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A crise hídrica na região metropolitana de São Paulo caminha para o colapso, e até o meio do ano, os sistemas Cantareira e Alto Tietê poderão chegar ao nível zero, acreditam os especialistas que acompanham com apreensão o problema.
"Atualmente, com a capacidade da Cantareira abaixo de 7%, estamos observando que as chuvas não estão compensando a redução dos níveis de água por captação e evaporação; caso a situação de chuvas e de consumo continue do jeito que está os dois reservatórios vão ficar sem água", preocupa-se Pedro Luiz Côrtes, geólogo e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) na área de meio ambiente e sustentabilidade, e professor de mestrado em gestão ambiental na Uninove.
É preciso "preparar-se para o colapso no sistema público de abastecimento", escreveu o professor Reginaldo Bertolo, do Instituto de Geociências da USP, em palestra realizada em novembro de 2104, na qual defendeu a produção de águas subterrâneas para atenuar o problema que os cerca de 20 milhões de habitantes da região metropolitana terão de enfrentar.
Os especialistas podem divergir quanto a detalhes dos desdobramentos do colapso anunciado, mas praticamente não há como discordar que a situação criará impactos sociais e econômicos consideráveis. Nos últimos dias, chegou-se a falar em êxodo populacional, mas isso é um certo exagero na opinião de Côrtes. O que ele não descarta, contudo, é que a situação prejudicará o dia a dia da região, afetando inclusive o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) paulista. "Isso pode sim influenciar em uma redução do PIB e na geração de empregos; há indústrias que têm suprimentos de água subterrânea, mas bares, restaurantes, enfim, muitos dependem do abastecimento dos sistemas da Sabesp", afirma.
Côrtes acredita que em vez de oscilar entre medidas como o desconto para quem economizar e a multa para quem gastar mais, o governo estadual já deveria ter decretado o racionamento que a cada dia se torna mais premente. "O racionamento deveria ser na base de um dia com água e um dia sem, algo na base do meio a meio", acredita o geólogo, acrescentando que se isso não reverter a situação no próximo ano podemos ter a difícil situação de um dia com água e dois dias sem.
O geólogo calcula que como o Cantareira abastece perto de 40% da região e está próximo de zero, é preciso cortar os mesmos 40% no consumo da região metropolitana. Nesses casos, instalações como hospitais, entre outras que são fundamentais, precisarão de regimes diferenciados de abastecimento, inclusive contando com o suprimento de carros-pipa.
Já que não cumpriu os investimentos previstos pela outorga de 2004 para ampliar a capacidade de abastecimento do sistema Cantareira, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) prefere a abordagem do problema na questão das chuvas. Mas essa perspectiva está 'virando água', ou se frustrando a cada dia. Neste mês, cujas chuvas históricas são de 271,1 milímetros, até agora choveu apenas 45,7 milímetros, o que é praticamente a metade do que já estaria acumulado no mês, caso as chuvas estivessem em regime regular.
E para os próximos dias não há previsão de alteração desse quadro. Segundo a carta de previsão do tempo a médio prazo do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as probabilidades de chuvas acima de 5 milímetros nos próximos dias são de 1% até sábado (17), e de 7% entre os dias 18 (domingo) e 21 (quarta-feira); a situação de chuvas deve melhorar um pouco somente no dia 22 (quinta-feira), quando a probabilidade de precipitações acima de 5 milímetros sobe para 20%.
"A previsão de recomposição da Cantareira leva uns cinco anos, talvez sete anos; infelizmente, estamos no início da crise, pois o pior ainda não aconteceu", afirma Côrtes. "O governo do estado devia mostrar para a população os cenários com os quais está trabalhando e as ações dentro de cada cenário", continua, lembrando que as obras que estão sendo realizas só ficam prontas a partir do ano que vem e que neste ano só há mesmo a possibilidade de contar com o apoio da população. "Este ano provavelmente não vai haver chuva para recomposição dos mananciais do Cantareira. Muitas vezes as chuvas não passam da barreira da serra", diz.
Para Côrtes, outros órgãos gestores de recursos hídricos também estão lerdos em tomar iniciativa. "A Agência Nacional de Águas está como um observador distante, mas poderia interferir, porque o sistema Cantareira é importante também para outras regiões do estado", afirma. "É necessária uma discussão sobre governança hídrica. A discussão não é promovida como deveria, de forma ampla", acredita.
Outro problema, segundo o especialista, é que os comitês de bacia são muito burocráticos: "Seria importante desenvolver uma nova forma de gestão e investimentos, pois, mesmo que o Cantareira voltasse, a situação ainda ficaria crítica", lembrando que o consumo tem crescido acompanhando o crescimento populacional.
"O governo do Estado tem visão paternalista, as pessoas ficam imaginando que o cenário é olhar para as chuvas e achar que a chuva vai resolver é ilusão. O fato é que hoje não temos segurança hídrica. Nós entramos no cheque especial da água e vai ser difícil sair."
É preciso "preparar-se para o colapso no sistema público de abastecimento", escreveu o professor Reginaldo Bertolo, do Instituto de Geociências da USP, em palestra realizada em novembro de 2104, na qual defendeu a produção de águas subterrâneas para atenuar o problema que os cerca de 20 milhões de habitantes da região metropolitana terão de enfrentar.
Os especialistas podem divergir quanto a detalhes dos desdobramentos do colapso anunciado, mas praticamente não há como discordar que a situação criará impactos sociais e econômicos consideráveis. Nos últimos dias, chegou-se a falar em êxodo populacional, mas isso é um certo exagero na opinião de Côrtes. O que ele não descarta, contudo, é que a situação prejudicará o dia a dia da região, afetando inclusive o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) paulista. "Isso pode sim influenciar em uma redução do PIB e na geração de empregos; há indústrias que têm suprimentos de água subterrânea, mas bares, restaurantes, enfim, muitos dependem do abastecimento dos sistemas da Sabesp", afirma.
Côrtes acredita que em vez de oscilar entre medidas como o desconto para quem economizar e a multa para quem gastar mais, o governo estadual já deveria ter decretado o racionamento que a cada dia se torna mais premente. "O racionamento deveria ser na base de um dia com água e um dia sem, algo na base do meio a meio", acredita o geólogo, acrescentando que se isso não reverter a situação no próximo ano podemos ter a difícil situação de um dia com água e dois dias sem.
O geólogo calcula que como o Cantareira abastece perto de 40% da região e está próximo de zero, é preciso cortar os mesmos 40% no consumo da região metropolitana. Nesses casos, instalações como hospitais, entre outras que são fundamentais, precisarão de regimes diferenciados de abastecimento, inclusive contando com o suprimento de carros-pipa.
Já que não cumpriu os investimentos previstos pela outorga de 2004 para ampliar a capacidade de abastecimento do sistema Cantareira, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) prefere a abordagem do problema na questão das chuvas. Mas essa perspectiva está 'virando água', ou se frustrando a cada dia. Neste mês, cujas chuvas históricas são de 271,1 milímetros, até agora choveu apenas 45,7 milímetros, o que é praticamente a metade do que já estaria acumulado no mês, caso as chuvas estivessem em regime regular.
E para os próximos dias não há previsão de alteração desse quadro. Segundo a carta de previsão do tempo a médio prazo do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as probabilidades de chuvas acima de 5 milímetros nos próximos dias são de 1% até sábado (17), e de 7% entre os dias 18 (domingo) e 21 (quarta-feira); a situação de chuvas deve melhorar um pouco somente no dia 22 (quinta-feira), quando a probabilidade de precipitações acima de 5 milímetros sobe para 20%.
"A previsão de recomposição da Cantareira leva uns cinco anos, talvez sete anos; infelizmente, estamos no início da crise, pois o pior ainda não aconteceu", afirma Côrtes. "O governo do estado devia mostrar para a população os cenários com os quais está trabalhando e as ações dentro de cada cenário", continua, lembrando que as obras que estão sendo realizas só ficam prontas a partir do ano que vem e que neste ano só há mesmo a possibilidade de contar com o apoio da população. "Este ano provavelmente não vai haver chuva para recomposição dos mananciais do Cantareira. Muitas vezes as chuvas não passam da barreira da serra", diz.
Para Côrtes, outros órgãos gestores de recursos hídricos também estão lerdos em tomar iniciativa. "A Agência Nacional de Águas está como um observador distante, mas poderia interferir, porque o sistema Cantareira é importante também para outras regiões do estado", afirma. "É necessária uma discussão sobre governança hídrica. A discussão não é promovida como deveria, de forma ampla", acredita.
Outro problema, segundo o especialista, é que os comitês de bacia são muito burocráticos: "Seria importante desenvolver uma nova forma de gestão e investimentos, pois, mesmo que o Cantareira voltasse, a situação ainda ficaria crítica", lembrando que o consumo tem crescido acompanhando o crescimento populacional.
"O governo do Estado tem visão paternalista, as pessoas ficam imaginando que o cenário é olhar para as chuvas e achar que a chuva vai resolver é ilusão. O fato é que hoje não temos segurança hídrica. Nós entramos no cheque especial da água e vai ser difícil sair."
A crise hídrica na região metropolitana de São Paulo caminha para o colapso, e até o meio do ano, os sistemas Cantareira e Alto Tietê poderão chegar ao nível zero, acreditam os especialistas que acompanham com apreensão o problema. “Atualmente, com a capacidade da Cantareira abaixo de 7%, estamos observando que as chuvas não estão compensando a redução dos níveis de água por captação e evaporação; caso a situação de chuvas e de consumo continue do jeito que está os dois reservatórios vão ficar sem água”, preocupa-se Pedro Luiz Côrtes, geólogo e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) na área de meio ambiente e sustentabilidade, e professor de mestrado em gestão ambiental na Uninove.
É preciso “preparar-se para o colapso no sistema público de abastecimento”, escreveu o professor Reginaldo Bertolo, do Instituto de Geociências da USP, em palestra realizada em novembro de 2104, na qual defendeu a produção de águas subterrâneas para atenuar o problema que os cerca de 20 milhões de habitantes da região metropolitana terão de enfrentar.
Os especialistas podem divergir quanto a detalhes dos desdobramentos do colapso anunciado, mas praticamente não há como discordar que a situação criará impactos sociais e econômicos consideráveis. Nos últimos dias, chegou-se a falar em êxodo populacional, mas isso é um certo exagero na opinião de Côrtes. O que ele não descarta, contudo, é que a situação prejudicará o dia a dia da região, afetando inclusive o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) paulista. “Isso pode sim influenciar em uma redução do PIB e na geração de empregos; há indústrias que têm suprimentos de água subterrânea, mas bares, restaurantes, enfim, muitos dependem do abastecimento dos sistemas da Sabesp”, afirma.
Côrtes acredita que em vez de oscilar entre medidas como o desconto para quem economizar e a multa para quem gastar mais, o governo estadual já deveria ter decretado o racionamento que a cada dia se torna mais premente. “O racionamento deveria ser na base de um dia com água e um dia sem, algo na base do meio a meio”, acredita o geólogo, acrescentando que se isso não reverter a situação no próximo ano podemos ter a difícil situação de um dia com água e dois dias sem.
O geólogo calcula que como o Cantareira abastece perto de 40% da região e está próximo de zero, é preciso cortar os mesmos 40% no consumo da região metropolitana. Nesses casos, instalações como hospitais, entre outras que são fundamentais, precisarão de regimes diferenciados de abastecimento, inclusive contando com o suprimento de carros-pipa.
Já que não cumpriu os investimentos previstos pela outorga de 2004 para ampliar a capacidade de abastecimento do sistema Cantareira, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) prefere a abordagem do problema na questão das chuvas. Mas essa perspectiva está 'virando água', ou se frustrando a cada dia. Neste mês, cujas chuvas históricas são de 271,1 milímetros, até agora choveu apenas 45,7 milímetros, o que é praticamente a metade do que já estaria acumulado no mês, caso as chuvas estivessem em regime regular.
E para os próximos dias não há previsão de alteração desse quadro. Segundo a carta de previsão do tempo a médio prazo do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as probabilidades de chuvas acima de 5 milímetros nos próximos dias são de 1% até sábado (17), e de 7% entre os dias 18 (domingo) e 21 (quarta-feira); a situação de chuvas deve melhorar um pouco somente no dia 22 (quinta-feira), quando a probabilidade de precipitações acima de 5 milímetros sobe para 20%.
“A previsão de recomposição da Cantareira leva uns cinco anos, talvez sete anos; infelizmente, estamos no início da crise, pois o pior ainda não aconteceu”, afirma Côrtes. “O governo do estado devia mostrar para a população os cenários com os quais está trabalhando e as ações dentro de cada cenário”, continua, lembrando que as obras que estão sendo realizas só ficam prontas a partir do ano que vem e que neste ano só há mesmo a possibilidade de contar com o apoio da população. “Este ano provavelmente não vai haver chuva para recomposição dos mananciais do Cantareira. Muitas vezes as chuvas não passam da barreira da serra”, diz.
Para Côrtes, outros órgãos gestores de recursos hídricos também estão lerdos em tomar iniciativa. “A Agência Nacional de Águas está como um observador distante, mas poderia interferir, porque o sistema Cantareira é importante também para outras regiões do estado”, afirma. “É necessária uma discussão sobre governança hídrica. A discussão não é promovida como deveria, de forma ampla”, acredita.
Outro problema, segundo o especialista, é que os comitês de bacia são muito burocráticos: "Seria importante desenvolver uma nova forma de gestão e investimentos, pois, mesmo que o Cantareira voltasse, a situação ainda ficaria crítica”, lembrando que o consumo tem crescido acompanhando o crescimento populacional.
“O governo do Estado tem visão paternalista, as pessoas ficam imaginando que o cenário é olhar para as chuvas e achar que a chuva vai resolver é ilusão. O fato é que hoje não temos segurança hídrica. Nós entramos no cheque especial da água e vai ser difícil sair.”
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