Num momento de tantas manifestações por mais moralidade e menos corrupção, me vem a mente o Tartufo, a famosa peça de Moliére. Sátira de hábitos e costumes, chegou a ser censurada na França pelas críticas ao clero. O personagem que dá nome à obra representa o discurso da moralidade e os valores, da aparência e da representação. Prega uma coisa e faz outra. Este comportamento não é exclusivo de certos pastores e se manifesta de variada forma na vida social:
CÔNJUGE – Aquele (a) que faz jogo de ciúme, bota pressão no quesito fidelidade para mascarar suas escapadas.
EDUCADOR- O pai que critica a qualidade da educação e dos professores, mas não educa (com hábitos e valores saudáveis) seu(s) filho(s) para a vida escolar.
EDUCADOR 2 – O professor que reclama das condições de ensino, mas não prepara, nem dá aula.
EDUCANDO – O estudante que critica a qualidade do ensino e dos professores, mas atende celular em sala de aula, atrapalha a palestra com conversas, não estuda, e sua pesquisa se resume a “control V/control C”.
MÉDICO – Aquele que jura por Hiócrates, mas só trata por dinheiro.
PACIENTE – Aquele que critica a falta de saúde pública mas não cuida da própria saúde.
POLÍTICO – Ele promete defender os interesses públicos, mas só vota e decide pelos interesses privados (muitas vezes de seus financiadores de campanha).
POLÍTICO 2 – O roto que fala do esfarrapado. Critica o outro, não raras vezes sobre os próprios erros que comete ou cometeu. Quando é cobrado por falta de coerência, alega que a política é ‘dinâmica’.
POLÍTICO 3 – Aquele governo que faz o discurso da liberdade e mantém povos sob dominação e opressão.
COMERCIANTE – Aquele que faz promoções quando o produto está perdendo a validade.
COMERCIANTE 2 – Aquele que anuncia promoções com descontos acima do normal. Se é de 50%, a margem de faturamento aplicada é de no mínimo 100%.
EMPRESÁRIO - Aquele que critica a alta carga de impostos, a corrupção do governo e a má aplicação dos recursos, mas sonega os impostos (em diversos casos, já pagos pelo contribuinte).
EMPRESÁRIO 2 – Aquele que diz que o governo não deve interferir na economia, mas quando está em apuros ou precisa de financiamento, corre para pedir ajuda. Costuma criticar os investimentos sociais, mas aprova que o governo subsidie a iniciativa privada.
PATRÃO – Aquele que diz não poder aumentar o salário, mas leva uma vida de fausto e dissipação.
PATRÃO 2 – Aquele que diz que não poder pagar mais pelo trabalho comprado (pois quebraria a empresa), e ainda assim não aceita compensar com participação acionária.
PATRÃO 3 - Que não recolhe contribuições previdenciárias de domésticas e bóias frias, por exemplo, e critica os gastos do Estado.
SINDICALISTA – Aquele que faz o discurso em defesa do trabalhador, mas é um pelego que favorece os patrões nos acordos e negociações salariais.
PUBLICITÁRIO – Aquele que propagandeia um produto mas não o consome. Atores e atrizes em comerciais, idem.
JORNALISTA – Diz que é neutro e não tem rabo preso, critica a corrupção de um governo – não tendo em vista o interesse público, mas a hegemonia de um grupo econômico e político que deseja manter ou elevar ao poder. Alguns, venais e volúveis, utilizam esse expediente para chantagear e extorquir (não raras vezes na forma de anúncios publicitários).
DONO DE MÍDIA – Aquele que tem em seus jornalões o discurso dos bons costumes, mas faz o contrário em sua programação. Defende a liberdae, mas não dá nenhuma a seus profissionais.
JUÍZ – Aqueles que pautam os julgamentos sob a ingerência de grupos econômicos, políticos, amizades e afinidades ideológicas.
PROMOTOR – Aquele que acusa sob o discurso da lei, mas só quando interessa, conforme as ingerências e simpatias ideológicas, econômicas e políticas.
ELEITOR – Aquele que vota sem conhecer o candidato, não se lembra em quem votou, e reclama que os políticos não representam os seus interesses.
TARTUFO, em suma, é aquele que usa hipocritamente o discurso. Muitos apresentam suas razões para seduzir e obter algum tipo de vantagem. Poderia acrescentar mais categorias à lista. Mas deixo para que o leitor o faça.
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