Parece uma descrição da internet, mas estamos falando de fungos. Os fungos – sejam eles cogumelos ou não – são formados de um emaranhado de pequenos filamentos conhecidos como micélio. O solo está cheio desta rede de micélios, que ajuda a "conectar" diferentes plantas no mesmo solo.
Cerca de 90% das plantas terrestres têm uma relação simbiótica com fungos, que é batizada de micorriza. Com a simbiose, as plantas recebem carboidratos, fósforo e nitrogênio dos fungos, que também as ajudam a extrair água do solo. Esse processo é importante no desenvolvimento das plantas.
'Internet natural'
Só em 1997 é que foi possível comprovar concretamente algumas dessas comunicaçõeos via "internet natural". Suzanne Simard, da Universidade de British Columbia, no Canadá, mostrou que havia uma transferência de carbono por micélio entre o abeto de Douglas (uma árvore conífera) e uma bétula. Desde então, também ficou provado que algumas plantas trocam fósforo e nitrogênio da mesma forma.
Simard acredita que árvores de grande porte usam o micélio para alimentar outras em nascimento. Sem essa ajuda, a cientista argumenta, muitas das novas árvores não conseguiriam sobreviver.
Simard conta que as plantas parecem trabalhar no sentido contrário ao observado por Charles Darwin, de competição por recursos entre espécies. Em muitos casos, espécies diferentes de plantas estão usando a rede para trocar nutrientes e se ajudarem na sobrevivência.
Os cientistas estão convencidos de que as trocas de nutrientes realmente acontece pelo fungo no solo, mas eles ainda não entendem exatamente como isso ocorre.
'Conluio'
A experiência foi feita com tomates plantados em vários vasos e ligados entre si por micorriza. Um dos tomates foi borrifado com o fungo Alternaria solani, que provoca doenças na planta.
Depois de 65 horas, os cientistas borrifaram outro vaso e descobriram que a resistência deste tomate era muito superior.
"Acreditamos que os tomates conseguem 'espiar' o que está acontecendo em outros lugares e aumentar sua resposta à doença contra uma potencial patogenia", escreveu Zeng no artigo científico.
Ou seja, as plantas não só usam a "internet natural" para compartilhar nutrientes, mas também para formar um "conluio" contra doenças.
Esse tipo de comportamento não foi observado apenas em tomates. Em 2013, o pesquisador David Johnson, da Universidade de Aberdeen, na Escócia, também detectou isso em favas, que se protegem contra insetos mínusculos conhecidos com afídios.
Lado negro
Mas assim como a internet humana, a internet natural também possui seu lado negro. A nossa internet reduz a privacidade e facilita crimes e a disseminação de vírus.
O mesmo acontece com as plantas na micorriza, segundo os cientistas. Algumas plantas não possuem clorofila e não conseguem produzir sua própria energia por fotossíntese.
Algumas plantas, como a orquídea Cephalanthera austiniae, "roubam" o carbono que necessitam de árvores das proximidades, usando a rede de micélio. Outras orquídeas que são capazes de fotossíntese roubam carbono, mesmo sem necessitar.
Esse tipo de comportamento faz com que algumas árvores soltem toxinas na rede para combater plantas que roubam recursos. Isso é comum em acácias. No entanto, cientistas duvidam da eficácia desta técnica, já que muitas toxinas acabam sendo absorvidas pelo solo ou por micróbios antes de atingir o alvo desejado.
Para vários cientistas, a internet dos fungos é um exemplo de uma grande lição do mundo natural: organismos aparentemente isolados podem estar, na verdade, conectados de alguma forma, e até depender uns do outros."
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