Há uma história sobre facções rivais que guerrearam por tanto tempo que um dia começaram a se perguntar por que aquela guerra começara. Recorreram, então, aos mais antigos de seus homens, que talvez soubessem como tanto ódio surgira. Deles, porém, só conseguiram ouvir que guerreavam por que sempre fora assim.
Pode-se usar a analogia para a guerra entre petistas e tucanos. Uma guerra da qual o articulista fez parte até a última hora do dia 31 de outubro, pois entendeu que fora montada uma farsa para que grupos sociais, ideológicos, políticos, financeiros e empresariais retomassem o poder por não estarem satisfeitos com o ritmo acelerado de ascensão social das massas.
Contudo, as razões dessa guerra vão deixando de ser claras de vez que tucanos tentaram retomar o poder prometendo que continuariam e ampliariam o ritmo da inclusão social. O que pesou para a maioria da sociedade, porém, foi a crença de que não era verdade.
Por outro lado, é preciso que se entenda o quadro por completo e não pela metade, ou por pouco mais dela. Restarão dezenas de milhões de brasileiros que, mesmo em minoria, continuarão tendo todos os direitos dos que apoiaram os vencedores da eleição presidencial.
Nesse sentido, quem, até o momento, parece ter captado melhor o que está acontecendo é a presidente eleita do Brasil, a senhora Dilma Rousseff. Ao “estender a mão” à oposição, à imprensa, enfim, a todos os que a conflagraram, a próxima primeira mandatária da República deixa ver que entende a insanidade em que este país está mergulhado.
Na noite de domingo, o programa Canal Livre recebia o senador Álvaro Dias e o deputado Aldo Rebelo. Diante da proposta do governista de que seja feito um entendimento em termos programáticos e de convivência civilizada entre contrários, o que fatalmente incluiria o fim do uso da mídia para sabotar a administração pública, o oposicionista como que se recusou a aceitá-la.
Na manhã seguinte ao pleito, a Folha de São Paulo trazia a ironia afiada de seus colunistas sobre a vencedora, questionando a sua capacidade de gestão e a sua própria existência como ser autônomo, e ainda lhe ditava diretrizes sobre como governar.
Alguns diriam que a derrota subiu à cabeça da oposição midiática. Contudo, só quem sabe o que é a derrota entende que ao vencedor também cabe colocar-se no lugar do vencido, pois esse é o momento de estabelecerem limites para a disputa no interesse do povo brasileiro pelos próximos quatro anos.
A mídia e os partidos de oposição, bem como os setores da sociedade a que servem, precisam entender que há oito anos vêm fracassando em colocar quem querem no poder meramente porque a maioria da sociedade brasileira não acredita na Globo, na Folha, na Veja, no Estadão, no PSDB, no DEM e no PPS – e tampouco no Papa.
Os tucanos, os partidos aliados e a imprensa podem não querer entender que fizeram tudo o que era possível e impossível, durante oito anos, para colocarem uma idéia na cabeça da maioria dos brasileiros e não conseguiram. Contudo, quem venceu a eleição tem que reconhecer que desde 1998 tantos não aderiam às idéias oposicionistas.
Não se propõe que uns e outros deixem de ser adversários. Não faz sentido querer governar com unanimidade. Mas essa parcela da sociedade que tem na oposição a expressão da própria vontade tem que entender o recado das urnas. Todavia, os vencedores também devem perceber que o recado foi para os dois lados.
Dilma elegeu-se com muitos milhões de votos de vantagem sobre José Serra; o Congresso é francamente governista. Em tese, pois, o novo governo terá poder até para mudar a Constituição. Por outro lado, a oposição governará metade dos brasileiros nos Estados e municípios.
Com o aumento de poder do governo federal, mas com a resiliência da oposição – que se previu que seria exterminada e não foi –, a sociedade está a dizer que exige que seja mantido o bem estar social e a progressiva geração de oportunidades.
Quem acha que conseguirá manter o apoio da maioria se der menos do que este governo tem dado, ou seja, a sensação inegável e inquestionável de que as coisas melhoram, sensação essa oriunda do simples fato de que é o que está acontecendo, engana-se redondamente.
O recado das urnas, portanto, não se restringe só à oposição e à mídia, ainda que esteja claro que a maioria entendeu que tentaram sabotar o Brasil na ânsia de retomarem o poder. Dirige-se, também, ao novo governo do país. Que não ouse fazer menos do que Lula, pois apesar de ter sido tirado poder da oposição, ela foi mantida bem viva.
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