O termo Pensamento Crítico pode resultar sendo uma abstração e inclusive ter um caráter tautólogico, sem precisar que se entenda por tal denominação. Uma abstração que pode converter-se num mero enunciado, que se repete sem muito cuidado. Uma tautologia, porque a rigor todo pensamento justifica que tal nome deveria ser crítico com tudo o que existe e consigo mesmo. Mas como hoje entronizaram no mundo inteiro um conjunto de banalidades próprias de um pensamento único, um pensamento submisso e um pensamento abjeto, adquire sentido falar do pensamneto crítico, não somente para diferenciar-se destas formas, como também para resgatar a essência de uma reflexão que não fique na mera contemplação, aceitação ou apologia de tudo que existe. Nessa ordem de ideias e de maneira esquemática, tenta-se precisar quais seriam nossos sentimentos e entendimentos das características do pensamento crítico que se incorpora, por suposto, nos homens e mulheres de carne e osso, que são os pensadores e pensadoras críticos.
É um pensamento histórico: O sistema capitalista se apresenta em si mesmo como o fim da história, o melhor dos mundos, uma realidade insubstituível sem passado nem futuro e a realização plena do presente eterno, que sempre gravita sobre o mesmo: sobre a produção mercantil e o consumo exacerbado. Nem antes, nem depois do capitalismo se concebe a existência de outras formas de organização social, porque tudo se sujeita ao ritmo demoníaco da pretendida“destruição criativa”, que promete um reino eterno, aqui na terra, de opulência e desperdício.
Para que todas essas falácias se imponham, se faz necessário cortar os vínculos dos seres humanos com a história, ou melhor dizendo, negar que nós somos seres históricos, que estamos ancorados ao mesmo tempo no passado, presente e futuro e que no passado reluzem os flashes de projetos e alternativas dos vencidos que iluminam o futuro, para que o presente não apareça como uma fatalidade que temos que aceitar e contra a qual nada podemos fazer.
Por isso, foi imposta a amnésia e o esquecimento, para que aceitemos que sempre houve e existirá o capitalismo, sem que possamos conceber outras formas de organização social e outras maneiras de nos relacionarmos entre nós e com a natureza.
Para enfrentar a pré-concepção sobre a eternidade do presente capitalista, a história deve ser um instrumento indispensável de análise e reflexão que nos ajude a recuperar outras perspectivas, que nos relembrem que o capitalismo é somente uma relação social históricamente constituída e que da história.
Para enfrentar a pré-concepção sobre a eternidade do presente capitalista, a história deve ser um instrumento indispensável de análise e reflexão que nos ajude a recuperar outras perspectivas, que nos relembrem que o capitalismo é somente uma relação social históricamente constituída e que da história.
O conhecimento histórico nos ajuda a comprender que o presente atualmente existente é o resultado de processos complexos, onde entre muitas alternativas, se impôs, frequentemente com violência e irracionalidade, ou somente umas delas.
Em suma, o pensamento crítico se baseia na célebre proposta de Pierre Vilar de pensar históricamente, para disponibilizar, para localizar, relativizar, registrar, explicar, compreender e contextualizar todos os processos existentes, incluindo o capitalismo.
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É um pensamento radical: Para revelar a injustiça e a desigualdade se faz necessário ir à raiz dos fenômenos, com a finalidade de explicar suas causas fundamentais. Isto é o que quer dizer o termo radical, cutucar fundo nos processos e não ficar prisioneiro no mundo das aparências. Um pensamento radical supõe esquadrinhar sem concessões os mecanismos que mantem a dominação, a exploração e a opressão, chamando as coisas por seu nome e desmontando as falácias ideológicas que se empregam para encobrir com eufemismo a dura realidade. De fato, a radicalidade do pensamento não é uma questão puramente linguistica ou retórica, posto que a mesma utilização de certos conceitos (como capitalismo, imperialismo, classes sociais, desigualdade) implica a adoção de um ponto de vista, que tem consequências práticas, na vida das pessoas que assumem esse tipo de crítica radical.
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É um pensamento anticapitalista: Strictu sensu um pensamento radical tem que ser anticapitalista porque durante décadas nos anunciaram que o mercado perfeito tinha se tornado realidade após o desaparecimento da União Soviética e sua imposição garantia o crescimento ilimitado e a satisfação, via consumo, das necessidades de todos os habitantes do planeta. Estas mentiras se fizeram em pedacinhos pela crise capitalista que abalou e se estendeu pelo mundo em 2008, quando ficou evidente que o custo da crise é paga pelos trabalhadores, pelos pobres, como estamos vendo na União Europeia, modelo por excelência do triunfalismo capitalista, mas que hoje faz água por todos lados e que coloca o mundo diante de um perigoso dilema fascista da década de 30. Se as coisas são assim e se é palpável que o capitalismo no lugar de contribuir na solução dos problemas da humanidade, tende a agravar com sua lógica mercantil, baseada no lucro e no crescimento ilimitado, é necessário voltar a apresentar uma proposta que vá mais além do capital.
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É um pensamento aberto: Para ser radicalmente anticapitalista é indispensável apoiar tanto nas mais diversas tradições revolucionárias como no conjunto das ciências e das artes. O pensamento crítico precisa do diálogo permanente com diversos legados emancipatórios que foram sendo construídos durante vários séculos em distintos lugares do planeta, entre os que se sobressaem o pensamento de Marx e seus seguidores mais lúcidos, o anarquismo, o ecologismo, o feminismo, o indigenismo e tudo o que ajude no propósito de reconstruir uma agenda de luta contra o capitalismo e o imperialismo. Da mesma forma como nos ensinaram os grandes pensadores de nossa América e de outros continentes, (como José Carlos Mariategui, Antonio Gramsci, George Lukacs), a reflexão crítica se enriquece num diálogo fecundo com as ciências e a técnica, um intercâmbio necessário para enfrentar a crise civilizatória para a qual nos conduziu o capitalismo e no qual estamos submersos. Porque essa crise não se compreende à margem dos impactos nefastos e contraditórios das tecnociências, o que nos obriga a ter o mínimo de conhecimento sobre elas, que nos permitam esboçar uma distância crítica com muita moderação e cuidado.
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É um pensamento que questiona a ideia otimista do progresso: Após constatar os custos contraditórios da filosofia do progresso, com todo seu cortejo de morte e destruição, é pertinente questionar o progressismo, em todas as suas variantes, e em especial o culto à tecnociência, por todas as implicações práticas que tem.
Hoje, quando se impôs a razão instrumental e se generalizou o fetichismo da mercancia que afaga a lógica irracional de produzir para consumir num círculo vicioso cada mais destrutivo, se torna urgente problematizar os projetos progressistas que se sustentam em ganhar sobre o ser, na quantificação abstrata própria da mercancia depreciando o valor do uso, na ideia de consumir ad nauseam como subtituto do bem-viver em condições dignas.
A crítica à filosofia progressista é indispensável para abandonar as ilusões sobre as soluções técnicas como forma de resolver os problemas que gerou o capitalismo (como os transtornos climáticos ou a destruição dos ecossistemas) e voltar a priorizar as soluções sociais e políticas. Por todas as vicissitudes dos projetos fracassados anticapitalistas do século XX e da tragédia ambiental e humana que ocorre na China, já não é possível seguir rendendo cultos ao Progresso. Isto, de início, resulta uma ideia pouco popular pela imposição generalizada do consumo de artefatos tecnológicos na vida cotidiana, mas que é necessário apresentar para estudar a fundo as consequências nefastas da ampliação a alguns setores reduzidos da população do modo estadunidense de produção e consumo, frenquentemente aplaudida como a máxima expressão de progresso e que destroi a natureza e os pobres.
É preciso dizer, que isto não implica no abandono nem da ciência, nem da técnica como frenquentemente argumentam aqueles que creem que criticar o progresso é rechaçar por completo a modernidade e retroceder à época das cavernas. Ao contrário, o objetivo é resgatar o melhor da modernidade para pensar em construir outro tipo de civilização ecossocialista.
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É um pensamento ecologista e antipatriarcal: A destruição ambiental está generalizada no planeta e a Colômbia não é a exceção, ainda mais agora com os trens de mineração e o livre comércio. O ecocídio avança de maneira incontida num ritmo expansionista capitalista pelos cinco continentes, como demonstram as cada vez mais frequentes catástrofes sociais, que resultam na destruição da natureza e da mercantilização dos bens comuns. E isto nos obriga, mediante a reflexão analítica, ao estudo dos limites ambientais do capitalismo e os perigos que isso acarreta para muitas populações, principalmente as mais pobres. Necessitamos de uma nova sensibilidade que incorpore a crítica anticapitalista que estudou a fundo a contradição capital-trabalho, uma crítica de similar importância que elucide a contradição capital-natureza, e que envolva todos os sujeitos sociais afetados por esta segunda contradição. Em consequência, o pensamento crítico requer ser profundamente ecologista numa perspectiva que seja um complemento indispensável do anticapitalismo.
Ao mesmo tempo, dadas as notáveis contribuições teóricas de diversas correntes do feminismo, em consonância com a sujeição da maior parte das mulheres, é prioritário que o pensamento crítico assuma o questionamento do patriarcado e de todos os seus componentes de opressão e de marginalização da metade do gênero humano.
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É um pensamento nacionalista e internacionalista: O capitalismo realmente existente e seus ideólogos, entre os quais se sobressaem os neoliberais, se encarregaram de construir um falso dilema: eles se apresentam como os globalizadores por excelência, renunciam a tudo que se relaciona com o nacional, sendo próprio do atraso e da barbárie. Fizeram isto com a finalidade de justificar a entrega da soberania dos países e presentear os bens comuns que se encontram em seus territórios, tudo em nome de uma pretendida modernização global. Ao mesmo tempo, como resposta a esse universalismo abstrato, outros porta-vozes do capitalismo suscitam ferozes guerras xenófobas em vários continentes, que suscitam a xenofobia e a limpeza étnica.
Contra esse falso dilema – entre o universalismo abstrato e o chauvinismo nacionalista - o pensamento crítico deve e tem que reivindicar outro tipo de nacionalismo, junto com o internacionalimso. Não se pode renunciar o melhor da configuração nacional em nossa América, máxima nestes tempos de vergonhosa desnacionalização que impulsionou as classes dominantes nestes países, como é evidente na Colômbia. Isto não é uma reivindicação e muito menos um patriotismo tresloucado e barato, próprio da mentalidade retrógada dos latifundiários e criadores de gado de Antioquia e outras regiões deste país. Ppelo contrário, é postular um nacionalismo cosmopolita, baseado na máxima de Jose Martí:“Pátria é humanidade”. Como se diz: “que estamos assentados em nosso território” mas para compreender melhor o mundo e no relacionarmos de forma mais adequada com outros países, e não nos acreditamos melhor ou pior que os demais. Esse internacionalismo, além do mais, é urgente tanto para recuperar as melhores tradições de luta dos últimos séculos em nossa América, como para nos solidarizar e compatilhar as utopias dos oprimidos do mundo inteiro.
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É um pensamento anticolonialista e anti-imperialista: por reivindicar o melhor do nacional e o melhor do mundo, o pensamento crítico, tem que ser anticolonialista e anti-imperialista porque hoje se reforçou o colonialismo, que foi seriamente debilitado na década de 60 com a extraordinária luta de libertação nacional iniciadas com os povos africanos e asiáticos, cuja façanha fez gravitar a história universal em torno do que se chamava Terceiro Mundo. Esta epopéia anticolonialista gerou intelectuais do pensamento universal, representados nas obras de Franz Fanón, Walter Rodney, Amílcar Cabral ou Aimé Césaire.
Como ficou evidente, o colonialismo na realidade nunca desapareceu, melhor se encobriu sob outros mantos e emergiu com toda sua força nas últimas décadas, assumindo o velho discurso eurocêntrico coma retórica da globalização. Esta nova conquista, a colonização externa, no caso a nossa América, vem acompanhada desse outro fenômeno que existe neste continente há cinco séculos, e pouco se fala do colonialismo interno, agenciado pelas classes dominantes para manter seus privilégios às custas da exclusão, discriminação e exploração de indígenas, afrodescendentes e mestiços pobres.
A nova colonização também é, como sempre foi, cultural, e agora acadêmica porque dos centros hegemônicos da cultura universárira se impõe novas modas intelectuais, que desdizem e negam o próprio da realidade de nosso continente, de seus processos de luta e de seus próprios projetos culturais, para implantar uma linguagem artificial e imposta, elaborada para congratular-se com os novos imperialistas e seus mandarins intelectuais. Em consequência, o pensamento crítico deve estar atento em beber de diversas fontes, mas sem cair nas tentações da novidade e das modas efêmeras, impostas por Nova York ou Paris.
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É um pensamento que reinvidica aos oprimidos de todos os tempos e suas lutas: O pensamento crítico pretende revelar os mecanismos de exploração e opressão no presente, se apoiando numa visão histórica da qual emergem os sujeitos que se rebelaram contra as diversas formas de exploração em diversas épocas.
O conhecimento dos processos históricos assinala que mesmo nas piores condições, como na época da escravidão moderna, que durou quatro séculos (entre 1500 e 1890), houve protestos, sublevações e revoltas próprias do que se pode chamar a hidra da inconformidade dos plebeus.
Tal qual a hidra mitológica que renasce ainda que se destrua a cabeça, o mesmo sucedeu em diversos momentos da história do capitalismo quando apesar da tortura, perseguição e assassinato de líderes e dirigentes populares, o protesto dos subalternos reaparecem uma e outra vez.
Estudando as lutas dos vencidos, se alimenta o fogo da inconformidade no presente, porque aqueles que nos acompanham desde a posteridade, com a memória de suas ações, de acordo com postulado de Walter Benjamin:
“de não pedir aos que vem depois de nós a gratidão por nossas vitórias mas a lembrança de nossas derrotas. Esse é o consolo: o único que se dá a quem não tem esperança de receber”!
Em suma, a síndrome de Espártaco baseado no lema: “Me revolto, logo existo”, deveria sintetizar a lembrança dos que lutaram em todos os tempos, um componente indispensável do pensameno crítico.
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É um pensamento comprometido e não meramente contemplativo: Os enormes problemas que o mundo atual enfrenta, agravadas ainda mais em nosso continente pela dependência e pela subserviência das classes dominantes, requer tanto uma reflexão séria e rigorosa como o envolvimento das pessoas comuns. Em suma, se trata de que o pensamento se incorpore em sujeitos concretos para tornar-se em praxis transformadora à luz dos problemas específicos, que enfrenta a maior parte da população.
Não estamos falando de uma instrumentalização artificial das ideias que renuncie a importância da reflexão e que deprecie o trabalho intelectual mas a necessidade de vincular, de alguma maneira, essas reflexões com os problemas reais das pessoas.
Eu gosto de reinvidicar nossa atividade como própria dos trabalhadores do pensamento, como fazia Julio Antonio Mella quando dizia:
“Intelectual é o trabalhador do pensamento. O trabalhador! Ou seja, o único homem que no entendimento de Rodó merece a vida, é aquele que empunha a pena para combater as iniquidades, como outros que empunham o arado para fecundar a terra ou a espada para libertar os povos”.
Se colocarmos a elaboração do pensamento crítico como um trabalho e não como uma refinada atividade especulativa à margem do mundo real, teremos mais oportunidade de nos vincularmos com o resto dos trabalhadores, incluindo os que com suas mãos trabalham a terra ou fabricam as coisas. Assim poderiamos declarar nossa atividade como um artesanato do pensamento, um artesanato que gera produtos intelectuais que, direta ou indiretamente, devem ter alguma utilidade para as pessoas.
Por outro lado, o pensamento crítico não abdica de seus compromissos e, por isso sabe que é perseguido e reprimido, porque pretende incorporar outro projeto de mundo e de sociedade e que resulta insuportável para os detentores do poder e da dominação em nosso tempo, aonde quer que se encontrem. O pensamento crítico fez sua, a declaração na 11ª tese do filósofo de Tréveris:
“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo, ao invés de transformá-lo”.
Desta mesma forma, o pensamento crítico por estar comprometido com os pobres e desamparados, é um pensamento alternativo, porque juntamente com eles busca elaborar propostas anticapitalistas, considerando que outro mundo é possível e necessário, se não quisermos que o capitalismo seja o fim da história no sentido literal da palavra, se desejamos que nos destrua e a nosso planeta.
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É um pensamento universitário e extra-universitário ao mesmo tempo: A universidade pública tem sido uma conquista das sociedades latino-americanas, uma conquista alcançada com muito esforço e com o sacrifício de estudantes e de professores. Durante muito tempo se desejou que a universidade fosse um espaço democrático e popular, o que efetivamente ocorreu em alguns países da região, México é o principal exemplo. Nos demais países da região , apesar dos obstáculos a universidade pública foi durante algum tempo o farol intelectual que iluminava com ideias e projetos transformadores, que incidiram para fora dos campus universitários.
Agora estamos assistindo a transformação da da Universidade Pública num mercado educativo que vende serviços e quer converter professores e estudantes em fornecedores e clientes de combos macdonalizados*. Para que se torne realidade esse propósito é indispensável erradicar dos campus todos aqueles que questionem, critiquem e duvidem, já que a universidade da ignorância requer professores, estudantes e funcionários obedientes e submissos.
Em conformidade, o mote dos mercadores da educação é erradicar o pensamento crítico do mundo universitário, sob o pretexto de que náo é útil, nem rentável. Essa é a situação que enfrentamos de maneira direta, todos nós, que fizemos da universidade pública nosso projeto de vida. É necessário, então, defender esse território democrático nos embates do capital nacional e estrangeiro, para preservar a livre exposição e discussão de ideias, projetos e propostas para construir nações e sociedades justas e igualitárias.
Sendo que o mundo universitário representa somente um âmbito reduzido da população e que grandes problemas da sociedade são assumidos pelos organizadores populares, que constroem seus próprios instrumentos analíticos, é necessário que o pensamento crítico se relacione com esses projetos e essas lutas, para que aprenda delas e se nutra dessas experiências, para que logo possa se realimentar em forma dialógica. Quer dizer, o pensamento crítico também se constroi fora dos espaços universitários, na rua, na praça pública.
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É um pensamento digno: Para terminar, devemos mencionar as implicações éticas do pensamento crítico, o qual está relacionado com os interesses que representa, com as forças sociais dos que aprendem, se nutrem e alimentam por sua vez (aos outros) e aos valores que defendem.
A respeito da dignidade e de suas características distintas.
Por dignidade entendemos muitas coisas entrelaçadas e complementares:
a independência de critério;
a liberdade de crítica;
a insubordinação; a defesa dos indefesos;
a valorização das coisas pelo que são e não por seu preço monetário;
assumir os custos e as consequências do que se diz sem fazer concessões nem traficar com os princípios morais;
não ajoelhar-se nem subordinar-se aos amos e poderosos, em troca de remunerações ou reconhecimentos formais, que buscam a rendição;
e se manter ao lado dos oprimidos sem se importar que isso implique na marginalização e na criminalização.
O pensamento digno não se vende por umas migalhas, não vacila diante das lisonjas e das bajulações interessadas dos mercantilistas do saber e da investigação, não se subordina aos ditames da figuração midiática própria da sociedade do espetáculo, não escreve nem faz dissertações sobre aquilo que proporciona dinheiro e fama, nem negocia com o saber como se fosse uma mercadoria, não se cotiza na bolsa de valores do oportunismo intelectual.
Aqueles que cultivam o pensamento crítico caminham com retidão, com a cabeça erguida, num espírito de dignidade imaculada e não como ocorre com os porta-vozes da mentalidade submissa, pela desgraça da grande maioria que como afirma o dramaturgo italiano Darío Fo
“andam eretos porque a merda lhes chega até o pescoço”.
Fonte: Blog de Atilio Bóron via twitter
*combo –abrev. do inglês combination. Sequência de comandos, combinação.
Tradução Livre
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Notas:
1 . Citado em Michael Lowy, Walter Benjamin, aviso de incêndio. Una lectura de las tesis “sobre el concepto de historia”, Fondo de Cultura Económica, Buenos Aires, 2005, pp. 135.
2 . Julio Antonio Mella, “Intelectuales y tartufos”, en Escritos revolucionarios, Siglo XXI Editores, México, 1978, p. 44.Rebelión ha publicado este artículo con el permiso del autor mediante una licencia de Creative Commons, respetando su libertad para publicarlo en otras fuentes.
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