quarta-feira, 28 de maio de 2014

Copa do Mundo: o complexo de vira-lata e a defesa com unhas e dentes

A Copa do Mundo desperta diferentes sentimentos nos brasileiros atualmente. Através desses sentimentos, é possível inclusive descobrir as preferências políticas de um cidadão. Os opositores ferrenhos costumam ter razões políticas para se opor. Os apoiadores incondicionais também têm seus motivos. Dificilmente se encontram discursos equilibrados entre críticas e defesas. Isso porque a Copa é hoje, o foco principal da política nacional. É o campo de batalha entre os atores políticos. O Governo Federal defende o evento com unhas e dentes, enquanto a oposição busca qualquer tipo de falha que permita um ataque político através da imprensa. Além disso, por ser o principal evento de um esporte massivo e extremamente popular, a Copa do Mundo está na boca de todos. Todos opinam sobre o tema. Por isso ela adquiriu um panorama que vai muito além do esporte.

Há algum tempo esse blog publicou um texto sobre a conscientização política e social que a Copa do Mundo FIFA de futebol vem promovendo no Brasil. De repente todos estavam preocupados com a situação dos serviços públicos do país. Educação, segurança, saúde e transporte eramo, e ainda são, temas centrais do evento. Esse reconhecimento de problemas é benéfico para o Brasil. Afinal, reconhecer um erro é o primeiro passo para superá-lo. Entretanto, surge um problema quando o objetivo dos que difundem as críticas não é melhorar o Brasil, mas sim desqualificar certos partidos políticos com objetivo eleitorais. Usam a honesta indignação das pessoas como massa de manobra: quem tem menos interesse por política acaba caindo no discurso “anti-Brasil” e começa a ser contra tudo que o Brasil faz ou produz.

A cobertura da imprensa transmite o "discurso do caos". Ilustração de Vitor Teixeira.

O brasileiro nunca foi muito patriota. Mas o que existe atualmente é uma campanha da imprensa e da oposição contra a Copa do Mundo. Isso cria um "complexo de vira-lata" no brasileiro, que passa a ver o Brasil como o pior país na face da Terra. Mas esse detalhe tem um fundo oculto. Acontece que o PT trouxe a Copa do Mundo e, se o evento for um sucesso, o partido será aplaudido, o que significaria o fim das aspirações políticas da oposição. Esta, então, representada pela imprensa, ignora as notícias e dados positivos sobre o Mundial, dando ênfase às notícias negativas e buscando o desgaste político com o evento, o que se traduz em dano à reputação petista. Ou seja, a oposição, hoje, deseja o fracasso do Mundial para obter vantagens eleitorais. A questão chave para a oposição, nesse caso, não é a imagem que os estrangeiros terão do Brasil, mas sim a imagem que os próprios brasileiros terão do Brasil (afinal, estrangeiro não tem poder de voto).

Isso se vê claramente com o ex-astro do futebol Ronaldo Nazário. Membro do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, o Fenômeno de repente mudou seu discurso sobre a Copa, antes favorável somente ao Governo Federal e à organização do evento. Pouco antes de divulgar seu apoio político à Aécio Neves (com quem tem amizade há 15 anos, segundo o próprio), Ronaldo deu entrevistas criticando duramente os preparativos. Nesse caso, existe relação direta entre o discurso assumido e o apoio declarado. Por dar um exemplo: o jornal GGN publicou uma matéria de Pablo Villaça, que atua no Cinema em Cena e mostrou em seu blog o que chamou de “cronologia de um demagogo”. Segundo a matéria, “Villaça resgatou as principais declarações de Ronaldo sobre a realização do evento e o momento exato em que o fenômeno parece mudar de opinião”.

Esses são os fatos relatados por Villaça. No dia 21 de fevereiro, Ronaldoafirmou que está“animado” para a Copa de 2014. Depois de um mês, postou uma foto de apoio à candidatura de Aécio Neves. E vinte dias depois, começam as entrevistas, onde se diz“envergonhado” com a preparação da Copa, entre outras declarações anti-Copa.

Entrevista de Ronaldo publicada na capa da Folha de S. Paulo essa semana

É um claro exemplo de que a Copa do Mundo e as eleições vêm polarizando a sociedade. As pessoas escolhem um lado de acordo com suas preferências políticas: se apoiam o Governo, são à favor da Copa, se se opõem, são contra. Quem apóia, não deixa de buscar motivos para apoiá-la (principalmente se conta com motivos eleitorais para isso). Quem se opõe, encontra facilmente motivos para odiá-la (principalmente se tem motivos eleitorais para isso). O certo é que a realidade é muito mais complexa que essas simplificações partidaristas. Nenhum evento é perfeito. Mas nenhum é um completo fracasso a ponto de não ter nenhum ponto positivo. Nesse sentido, cada um acredita no que quer. Obviamente aqueles que apoiam o Governo Federal acreditam no sucesso do evento. E obviamente a oposição vai acreditar que “o Brasil está perdido”.

O correto é chegar à um equilíbrio bem delimitado. Não é necessário ser "contra o Brasil" para criticar a Copa do Mundo. É possível criticar e questionar o lado injusto dela enquanto se comemora os gols do Brasil. Não há razões que não sejam políticas para se opor ferrenhamente ao evento ou para defende-lo incondicionalmente. A FIFA não pagou impostos dos bens trazidos ao Brasil, o que é injusto e deve ser questionado e discutido. Por outro lado, isso não quer dizer que a Copa está sendo péssima para o país. Dizer algo tão extremo é errado, pois a realidade dificilmente tem somente um lado. Sempre há outros pontos de vista e outros dados que não são enfocados. Por isso é errado ser radical com a Copa do Mundo.

Seguindo essa linha de pensamento, é bom lembrar que auto-crítica é positiva, mas somente quando ela tem um viés construtivo. Criticar é bom. É saudável para a Democracia. Sem critica os políticos governam sozinhos e não existe representação, mas sim imposição. Mas não é isso que os opositores ao mundial vem pregando. Dão ênfase somente ao caos e à destruição; o que é ruim para o Brasil e para o estado de espírito das pessoas, que, enganados pelas meias-verdades publicadas pela mídia, acabam odiando algo que também trará benefícios do Brasil, apesar de todas injustiças sociais e das preferências injustas concedidas à FIFA. 

Por outro lado, o Governo também poderia ser mais transparente deixando de esconder os lados “feios” da Copa. Claro que em época de eleições eles têm muito a perder falando dos pontos negativos, e claro que a imprensa já faz esse papel, mas o Governo do PT ganharia muita credibilidade se lutasse somente à favor do povo e não da FIFA, e se apostasse na transparência dando apoio político aos manifestantes, ao invés de se distanciar, como vem fazendo nos últimos anos. 

Enfim, existe um conflito de interesses ao redor da Copa do Mundo. Em 15 dias o panorama provavelmente mudará, principalmente porque já vêm mudando nos últimos dias. Muitas pessoas aceitaram o #vaitercopa e sabem que é mais eficiente protestar nas urnas que nas ruas (pelo menos nesse tema). Enquanto isso, outros movimentos sociais aproveitarão os holofotes do mundo para dar ênfase as suas causas. Foi o que professores cariocas em greve fizeram ontem com a chegada da Seleção Brasileira à Granja Comary. Usaram a imagem da seleção brasileira paradar ênfase à sua luta. Os jogadores não têm culpa de nada, mas serão usados como meio de obter causas justas (os professores querem aumento de 20% no salário, redução da carga horária dos servidores administrativos, plano de carreira unificado para a categoria e eleição direta para diretor de escolas). Esse holofote que mostra os problemas de certos coletivos é um dos pontos positivos da Copa quando as causas são justas, e não eleitorais.

É importante que o leitor abra os olhos e tente entender o papel de cada ator da Copa do Mundo. Quase todos têm lado nessa guerra política. Conhecendo o lado de cada um será possível saber “quem é quem” e “quem defende o que”, o que é muito útil na hora de desenvolver aquela consciência política que a Copa do Mundo motiva e que foi citada no começo do texto. Então, leitor, não caia na balela dos políticos ou da mídia. Eles têm muitos interesses à defender e nunca abrirão mão deles. Seja crítico com as injustiças do Mundial e aproveite essa festa porque ela será bonita apesar de tudo. Nada levado ao extremo é positivo. Por isso é necessário abordar o tema da Copa com equilíbrio e seriedade, evitando paixões partidaristas que não passam de interesses mesquinhos e, muitas vezes, são fruto de manipulações sem pudor.
sugado do: http://1outroponto.blogspot.com.br/     Blog do Rafael Buza

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