sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Usuários de crack ficam mais tempo presos do que em tratamento

Usuários de crack ficam mais tempo presos do que em tratamento

por Conceição Lemes

A presidenta Dilma Rousseff anunciou hoje um projeto ambicioso: a implantação de  49 Centros Regionais de Referência em crack e outras drogas (clique aqui) nas universidades federais das cinco regiões brasileiras.
Três detalhes me  chamaram a atenção.
Primeiro: a capacitação de 14.700 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, que atuarão do aconselhamento motivacional e tratamento à reinserção social dos usuários. Evidência clara de que serão encarados como pessoas com problema de saúde, que precisam de ajuda.
Segundo:  a presença dos ministros Alexandre Padilha, Fernando Haddad e José Eduardo Cardoso, sinalizando que, para a presidenta Dilma, o combate ao crack e outras drogas envolve Saúde, Educação e Justiça, e que as três terão de trabalhar em conjunto, para se vencer esse desafio.
Terceiro: Os 49 Centros de Referência serão do Sistema Único de Saúde (SUS). A propósito: os médicos que atuam no SUS, inclusive no Programa Saúde da Família, também terão curso de aperfeiçoamento para lidar com usuários de drogas.
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20:08
17/02/2011
Pesquisa mostra que viciafos em crack ficam mais tempo presos do que em tratamento
São Paulo – Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), inédito na literatura médica internacional, mostra que os usuários de crack ficam mais tempo presos do que em tratamento contra a droga. A pesquisa, que acompanhou, por 12 anos, 107 dependentes, indica que, nesse período, em média, os usuários ficaram presos por um ano e oito meses, e permaneceram em tratamento, em média, por três meses.
“Os usuários passaram mais tempo presos do que em tratamento, o que nos faz questionar a política repressiva voltada para os usuários da droga, quando a questão deveria ser tratada como um problema de saúde pública”, afirma a pesquisadora da Unifesp, Andréa Costa Dias, coordenadora e responsável pelo estudo.
A pesquisa verificou que, após 12 anos, 29% dos usuários estudados estavam abstinentes, sem usar a droga há cinco anos ou mais; 20% relataram períodos de consumo alternados com períodos de abstinência; e 13% mantiveram o consumo de crack por mais de uma década, com uso mais controlado e em menores quantidades e frequência.
Dos 107 pacientes acompanhados, após o período de análise, dois estavam desaparecidos, 13 estavam presos no período da entrevista e 27 tinham morrido, sendo que 59% das mortes foram homicídios. Apesar do alto índice de violência relacionado ao uso da droga, o estudo detectou que os dependentes têm conseguido, com o tempo, evitar situações de risco.
“É claro que existe todo um contexto de risco e violência em torno do crack, mas o usuário que foi aprendendo, aos poucos, a se adaptar a esse contexto, a não se colocar tanto em risco, seja em risco de overdose como em risco de se envolver em situações de violência, como brigas entre companheiros de consumo ou conflito com a polícia ou mesmo contraindo dívida de droga”, explica a pesquisadora.
Dos pacientes acompanhados, 88,5% eram homens e 11,5% mulheres. Dentre eles, 63,3% tinham idade entre 15 e 24 anos. Os solteiros integravam a maioria (67%) da amostra e 27% deles eram casados.
A pesquisa mostra ainda que há fatores comuns que fizeram com que dependentes conseguissem se afastar do consumo do crack. A procura por tratamento, a religião e a inserção no mercado de trabalho ajudaram, de modo geral, os usuários a se distanciarem da droga.
“Foram importantes também ‘pontos de virada’, como entrar em uma faculdade, a gravidez, encontrar uma namorada ou se casar, enfim, situações que, para aquela pessoa, foram significativas o suficiente para que ela, então, conseguisse ir se desprendendo do consumo”, explica Andréa Costa.
Edição: Lana Cristina

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