O Jornal Nacional de 24 de janeiro, 2ª feira, apresentou reportagem sobre as enchentes em São Paulo. Mostrou a dimensão do caos, as mortes, os prejuízos imensuráveis e apresentou a causa de toda essa tragédia: a população local, que atiraria avalanches de lixo nas ruas, entupindo bueiros e diminuindo a calha do rio Tietê devido à correnteza da água da chuva, que levaria tudo para o rio.
Como a capital paulista é a região urbana que mais alaga no Brasil, e se é o lixo que o povo atira que provoca as inundações, pode-se supor que o povo de São Paulo é o mais porco, o mais irresponsável e o mais mal-educado, pois nenhuma outra grande cidade alaga de forma sequer parecida, inclusive proporcionalmente à população que abriga.
A reportagem não deixa dúvida de que é o povo de São Paulo o culpado por essa situação de verdadeiro caos que vai tomando a cidade, pois entrevista algum chefete das obras de limpeza da calha do Tietê e ele diz, claramente, que está cumprindo a sua obrigação, mas que o povo atira mais lixo na rua do que as esforçadas administrações do Estado e do município de São Paulo conseguem recolher.
Como a reportagem não disse se houve aumento, diminuição ou manutenção dos serviços que essas administrações fazem para diminuir os efeitos das chuvas de verão em São Paulo, pode-se supor que verificou esse dado e nada encontrou que desabonasse tais serviços. Não deixa de ser estranho, porém, que não tenha dado essa informação ao telespectador.
Enfim, ao menos a Globo acha que o culpado pelas enchentes em São Paulo, é o povo. Aliás, pelo menos nos bairros ditos nobres é isso o que diz, também, a população. E já vi gente de bairros populares confirmar tal versão.
Então somos, os paulistanos, uns suínos de duas patas, certo? Porque todos vêem que o lixo é atirado nas ruas de São Paulo em qualquer bairro. Moro no Paraíso, vizinho dos Jardins, e já vi colocarem de sofá a geladeiras na rua. Isso tudo vai pro esgoto, suponho…
Há uma outra possibilidade, porém. Talvez os paulistanos não sejamos o povo mais porco do país – ou do mundo, de acordo com o tamanho da nossa catástrofe pluvial. Talvez os governos Serra e Kassab não tenham feito tudo o que deviam na prevenção de enchentes por conta das centenas de milhões de reais que gastaram em publicidade no ano passado.
E talvez a Globo, descaradamente, tenha tentado jogar na cabeça dos paulistanos a culpa pelas enchentes. Mas não pela razão correta de terem votado como votaram para prefeito e governador, ou seja, em políticos que têm pelos seus eleitores burros o mesmo respeito que estes têm por si mesmos ao aceitarem o papel que querem lhes impor usando o Jornal Nacional..
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