O patrão
Via Gilson Sampaio
Por Francisco Costa
Sr. Janot, perdoe-me, não chamá-lo de excelência, mas a minha disposição anda escassa para isso, de excelente no momento... Nada nem ninguém.
Vejo, ouço e leio muita gente dividida a seu respeito, uns achando que é o homem certo no lugar certo, e outros achando que é mais um golpista entre golpistas.
Há muito venho tentando entender o mecanismo do golpe, buscando desde entre as pistas óbvias até as mais estapafúrdias possibilidades, e acho que o encontrei, e justamente na boca da mais velha das velhas raposas velhas, José Sarney, o remanescente do dilúvio bíblico, mais velho que Matusalém.
Na conversa com Sérgio Machado, no telefone grampeado, porque, por ordem da PGR, dos prostíbulos e botequins ao gabinete da Dilma, está tudo grampeado, exatamente como na ditadura militar, onde monitoravam até os traques, peidos e puns.
Em determinado momento o ancião remanescente do Gênesis, capítulo primeiro, assim se manifestou: “eles não aceitam nem parlamentarismo com ela”.
Já ouvi, isso, em 64, “eles não aceitam nem parlamentarismo com ele”, quando o segundo ele era Jango e o primeiro, os norte americanos.
Agora, o ela é Dilma, claro, e o eles nos remete não a uma equação, mas a um sistema de equações, porque com mais de uma incógnita, mas todas fáceis de serem dadas a conhecer.
Comecemos: havia os preparativos de um golpe há pelo menos alguns anos, e para tal contribuíram os cursos dados aos nossos juízes e procuradores do ministério público, nos States ou aqui, mas ministrados pelos juízes de lá, quando se estruturou a Lava Jato, quartel general do golpe e posto avançado dos órgãos de intervenção norte americanos.
A proposta e programa inicial era o de esfacelar a esquerda brasileira e neutralizar as suas lideranças, notadamente Dirceu, Lula e Dilma, pela ordem.
Municiado pela espionagem norte-americana sobre a Petrobras, denunciada pela Wikileaks e confirmada por autoridades do império, Moro começou o estrago, continuando a partir de novas informações, sempre de lá, da matriz, de maneira a que fossem pinçadas as pessoas certas, para depor.
A cada nova informação, uma nova fase (quantas vezes estranhei uma nova fase da Lava Jato não ter nada com as anteriores!).
Mas, fora do script, apareceu um maluco, megalômano e com a desonestidade acima de qualquer limite, Eduardo Cunha, e precipitou tudo, sendo bem vindo porque apressando os planos dos “irmãos do norte”.
No parlamento, uniram-se os que estavam comprometidos com o golpe, uma minoria, principalmente do PSDB, e o resto embarcou, fosse por oportunismo, para fugir da justiça, fosse porque foram remunerados para isso.
Veio o episódio Delcídio, uma aberração, já que a nossa Constituição só permite a prisão de senadores em flagrante de delito, o que não foi o caso, ou que só haja condução coercitiva quando há resistência, o que não aconteceu com Lula.
Para os senhores a Constituição é só um detalhe, um estorvo menor.
Afastada a presidente, o STF, uma extensão da Lava Jato, via Gilmar Mendes, nada fez para impedir que Michel Temer, o interino que não age como tal, nomeasse ministros, alterasse a política econômica, a diplomacia, como se tivesse sido eleito e empossado, democraticamente, com o aval do povo brasileiro.
Tudo isso só foi possível, sem resistência, porque a mídia colaborou, parte dela subordinada, a reboque, e parte participando da liderança, caso da tevê Globo.
E como isso aconteceu? Com factóides, sensacionalismo, escândalos pré fabricados, nascidos no judiciário, passando pelo seu gabinete, tendo a sua anuência, para que acontecessem, inclusive o grampo no telefone da senhora presidente.
Enquanto Moro providenciava o desmonte das nossas empreiteiras, colocando dezenas de milhares de trabalhadores na rua, parava as nossas pesquisas científicas, mormente as da área de energia nuclear, depreciava o valor das ações da Petrobras, para facilitar a privatização, a PGR municiava a mídia: triplex do Lula, iate do Lula, sítio do Lula, Delcídio, Vaccari... Aliviando os verdadeiros denunciados, alguns deles lideranças no golpe, outros, desinteressantes para os planos golpistas.
Com o afastamento da presidente, vieram os absurdos de Temer, sempre contra a parcela de menor poder aquisitivo do povo, e veio a resistência, num crescendo inesperado, a ponto da tevê Globo, a contragosto, ter que noticiar.
É preciso neutralizar isso e manter as atenções distantes das arbitrariedades golpistas, e aí o anúncio das prisões de Jucá, Renan e Sarney.
Não serão presos. Se forem será por pouco tempo, porque para o judiciário brasileiro não interessa o fato ou o agente motivador do fato, mas as conseqüências do fato, e aqui é manter os holofotes longe do parlamento e do gabinete Temer.
Particularmente acho um absurdo prender esses três ladrões, e por um motivo muito simples: são senadores da república, e por isso só podem ser presos em flagrante de delito, e não pela vontade de golpistas.
Sou democrata, e assim como não admito arbitrariedade contra os meus, não admito que sejam cometidas contra os meus adversários e meus inimigos, porque logo chegará a minha vez. Não há democracia parcial. Se houvesse a Lava Jato se justificaria.
Quer moralizar o país, prender os que estão solapando a república? Anote aí: Gilmar Mendes, Sérgio Moro, José Serra, Aloysio Nunes, Michel Temer e a si próprio, o resto é figuração, bandidinhos de menor periculosidade, politicamente falando, não resistem a um interrogatório.
Mas isso só se os norte-americanos deixarem.
Afinal, são eles que estão movendo os cordões dos mamulengos tupiniquins.
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