"Com esses movimentos anti-PT, digo, anticorrupção, novamente a direita parece não encontrar um uníssono. Saem todos juntos à rua e até dividem a cerveja long neck de oito reais e a selfie, mas os discursos são destoantes.
Delmar Bertuol, Pragmatismo Político
Elogiou a política de cotas sociais e raciais. Não pôde, num contudo lamentado, requerer o pioneirismo dessas iniciativas, mas garantiu que, no eventual governo tucano, essas medidas positivas seriam mantidas. Claro que o PSDB prometeu, também, manter o Programa Minha Casa Minha Vida. Não me lembro de ter visto, mas é possível que o Aécio até tenha dito que faria um esforço para baixar ainda mais os juros da casa própria aos carentes.
Quem quer casa, que trabalhe para consegui-la. Se, nos programas televisivos, o Aécio já não convencia muita gente, seus cabos eleitorais voluntários lhe atrapalharam ainda mais.
Aécio também se esforçava em dizer que era de esquerda. Mostrava-se ofendido, inclusive, quando insinuavam o contrário. Novamente, não houve combinação quanto à ideologia a ser adotada num governo tucano. Eleitores do Aécio gritavam: chega de socialismo! Chega de comunismo! Chega, enfim, de esquerda. Ou, como é típico da direita: esquerda e direita não existem mais. Ou, num paradoxo também típico da direita, argumentavam as duas coisas. Uma após outra.
Agora, com esses movimentos anti-PT, digo, anticorrupção, novamente a direita parece não encontrar um uníssono. Saem todos juntos à rua e até dividem a cerveja long neck de oito reais e a selfie, mas os discursos são destoantes. É mais ou menos como ocorria na eleição: o que importa é tirar o PT do poder, o como não é importante.
Nas eleições, os antipetistas chegaram a achar que a Marina era a melhor opção. Mas seus discursos eram tão contraditórios que nem ela se convencia do que falava (mais ou menos como o Aécio convencer-se que é de esquerda). Voltaram, então, ao sorridente e jovial peessedebista. Agora, nas manifestações contra o PT, digo, contra a corrupção, os discursos coexistem e andam lado a lado, numa contradição que só nossa direita consegue fazer.
Manifestantes pedem a volta da ditadura alegando que isso é democraticamente legítimo. Outros, logo ali do lado, acusam o PT de tentar implantar uma ditadura bolivariana (não peça para o manifestante explicar o que é isso, pois ele não sabe). De início, o Senador Ronaldo Caiado, do PFL (cujos membros, hoje, querem ser chamados de democratas, mas apoiaram a Ditadura) defendeu o impítiman (não sei escrever impeachment) da Presidenta.
Óquei. Sabemos todos que os inconformados com a derrota, digo, os manifestantes, querem a saída da Presidenta Dilma porque ela é do PT, digo, porque no governo dela houve corrupção. Mas como querem fazer isso?
Irão aceitar que o Michel Temer assuma, mesmo a maioria não sabendo quem ele é? Ou vão exigir, utilizando um parecer jurídico anômalo encomendado como embasamento, que o Aécio Neves assuma? Ou ainda, pelo bem de nossa democracia, vão seguir a ideia do golpe militar?
A direita brasileira deve primeiro se organizar antes de tentar tomar o poder à força (literalmente, talvez). Em se organizando, deve, de maneira coletiva, rotular-se como tal: somos de direita! Em se assumindo, virão que a população não os quer no poder.
Entenderam, ou precisam de um parecer encomendado para acreditarem?"
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