Todos torceram contra a Copa, mas a única derrota foi a que sofremos da Alemanha, a campeã |
Flávio Aguiar, RBA
Este foi um dos piores anos da minha vida. Só há paralelos no ano do golpe, em 1964, ou no período que vai de 1972 a 1974. Assim mesmo, do ponto de vista pessoal, houve diferenças signifcativas. Em 64 acabei saindo do país e passando um ano nos Estados Unidos. Entre 72 e 74 tornei-me pai. Foram vetores para o futuro. Em 1965, voltei ao Brasil tendo me tornado um pacifista convicto. Nosso país mergulhava na sombra, mas os Estados Unidos (!) vibravam com as primeiras manifestações contra a guerra do Vietnã, Martin Luther King...
Em 1973, a paternidade me deu alento para seguir até 74, quando a ditadura começou a se esvair. Nossa ditadura não caiu: saiu pelo ralo, deixando feridas abertas, além das cicatrizes indeléveis.
Já em 2014 foi diferente – embora, como em 64, eu estivesse vivendo no exterior.
E o verdadeiro Brasil – o deles e delas, as mídias europeias, ecoando e alimentando as tradicionais do Brasil – era uma catástrofe: um país de narcotraficantes, eternos favelados, um povo incompetente para tudo, inapetente para outra coisa que não seja a pobreza ilimitada e a vitimização, perdulário, gastando o que não tinha em estádios absurdos, em obras sem direção, devastador da natureza, inviável, colonizado mas imperialista em relação aos vizinhos mais fracos, um mau exemplo para a civilização e um bom exemplo para a barbárie... Enfim, deparei-me com uma torcida generalizada contra o Brasil, os brasileiros e para que a Copa fosse uma catástrofe.
Pois bem, foi uma catástrofe – e merecida –, mas apenas no jogo contra a Alemanha, que, diga-se de passagem, mereceu a vitória e a Copa depois. Fora deste Mineirazo, a Copa foi um sucesso insuportável para seus inimigos e para os inimigos do Brasil, do governo, e do povo brasileiro. Sim, a Copa foi um desastre – mas para eles, bem como para os inimigos da Copa, do governo e do povo dentro do Brasil.
Mas aí vieram as eleições. A campanha contra mudou de rumo e de tom, mas ressoando o que já vinha sendo alimentado. E como dizia o finado presidente Figueiredo,recrudesceu. Nunca houve uma campanha tão violenta contra o governo e contra a esquerda, tão ressentida, tão energúmena, tão mentirosa, tão odienta e semeadora de ódios babantes.
Foi o pináculo de tudo – os médicos que uivavam contra o Mais Médicos, dando alguns mostras de fascismo explícito, a mídia econômica internacional bradando contra o intervencionismo de Brasília e louvando sem parar o falido e despedaçado México, louvando o pífio Acordo do Pacífico e malhando o Mercosul, e por aí afora.
Dentro do país, a situação foi tenebrosa, com a maré de lama da mídia e da campanha das oposições trazendo seus miasmas fétidos até o exterior, culminando com aquela capa de Veja
Porém, 53 milhões de brasileiros não se deixaram enganar. Bom, foi um consolo: o 2014 deles também não deveria ter começado, e ainda para azar deles
A direita vai continuar presa ao passado, querendo fazer o relógio da história andar para trás. Mas o PSDB está rachado. Alckmin quer se tornar o novo líder, com seu ar de chuchu bem comportado. Aécio ainda não engoliu a derrota, a gente vê no seu rosto. Marina é uma incógnita. Aliás, por isso mesmo sequer passou ao segundo turno. O PSB está sem leme nem timoneiro.
O PMDB está onde sempre esteve: no centrão, atirando anzóis para todo lado. Pesca em águas claras e em águas turvas. Há sinais evidentes de que na Polícia Federal – ala tucana – e em setores do Judiciário se trama alguma tramoia, na falta da possibilidade de um levante militar.
E o PT, gente? Não sei se vai aprender as lições. Não tem conversa nem para os jovens, isto é grave. Vai perder o diálogo com o contingente de juventude que a política inclusiva do governo trouxe para dentro da arena política. Como dizia o velho filósofo da buzina televisiva, “quem não se comunica se trumbica”. O mesmo vale para o governo.
2014 não deveria ter começado e talvez nunca acabe. Mas 2015 já começou. E vem a jato. Aliás, Lava Jato."
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