Os relatos que chegam via redes sociais dos amigos paulistanos são dramáticos. Grande parte da cidade está sem energia elétrica e o racionamento de água começa para valer nesses dias, em pleno verão de 40 graus.
A Jornalista Wanise Ferreira foi direto ao ponto, no Facebook:
Acho que está na hora de admitirmos: São Paulo enfrenta um dramático apagão de energia elétrica. A-P-A-G-Ã-O !!! Com todas as letras. Não se trata mais de uma questão circunstancial ou que esteja relacionada a condições climáticas. Todos os dias, chova ou faça sol, vários bairros da cidades ficam horas sem luz. Alguns lugares -- principalmente na periferia -- ficam assim por dias. E não é de hoje.
São alimentos que estragam, remédios que precisam de refrigeração que se perdem, comércio que tem seus serviços comprometidos, semáforos desligados piorando ainda mais o trânsito e muito, muito trabalho sendo prejudicado. São milhões de pessoas afetadas, em maior ou menor escala.
E a Eletropaulo, o que faz? Fala publicamente sobre o assunto, admite o problema e anuncia quais as soluções que estão sendo programadas? Não, nada. Afinal, qual é mesmo o problema, não? E o governador, que para quem não sabe é a autoridade que tem sob sua gestão o fornecimento de energia (e de água) no estado, se manifesta? De jeito nenhum.
Bobagem perguntar porque a imprensa não trata o assunto seriamente, né?
E assim vamos, convivendo com o caos como se normal fosse. Mas não é, gente. Não é normal !!!
Já tratei desse assunto nestas "Crônicas" inúmeras vezes ao longo dos anos. Quando morava em São Paulo fui vítima sei lá quantas vezes da incompetência criminosa da Eletropaulo. Numa delas escrevi que a capital vivia apagões diários que passavam imperceptíveis para a nossa gloriosa imprensa.
Creio, porém, que, como se diz, o buraco é mais embaixo.
Criou-se no Brasil o mito de que tudo da iniciativa privada é sinônimo de eficiência e tudo que depende do poder público não presta.
Mas o trabalho da Eletropaulo, entre o de tantas outras empresas, está aí para desmentir essa tese.
Gostaria de saber de existe alguma pessoa que não tenha tido problemas sérios com a NET, Vivo, Claro, Oi, Bradesco, Itaú, Santander, lojas virtuais, planos de saúde, companhias de seguro, supermercados - ou até com a padaria da esquina.
As empresas brasileiras, sejam do tamanho que for, prestam, com raras exceções, serviços péssimos, horrorosos, inclassificáveis.
Há cerca de cinco anos escrevi uma croniqueta sobre o assunto, que reproduzo abaixo.
Acho que ela ainda está atual e reflete a situação que vive não só o paulistano, mas o brasileiro em geral, vítima dessa mentirosa "eficiência empresarial".
O mito da eficiência empresarial
Depois de passar cerca de 40 minutos, divididos em dois telefonemas, ouvindo música da pior qualidade entremeada por mensagens sem nenhum sentido, tive a percepção de que um dos axiomas mais divulgados nesta nossa sociedade - a ineficiência do setor público - deveria ser mudado.
Sim, pois se o setor público é ineficiente, o que falar então do privado?
Os telefonemas foram feitos para a Eletropaulo e tinham como objetivo saber a que horas a energia elétrica voltaria ao prédio em que moro, já que ela havia sido interrompida depois da ventania que assolou meu bairro no começo da tarde do feriado de segunda-feira.
As informações dadas pelos atendentes da empresa não ajudaram muito. O serviço foi normalizado apenas no começo da noite - os dois funcionários erraram feio.
Dessa vez, porém, pelo menos consegui ouvir uma voz do outro lado da linha. Sinal que, se a Eletropaulo ainda está muito longe de cumprir o que manda a legislação que disciplina o atendimento ao consumidor, pelo menos já parece não ignorar que existe um cliente insatisfeito. Meses antes, numa situação similar à deste feriado, não consegui falar com ninguém.
A concessionária de energia elétrica paulistana é um bom exemplo de uma empresa privada ineficiente, pois presta um serviço de péssima qualidade.
Ficou evidente que seus atendentes não dispunham de informações sobre o andamento do conserto da rede. E que o reparo demorou mais que o necessário - cerca de seis horas, num dia de trânsito absolutamente tranquilo.
Mas não é somente ela que contraria o mito da eficácia do setor privado. Basta ver que, à testa do ranking das reclamações do Procon estão as gigantes de telecomunicações e do setor bancário.
Embora eu não seja nenhum especialista no assunto, é relativamente fácil perceber que as empresas brasileiras sofrem de males variados, que, em síntese, revelam a fragilidade de suas administrações.
Rapidamente, listei alguns dos problemas que são facilmente observados em grande parte das companhias:
1) Desperdício;
2) Má qualidade do serviço/atendimento ao consumidor/pós-venda;
3) Práticas desleais de concorrência (formação artificial de preço, concentração, venda casada);
4) Práticas aéticas de negócio (pagamento de suborno, corrupção);
5) Sonegação fiscal;
6) Desrespeito às leis trabalhistas;
7) Desrespeito à legislação do consumidor;
8) Desprezo ao papel social da empresa.
Pode haver quem diga que eu não tenho nada com isso, pois se a empresa é privada, não tem ações negociadas em Bolsa, o dono faz o que quer com ela. Mas é claro que uma alegação dessas só teria sentido se vivêssemos num sociedade pré-capitalista, mais de 200 anos atrás.
Um país que está entre as dez maiores economias do mundo e almeja chegar ainda mais longe precisa discutir seriamente a atuação de seu setor empresarial, sem preconceitos de nenhuma espécie.
Alimentar essa falácia de que tudo que vem do setor público é ruim e tudo que é privado é bom vai além da irresponsabilidade: chega a ser criminoso.
A Jornalista Wanise Ferreira foi direto ao ponto, no Facebook:
Acho que está na hora de admitirmos: São Paulo enfrenta um dramático apagão de energia elétrica. A-P-A-G-Ã-O !!! Com todas as letras. Não se trata mais de uma questão circunstancial ou que esteja relacionada a condições climáticas. Todos os dias, chova ou faça sol, vários bairros da cidades ficam horas sem luz. Alguns lugares -- principalmente na periferia -- ficam assim por dias. E não é de hoje.
São alimentos que estragam, remédios que precisam de refrigeração que se perdem, comércio que tem seus serviços comprometidos, semáforos desligados piorando ainda mais o trânsito e muito, muito trabalho sendo prejudicado. São milhões de pessoas afetadas, em maior ou menor escala.
E a Eletropaulo, o que faz? Fala publicamente sobre o assunto, admite o problema e anuncia quais as soluções que estão sendo programadas? Não, nada. Afinal, qual é mesmo o problema, não? E o governador, que para quem não sabe é a autoridade que tem sob sua gestão o fornecimento de energia (e de água) no estado, se manifesta? De jeito nenhum.
Bobagem perguntar porque a imprensa não trata o assunto seriamente, né?
E assim vamos, convivendo com o caos como se normal fosse. Mas não é, gente. Não é normal !!!
Já tratei desse assunto nestas "Crônicas" inúmeras vezes ao longo dos anos. Quando morava em São Paulo fui vítima sei lá quantas vezes da incompetência criminosa da Eletropaulo. Numa delas escrevi que a capital vivia apagões diários que passavam imperceptíveis para a nossa gloriosa imprensa.
Creio, porém, que, como se diz, o buraco é mais embaixo.
Criou-se no Brasil o mito de que tudo da iniciativa privada é sinônimo de eficiência e tudo que depende do poder público não presta.
Mas o trabalho da Eletropaulo, entre o de tantas outras empresas, está aí para desmentir essa tese.
Gostaria de saber de existe alguma pessoa que não tenha tido problemas sérios com a NET, Vivo, Claro, Oi, Bradesco, Itaú, Santander, lojas virtuais, planos de saúde, companhias de seguro, supermercados - ou até com a padaria da esquina.
As empresas brasileiras, sejam do tamanho que for, prestam, com raras exceções, serviços péssimos, horrorosos, inclassificáveis.
Há cerca de cinco anos escrevi uma croniqueta sobre o assunto, que reproduzo abaixo.
Acho que ela ainda está atual e reflete a situação que vive não só o paulistano, mas o brasileiro em geral, vítima dessa mentirosa "eficiência empresarial".
O mito da eficiência empresarial
Depois de passar cerca de 40 minutos, divididos em dois telefonemas, ouvindo música da pior qualidade entremeada por mensagens sem nenhum sentido, tive a percepção de que um dos axiomas mais divulgados nesta nossa sociedade - a ineficiência do setor público - deveria ser mudado.
Sim, pois se o setor público é ineficiente, o que falar então do privado?
Os telefonemas foram feitos para a Eletropaulo e tinham como objetivo saber a que horas a energia elétrica voltaria ao prédio em que moro, já que ela havia sido interrompida depois da ventania que assolou meu bairro no começo da tarde do feriado de segunda-feira.
As informações dadas pelos atendentes da empresa não ajudaram muito. O serviço foi normalizado apenas no começo da noite - os dois funcionários erraram feio.
Dessa vez, porém, pelo menos consegui ouvir uma voz do outro lado da linha. Sinal que, se a Eletropaulo ainda está muito longe de cumprir o que manda a legislação que disciplina o atendimento ao consumidor, pelo menos já parece não ignorar que existe um cliente insatisfeito. Meses antes, numa situação similar à deste feriado, não consegui falar com ninguém.
A concessionária de energia elétrica paulistana é um bom exemplo de uma empresa privada ineficiente, pois presta um serviço de péssima qualidade.
Ficou evidente que seus atendentes não dispunham de informações sobre o andamento do conserto da rede. E que o reparo demorou mais que o necessário - cerca de seis horas, num dia de trânsito absolutamente tranquilo.
Mas não é somente ela que contraria o mito da eficácia do setor privado. Basta ver que, à testa do ranking das reclamações do Procon estão as gigantes de telecomunicações e do setor bancário.
Embora eu não seja nenhum especialista no assunto, é relativamente fácil perceber que as empresas brasileiras sofrem de males variados, que, em síntese, revelam a fragilidade de suas administrações.
Rapidamente, listei alguns dos problemas que são facilmente observados em grande parte das companhias:
1) Desperdício;
2) Má qualidade do serviço/atendimento ao consumidor/pós-venda;
3) Práticas desleais de concorrência (formação artificial de preço, concentração, venda casada);
4) Práticas aéticas de negócio (pagamento de suborno, corrupção);
5) Sonegação fiscal;
6) Desrespeito às leis trabalhistas;
7) Desrespeito à legislação do consumidor;
8) Desprezo ao papel social da empresa.
Pode haver quem diga que eu não tenho nada com isso, pois se a empresa é privada, não tem ações negociadas em Bolsa, o dono faz o que quer com ela. Mas é claro que uma alegação dessas só teria sentido se vivêssemos num sociedade pré-capitalista, mais de 200 anos atrás.
Um país que está entre as dez maiores economias do mundo e almeja chegar ainda mais longe precisa discutir seriamente a atuação de seu setor empresarial, sem preconceitos de nenhuma espécie.
Alimentar essa falácia de que tudo que vem do setor público é ruim e tudo que é privado é bom vai além da irresponsabilidade: chega a ser criminoso.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/01/a-eletropaulo-o-apagao-e-o-mito-da.html#more
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