sábado, 4 de julho de 2015

Somos o que #Somos: sobre a #Somosificação das causas e injustiças sociais


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Somos todos seres únicos, como mostram as digitais em nossos RGs, nossos perfis em redes sociais ou quando nos deparamos com uma cicatriz em nosso corpo, resultante de uma história particular vivida. Entretanto, se olharmos mais de perto, bem de pertinho mesmo, iremos perceber similaridades em nossos comportamentos, modos de pensar, agir, gostos musicais, sotaque, cor, aparência e até mesmo nas nossas cicatrizes e histórias com as de outras tantas pessoas. Tudo isso porque somos seres que vivemos em sociedade, onde há diversos padrões culturais, econômicos, psicológicos, étnicos, políticos que nos inserem em um determinado grupo, que fala uma língua específica, se veste de forma específica e, claro, pensa de maneira específica.


Ao contrário do que comumente pensamos, nossas escolhas individuais e nossa trajetória de vida não são tão particulares e únicas, elas são resultantes de condições sociais e históricas específicas. Então, assim como eu não sou o único a pensar dessa forma que exponho neste texto, outros tantos não pensam de maneiras únicas. É claro que existem gênios, criadores que produzem coisas únicas, mas até mesmos eles criam padrões em suas criações (Picasso e o padrão cubista, Dalí e o padrão surrealista, Ramones e o punk rock, etc.), e tiveram influências de outros padrões antecessores para criar um novo. Então, não adianta correr, apesar de sermos (de alguma forma muito específica) únicos, não estamos sozinhos no mundo.

E por qual motivo eu estou falando isso? Porque, no último ano, estamos acompanhando um processo de #Somosificação das causas sociais. Se não me engano, esse processo surgiu quando o jogador Daniel Alves (brasileiro, jogador do Barcelona da Espanha) foi vítima de racismo em um jogo em que atuava pelo seu clube. Um torcedor jogou banana nele, na hora que foi bater o escanteio. Essa ação gerou revolta entre os usuários das redes sociais, que passaram a usar a hashtag #SomosTodosMacacos para se solidarizar com o jogador (Alguns falam em ação de marketing sobre o caso, mas isso é outro tópico específico). Tempos depois teve o caso de Charlie Hebdo (#JeSuisCharlie), #SomosTodosVerônica, teve  manifestação de apoio à questão do casamento homoafetivo nos EUA e, agora, o #SomosTodosMajuCoutinho, que foi o caso da apresentadora da previsão do tempo da Rede Globo, vítima de racismo nas redes sociais.

O que tudo isso tem a ver com aquilo que falei sobre não sermos seres tão únicos como achamos ser, no início do texto? Que, ao mesmo tempo que pessoas se comportam de maneira egoísta como se fossem seres únicos, sem particularidades padrões (expressadas pelos etnocentrismos, racismos, machismos, homofobias, preconceito de classe, misoginias, etc), outras parecem ter chegado a um nível de consciência que reivindica o “nós” em detrimento do “eu”. Mas não um “nós” que representa uma identidade fixa, que nos obriga a seguir o padrão de comportamentos do grupo que passamos a “ser” junto com os outros.


Por exemplo, não sou mulher, nem negro, muito menos apresento a previsão do tempo da Rede Globo e, mesmo assim, posto #SomosTodosMajuCoutinho, porque a luta por uma causa coletiva (combater o racismo) me torna um agente de mudança civilizatória juntamente com o grupo atingido em questão. Isso não me dá o direito de dizer que sinto o que eles sentem, pois não estou nem jamais estarei na pele dos negros, logo não sei o que é racismo na pele, mas eu sei o que é o racismo em sua prática e os resultados catastróficos que eles causam na sociedade (segregação social, violência, preconceito cultural, etc.), por isso que, em casos de racismo com o outro, eu me posiciono e torno-me solidário à causa. Da mesma forma com o feminismo, com os grupos homoafetivos, etnias, em suma, com as minorias vítimas de uma história banhada de sangue, que buscam espaço em um mundo extremamente desigual economicamente, politicamente e socialmente. Ao mesmo tempo que as redes sociais mostram a face mais obscura do comportamento humano, ela mostra ações que nos faz pensar que um outro mundo é possível.

Além disso tudo, tem aqueles que falam que não aderem a “moda” de se posicionar diante desses acontecimentos (com fotos, hashtags, etc). Se formos ao verbete “moda” no dicionário veremos que ela é um “conjunto de opiniões, gostos, assim como modos de agir, viver e sentir coletivos”, logo, falar de moda em ações como essa não é uma afronta crítica, nem um argumento para não fazer, porque isso é sim uma moda que, eu por exemplo, compartilho e vivencio.
O que eu quero falar com isso tudo é que – desculpem o trocadilho – quando nós somos, a gente soma.
 no: http://www.cartapotiguar.com.br/2015/07/04/somos-o-que-somos-sobre-a-somosificacao-das-causas-e-injusticas-sociais/

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