E lá vem a Folha, a velha Folha defensora do interesse público, da moral e dos bons costumes, denunciar viagens do ex-presidente Lula bancadas por empreiteiras.
Escândalo!
A matéria começa assim:
"Quase metade das viagens internacionais feitas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após deixar o governo foi bancada por grandes empreiteiras com interesses nos países que ele visitou. Todos eles ficam na América Latina e na África, de acordo com documentos oficiais obtidos pela Folha. As duas regiões foram prioridades da política externa do petista em seus dois mandatos."
E prossegue desse jeito:
"A assessoria do ex-presidente diz que ele trabalha para promover 'interesses da nação' e não das empresas que bancam suas atividades. Mas políticos e empresários familiarizados com as andanças de Lula disseram à Folha que ele ajudou a alavancar interesses de gigantes como Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht nesses lugares."
Porém, em certo momento, revela que "dois procuradores da República, um delegado federal, um juiz e dois advogados disseram à Folha que não há, a princípio, irregularidades nas viagens por não haver lei sobre a atuação de ex-presidentes".
Interessante o jornalismo que a Folha pratica.
Publica algo que aparenta ser uma grave denúncia, o envolvimento de um ex-presidente da República em negócios empresariais, para, lá no meio do texto informar aos seus caros leitores que, segundo todos os especialistas que consultou, o ex-presidente em questão não fez nada que pudesse ser considerado ilegal, imoral, errado, enfim.
Se a moda pega...
Jornalismo desse tipo, feito de insinuações maliciosas, de fofocas, beirando a calúnia, a injúria e a difamação, não é exclusividade da Folha, muito menos algo nascido nestes tempos de guerra incansável contra o governo trabalhista.
Ele existe desde sempre, desde quando se amarrava cachorro com linguiça.
É uma prática conhecida como "jornalismo marrom", assim explicada pela Wikipédia:
"Segundo Alberto Dines, o conceito foi utilizado pela primeira vez no Diário da Noite, em 1960. Ao noticiar o suicídio de um cineasta, ele escreveu que a tragédia era resultado da atuação irresponsável da 'imprensa amarela' O suicida havia sido vítima de chantagem por parte da revista Escândalo. O chefe de reportagem Calazans Fernandes, então, mudou para 'imprensa marrom', alegando que o amarelo é uma cor alegre, enquanto o marrom seria mais apropriado por ser a cor dos excrementos.
No entanto, Márcia Franz Amaral sustenta que a expressão é tradução de imprimeur marron, que é como se chamavam na França os jornais impressos em gráficas clandestinas.
Uma terceira interpretação é de que no Brasil a cor marrom seria identificada com clandestinidade e a ilegalidade, de forma racista, desde o século XVII, por associação aos escravos fugidos ou em situação ilegal no país."
Seja qual for a origem do termo, a Folha sabe muito bem como transformá-lo numa arma poderosa em sua cruzada contra a modernização do país.
É useira e vezeira em brindar seus caros leitores com pérolas que deixariam ruborizados os mais fanáticos autores que se inspiraram no nonsense para suas criações.
Não podemos esquecer que foi a Folha quem definiu o mais tenebroso período da história do Brasil como uma "ditabranda".
Nem que foi ela quem estampou, no alto da primeira página, uma folha criminal falsa da atual presidente Dilma Rousseff.
Ou quem atribuiu ao ex-presidente Lula a responsabilidade pela morte de centenas de pessoas num acidente de avião.
Como se vê, a Folha não tem pudores quando se trata de ir fundo nesse tipo de jornalismo canalha.
Afinal, a nossa imprensa oligopolista tudo pode, já que o Brasil não tem mais uma Lei de Imprensa.
Foi caluniado, foi difamado?
Reclame com o bispo, pois se depender da nossa Justiça você está perdido - os nossos doutos ministros do Supremo Tribunal Federal confundem "liberdade de expressão" com "liberdade de imprensa".
Sem contar que foram eles que acabaram com a profissão de jornalista - e com a própria Lei de Imprensa.
cronicasdomotta
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