"Os que nos imaginam derrotados, eu digo que apenas estamos começando uma luta de verdade. Minha mensagem de despedida, nesse momento, não é adeus, é um até logo. (...) A luta continua, viva o Brasil".
Mensagem mais clara impossível: Serra não vai abandonar o projeto de chegar a Presidência da República. E deixou bem claro que volta a competir em quatro anos. O recado é, portanto, para Aécio Neves - que deixará o PSDB se isso ocorrer, como já havia antecipado há meses o jornalista Maurício Dias, da Carta Capital.
É evidente que isso não se dará agora, sob o risco de, contrariando a fidelidade partidária, perder o próprio mandato de senador. Mas é lógico que Aécio não vai aceitar a intromissão serrista em seu lugar na fila. Só que ele não tem a cúpula paulista ao seu lado, que é propriamente a cúpula que manda no partido.
Quando Xico Graziano culpou Aécio pela derrota acachapante em Minas Gerais, mesmo com a intervenção apaziguadora de Sérgio Guerra, ele estava apenas vocalizando a total insatisfação dos serristas com o ex-governador mineiro.
A coisa embrulhou por causa do segundo turno. Se Aécio tivesse sido eleito para o Senado e Serra perdido com a votação medíocre que teve em 03 de outubro, o neto de Tancredo sairia deste pleito como o líder natural das eleições. Mas não foi isso o que aconteceu.
Há de convir que o segundo turno, graças ao fator Marina, fortaleceu José Serra, que jogou todas as fichas, incluindo algumas muito desleais, para ter alguma chance nestas eleições.
Além de fortalecer José Serra, o segundo turno obrigou Aécio a se engajar na campanha. Mas Aécio, que seria fundamental em Minas, fez boas excursões pelo resto país ao lado de Serra, praticamente nacionalizando o próprio nome.
Isso levantou grande insatisfação nas fileiras serristas: alguns jornalistas chegaram a perguntar onde Aécio poderia ajudar Serra senão em Minas Gerais.
Mas os problemas que desencadearam o desabafo de Xico Graziano vêm de longe. É evidente que não pegou bem a revelação de que as reportagens de Amaury Ribeiro Jr para o Estado de Minas foram uma ação preventiva do então governador de Minas. E, se ele teve que se proteger das investidas de Serra e Marcelo Itagiba, foi porque a disputa no PSDB jamais foi fraterna.
No primeiro turno, por diversas vezes, a imprensa paulista reclamou da pouca atenção de Aécio a Serra: nem alusão à candidatura à Presidência, Aécio fazia em seu material de campanha.
Posteriormente, a bênção de Aécio ao apoio de Márcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte, a Dilma foi outro motivo para a desconfiança dos paulistas, que chegaram à plena certeza quando não notaram qualquer esforço de Aécio para conter o fenômeno "Dilmasia".
O discurso de Serra tem dois endereços: o primeiro é que vai articular oposição raivosa contra Dilma, aproveitando que ela não é Lula. Mas isso não é novidade na ala tucana. O segundo é que, do alto dos seus mais de 40 milhões de votos, ele se sente mais ungido que Aécio para ressurgir daqui a quatro anos.
O que Serra disse em outras palavras é: "Se Aécio me imagina derrotado, eu digo apenas que estou começando uma luta de verdade. Minha mensagem de despedida, nesse momento, não é adeus, é um até logo"
Aécio, que não recebeu qualquer agradecimento de Serra no discurso da derrota, não tem saída se a cúpula paulista tucana insistir em se afundar. Aliás, saída tem. A própria.
Weden
By: Nassif
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