Um espectro não ronda a política brasileira: o espectro do comparecimento de Aécio Neves ao trabalho.
O senador mineiro prometeu, terminada a eleição, fazer uma “oposição incansável, inquebrantável e intransigente” ao governo.
Da tribuna, fez um discurso empolgado, com apartes ridículos de sicofantas como o colega Magno Malta.
“Ainda que por uma pequena margem, o desejo da maioria dos brasileiros foi que nos mantivéssemos na oposição, e é isso que faremos. Vamos fiscalizar, cobrar, denunciar”, disse. “Nosso projeto para o Brasil continua mais vivo do que nunca”. Falou por 30 minutos para um plenário e galerias lotados.
Passados vinte dias, Aécio virtualmente desapareceu. Não foi ao Senado nem na semana em que estourou a Operação Lava Jato para tirar sua casquinha do episódio.
No registro de presença, ele deu WO em seis das onze sessões. A desculpa de sua assessoria de imprensa é de que tirou uns dias para descansar depois da campanha. Ele já havia feito a mesma coisa logo após o pleito.
Não há muito o que se estranhar. Em quatro anos, Aécio assinou 163 proposições, sendo 142 delas requerimentos — quer dizer, pedidos de informação.
Elaborou 16 projetos de lei, dos quais três coletivos. Dos 13 que restavam, um foi retirado da pauta. Ou seja, Aécio fez em média três projetos por ano. Outros números igualmente pífios: 141 pronunciamentos — 2,9 por mês — e 21 apartes.
Isso não significa, evidentemente, que ele não seja uma liderança influente. Mas dá uma ideia mais clara, para seu eleitorado, que o batente não é o forte de Aécio, confirmando o que dizia o “submundo da internet”, como ele mesmo definia.
A última vez em que Aécio foi visto em público foi registrada pelo colunista Ricardo Noblat no Globo numa crônica memorável – pelos motivos errados. O mineiro estava num vôo do Rio de Janeiro para Brasília numa quarta feira e teria sido aplaudidíssimo pelos passageiros.
Uma coisa é batata: alguém estará anotando a presença de Aécio num caderninho, como um bedel sanguinário. Seu nome é José Serra.
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