Neste sábado (16), logo pela manhã, minha esposa pela primeira vez começou a sentir dor na parte de baixo das costas, bem na região dos rins.
Quando essa dor aumentou e se tornou insuportável, resolvemos procurar um hospital.
Peguei nosso carro na garagem e dirigi o mais rápido que pude até o hospital da empresa da qual temos plano de saúde, que fica a uns 12 quilômetros da nossa casa.
Chegando lá, a fila de pacientes estava bem pequena, o que resultou num atendimento rápido.
Em torno de 20 minutos ela foi encaminhada para uma sala de observação bem confortável, onde recebeu um analgésico e ficou descansando lá até o médico estar pronto para fazer uns exames.
Em pouco mais de uma hora depois de chegarmos ao hospital, já estávamos na sala do médico, fazendo os exames para identificar qual era o problema dela. Depois voltou para a sala de observação e descansou mais um pouco.
No fim das contas deu tudo certo. Em torno de duas horas e meia depois que saímos, já estávamos voltando para casa satisfeitos com o atendimento e comentamos sobre o alívio que sentimos por termos um plano de saúde numa hora como essa.
Mas outro pensamento invadiu minha cabeça por esses dias:
Como essa história teria ocorrido se fôssemos um casal muito pobre?
Provavelmente teríamos esperado um pouco mais antes de ir ao hospital, pois ir de ônibus seria muito difícil e demoraria muito. Ela tomaria um analgésico em casa, esperando que a dor passasse sozinha.
Se a dor passasse, nem iríamos mais ao hospital. Mas se ela não passasse, teríamos que tentar conseguir algum vizinho ou amigo com carro, disposto a nos levar até o hospital, ou ir até a avenida mais próxima e aguardar até um táxi passar, para chamá-lo até próximo de casa e fazer minha esposa embarcar.
Caso não tivesse uns R$ 35 para o táxi, nem conseguisse emprestado, o jeito seria sofrer numa longa viagem de ônibus até o hospital.
Chegando lá, teríamos de esperar na fila da emergência, junto a uma grande quantidade de pessoas, por atendimento pago pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.
Após horas aguardando o atendimento e passando mal, ela seria encaminhada para uma enfermaria cheia, onde aguardaria o atendimento de um médico, que mal olharia para a paciente, receitaria alguns medicamentos para tomar e exames para fazer. Talvez nem fosse possível fazer os exames naquele dia, sendo necessário voltar depois para isso.
Voltaríamos para casa num ônibus cheio, com minha esposa se sentindo mal. Precisaria pedir por favor para que alguém cedesse o lugar a ela. No calor insuportável do ônibus lotado, sem ar-condicionado, ela ficaria se sentindo ainda pior e quase desmaiando.
Quando fosse na farmácia, teria bem pouco dinheiro para comprar os remédios dela e seria necessário economizar numa série de gastos durante o resto do mês, para não ficar sem dinheiro antes de receber o meu salário de 500 reais novamente.
Talvez teria atrasado o pagamento do aluguel e precisaria conseguir um "bico" para ganhar uma grana extra para não faltar comida na mesa.
Os pobres vivem em risco constante
Após refletir como o episódio poderia ter sido, caso fôssemos um casal bem pobre, percebi que o problema nem de longe é apenas um plano de saúde: É o plano, é o transporte, a casa própria, o emprego, os remédios, dentre várias outras coisas.
Tudo isso é definido quase exclusivamente com base na nossa renda.
Viver na pobreza ou na miséria no Brasil é viver em situação de risco nas mais diversas situações.
Por isso, é imprescindível a luta pela diminuição da enorme desigualdade social brasileira, mas não apenas em termos de renda, mas principalmente de acesso a serviços essenciais.
Enquanto o acesso a serviços como o tratamento de saúde de qualidade forem totalmente dependentes da nossa renda, por muito tempo os brasileiros irão sofrer, pois temos uma desigualdade de renda brutal, que, apesar de diminuir a cada ano, está muito longe de chegar a um nível minimamente aceitável.
sugado do:http://fabiano-amorim.blogspot.com.br/2014/08/reflexoes-infelizmente-renda-define.html
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