Aldo Fornazieri, GGN
"De acordo com o noticiário da imprensa, o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio, deverá formalizar nesta semana o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Trata-se da proposição de um golpe institucional, pois não há um fato objetivo que justifique o impeachment. Nem mesmo lideranças tucanas como Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e José Serra julgam que o pedido encontra uma justificativa razoável. Desta forma, mesmo que o instrumento do impeachment seja previsto constitucionalmente não suficiente para torná-lo legítimo, pois carece de fundamento real.
O caminho do golpe institucional é perigoso e irresponsável. Perigoso, porque poderá mergulhar o Brasil não só numa crise institucional, mas também numa convulsão social. Se é verdade que hoje a maior parte da sociedade é favorável ao impeachment, é verdade também que existem importantes forças sociais e políticas organizadas que são contrárias. Estas forças, certamente, se mobilizarão na defesa da democracia e contra o golpe institucional. Desta forma, o processo de impedimento da presidente resvalará para fora do Congresso, ganhando as ruas. Com o ambiente político já radicalizado, os confrontos serão inevitáveis.
O caminho escolhido pelo PSDB e por outros setores da oposição é irresponsável, pois cavalga no oportunismo político da falsa suposição de que eles têm força popular. Pesquisas de opinião mostram que apenas 11% dos que foram na Avenida Paulista no último dia 12 de abril confiam no PSDB e que mais de 70% não confiam em Aécio Neves. Pesquisa do Datafolha indica que o Congresso é avaliado positivamente por apenas 9% da população do país. O fato é que a sociedade percebe a prática da corrupção como algo institucionalizado e inerente a quase todos os partidos políticos. É com essas credenciais de crise de legitimidade generalizada que a oposição pretende apresentar-se à sociedade para propor o impeachment. Convém ainda lembrar que políticos da oposição foram rejeitados pelos manifestantes, tanto no dia 15 de março quanto no dia 12 de abril.
O PSDB e o Adeus à Social Democracia
O atual PSDB tornou-se integrante do núcleo central da bancada BBB (bala, boi e Bíblia), liderada por Eduardo Cunha. O partido afastou-se por completo de uma agenda pautada em políticas socialdemocratas. Nas eleições, angariou o apoio dos setores mais conservadores da sociedade e passou à direita do PMDB. Nos embates recentes na Câmara dos Deputados, os tucanos posicionaram-se pela redução da maioridade penal e votaram no projeto de terceirização da atividade fim – algo que desfigura a longa e penosa história de conquistas trabalhistas no Brasil.
Infelizmente, as desditas da Fortuna quiseram que os dois partidos que foram criados para levar o Brasil à modernidade e à civilidade, o PSDB e o PT, vivessem um mesmo momento de crise e de desfiguração de seus respectivos ideários. Suas escolhas os afastaram um do outro, impossibilitando diálogos construtivos e até mesmo alianças transformadoras. O PSDB e o PT, cada um por seu lado, bloquearam suas capacidades transformadora e tornaram o Brasil prisioneiro de um sectarismo paralisante."
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