quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O Brasil depois do impeachment



Um alerta aos entusiásticos adeptos do "impitimam" da presidenta Dilma: o cenário mais provável se tal desejo se concretizar não será nada favorável a eles ou aos tucanos e seus satélites, instigadores dessa insensatez.

E muito menos à imensa maioria da população.

O novo Brasil nascido do golpe urdido desde a ida dos trabalhistas a Brasília, em pouco tempo teria a dimensão e os graves problemas de duas décadas atrás.

O quadro seria mais ou menos esse:


1) Meses de paralisação dos trabalhos legislativos - é bom lembrar que o "impitimam" é um processo político, travado no Congresso.

2) Centrais sindicais ligadas à esquerda, tendo a CUT à frente, associações de classe e estudantis, organizações da sociedade civil e setores partidários da esquerda, capitaneados pelo PT, reagiriam à tentativa de tirar Dilma da Presidência. Os protestos envolveriam desde atos pacíficos até greves de segmentos mais politizados, como, por exemplo, petroleiros, bancários e metalúrgicos. A atividade econômica seria fortemente afetada. 

3) Decidido o impedimento da presidenta, seguir-se-ia mais um tempo para que o novo chefe do Executivo, o peemedebista Michel Temer, compusesse o seu governo.

4) Aí, seria travada uma outra batalha sangrenta, pois o PSDB, patrocinador-mór do processo iria se julgar no direito de abocanhar um grande quinhão ministerial, entrando em choque direto com o PMDB, o partido do novo presidente da República.

5) Resolvido o impasse, a reação dos setores sociais ligados à esquerda continuaria, com consequências imprevisíveis.

6) Dependendo do comprometimento de Lula nesse processo, poderia até mesmo haver a adesão, nas manifestações contrárias ao "impitimam", de massas populares, principalmente no Nordeste e regiões mais pobres, onde a figura do ex-presidente é cultuada à devoção.

7) Haveria a intervenção, para conter os protestos, das truculentas PMs estaduais, que não sabem sequer atuar sem violência em manifestações pacíficas. O resultado seria catastrófico, com um saldo de vários mortos e feridos.

8) É muito provável que a instabilidade política e social perdure vários meses, com reflexos óbvios sobre a economia. Empresas seriam afetadas, haveria aumento do desemprego, da inflação e cortes em programas sociais.

9) É ainda provável que o PMDB se acerte com o PSDB e outros partidos da direita para garantir um mínimo de governabilidade. Mas a calmaria duraria pouco - afinal, todas as siglas já estariam movendo suas peças para a campanha presidencial de 2018.

10) Mais uma probabilidade: o engajamento de Lula na reação ao "impitimam" poderia lhe render um processo criminal - a direita golpista ficaria com a faca e o queijo na mão para, além de tudo o mais, cassar os direitos políticos do ex-presidente.

11) Se o contrário ocorresse, ou seja, se Lula estivesse apto a concorrer à Presidência em 2018, ele entraria na disputa como sério candidato a vencê-la. Se ele fosse impedido, as esquerdas não teriam um nome forte. A corrida seria, então, entre tucanos e peemedebistas.

12) No meio de toda essa confusão, PMDB e PSDB continuariam guerreando entre si nos bastidores. Os peemedebistas não aceitariam, de forma alguma, que os tucanos entrassem com amplo favoritismo na campanha presidencial. O jogo, desde sempre sujo, ganharia formas abomináveis. 

13) Toda essa fúria anticorrupção que se vê hoje por parte do juiz Moro, alguns delegados da PF, Ministério Público, promotores e pelo oligopólio da imprensa, acabaria do dia para a noite. Afinal, eles teriam conseguido o seu objetivo, que era criar no país um forte caldo de insatisfação com "tudo que está aí". 

14) O regime de partilha para a exploração da camada de petróleo do pré-sal seria substituído, rapidamente, pelo de concessão, como querem as petroleiras internacionais. O sucateamento intencional da Petrobras justificaria a sua entrega aos concorrentes.

15) Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES deixariam de ser indutores do crescimento econômico. Virariam meros participantes da disputa mercadológica.

16) A tensão social, com o desemprego em alta, atividade econômica reduzida, retração do crédito, enxugamento do Bolsa Família e outros programas congêneres, e paralisação de obras de infraestrutura e de moradia popular (Nossa Casa, Nossa Vida), aumentaria.

17) Aos líderes do novo Brasil restaria usar, como sempre fizeram, os meios de comunicação para convencer a população de que tudo está muito melhor que antes. Além disso, dar ordens para que a repressão policial se encarregasse de descer o sarrafo em quem ousasse enxergar uma tempestade nessa bonança. 

18) As minorias seriam ainda mais discriminadas, pobres moradores nas periferias ainda mais perseguidos, pretos ainda mais segregados.

19) O campo estaria aberto aos justiceiros, sociopatas, fascistas em geral e fundamentalistas evangélicos, que passariam a exercer plenamente seus preconceitos, intolerância e ódio de classe.

20) Por fim, o novo Brasil reeditaria o modelo da Casa Grande e Senzala: um país com mercado de consumo formado por 10% da população e no qual o restante 90% disputaria, selvagemente, as sobras do banquete. A isso se daria o nome de meritocracia, mas na verdade, viveríamos sob as leis do pré-capitalismo.
Do: http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/02/o-brasil-depois-do-impeachment.html

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