Desde a redemocratização, foram criados alguns mitos que sempre são levantados em momentos de crise, como panaceia para todos os males e nunca implementados por inexequíveis.
Um, o mito da constituinte exclusiva — bandeira que Dilma Rousseff levantou no auge das manifestações de junho de 2013, provavelmente inspirada em um articulista do Estadão, que era quase um setorista de constituinte exclusiva em momentos de crise.
O outro mito é o do pacto nacional, concertação ou seja lá o nome que se dê.
Aparentemente o tema foi levantado por algum gênio político do Palácio e vazou para os jornais. Não se tome como proposta acabada. Na balbúrdia política atual, o conselho político de Dilma assemelha-se à lenda dos sete cegos e do elefante — cada qual apresenta a parte (uma ideia só sua) como o todo.
Dia desses conversei longamente com um dos melhores quadros do PT, parlamentar preparado, com bom trânsito em todas as áreas. Ele me expôs de forma didática o que seria uma proposta de bom senso para ser apresentada inclusive à oposição.
Sua lógica é a de que a crise pegaria a todos, governo federal e governos estaduais, incluindo os do PSDB. Portanto haveria o interesse generalizado em um pacto que preservasse o país.
Havia total alienação dele — e provavelmente de quem pensou no pacto — em relação à guerra política atual. Se ainda não perceberam, trata-se de guerra de vida ou morte do segundo mandato. Alô, alô, Dilma, eles não querem comida: querem sua cadeira.
A Fernando Henrique, Serra, Aécio e seus vikings da terceira idade, interessa única e tão somente o impeachment de Dilma. E são eles que comandam o partido, não os governadores. Para eles, aliás, se a crise pegar Dilma e Alckmin, matará duas coelhos com uma só cajadada.
Além disso, contam com todo o exército da mídia para desviar o foco das responsabilidades. Outro dia mesmo o Estadão atribuiu ao prefeito de São Paulo Fernando Haddad a responsabilidade pela crise de água, pelo fato do prefeito ter levado alguns dias analisando o projeto que multa desperdício na cidade.
Quando o governo está por cima, a proposta de pacto é gesto de grandeza; quando por baixo, sinal de rendição.
Se houver a mínima possibilidade da ideia ser analisada pelo conselho político, seria a prova definitiva de que Dilma jogou a toalha. Melhor então que proponha de vez o parlamentarismo ou renuncie.
O que Dilma precisa, mais do que nunca, é começar a governar, organizar suas ações internas, levantar os programas de cada Ministério, criar uma agenda positiva e desfraldar a bandeira do otimismo. Muito mais simples e eficiente.
Luís Nassif
No GGN
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