de proposta de uma oposição que aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal no governo Fernando Henrique Cardoso. Falta proposta e falta clareza no que querem o PSDB e o DEM, antecipando o combate para já.”
O reajuste aprovado na quarta-feira (16) derrotou duas propostas da oposição e manteve o salário mínimo conforme desejava o Palácio do Planalto: R$ 545 neste ano. A emenda do Democratas, com sugestão de salário de R$ 560, teve apoio até de governistas do PDT e do próprio PT de Dilma. Ainda assim, o governo teve 361 votos para derrotar os adversários – a expectativa inicial era de aprovação do valor com cerca de 300 votos.
Para Amaury de Souza, da consultoria MCM, a oposição fez “papelão” ao defender um aumento superior a R$ 545. “Fica até ridículo um parlamentar do DEM, que não tem base entre os trabalhadores, fazer o discurso do PT de dez anos atrás. Vai fazer o que agora? Voltar para defender a austeridade, o corte de gastos excessivos? A votação do salário mínimo prejudicou qualquer defesa nesse sentido vinda da oposição.”
Um dos principais defensores do salário de R$ 600, o candidato derrotado à Presidência José Serra (PSDB) insistiu durante a campanha que o país provavelmente precisaria cortar gastos mal feitos. Seu sucessor no governo paulista, Geraldo Alckmin, evitou se comprometer com a sugestão do colega de partido. “Cada Estado tem sua realidade e o salário mínimo nacional é tarefa do governo federal”, limitou-se a dizer.
Divididos nos bastidores
O texto aprovado na Câmara dos Deputados deve aumentar em R$ 8,5 bilhões por ano o gasto público, pesando sobre as contas da Previdência. Prefeituras de todo o país, inclusive muitas comandadas por oposicionistas, trabalharam para evitar um reajuste ainda maior. A CNM (Confederação Nacional dos Municípios) indicou que o impacto sobre as cidades poderia ser de R$ 38 milhões em cada R$ 1 de aumento.

 

A Confederação afirma que a elevação para R$ 545 já tem um impacto de R$ 1,3 bilhão nas contas das prefeituras em 2011. Caso o valor fosse de R$ 560, os municípios teriam um gasto de quase R$ 1,9 bilhão, diz a entidade. Se o Senado aprovar um mínimo de R$ 600, como defende o PSDB, a despesa extra das prefeituras seria de R$ 3,4 bilhões. Ainda assim, tucanos no Congresso veem espaço para um reajuste maior no salário.
“Talvez eles não repitam o erro se notarem o que aconteceu com os governistas do PDT, que são ligados ao sindicalismo e que apoiavam a proposta da oposição”, disse Fleischer, da UnB. “O presidente da Força Sindical [deputado Paulo Pereira da Silva] perdeu a força. Dos 26 deputados pedetistas, 16 votaram contra ele. Isso pode fortalecer a CUT ainda mais e duvido ver senadores os senadores do DEM interessados nisso”, disse. “Seria a desmoralização final.”

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