Um movimento com o sugestivo nome de "Endireita Brasil" promove nesta sexta-feira, em São Paulo, uma manifestação que é suprassumo da demagogia: com o pretexto de demonstrar quanto imposto há embutido nos combustíveis, vão vender uma certa quantia do produto sem a parte referente aos tributos - mas só vão aceitar pagamento em dinheiro, porque ninguém é de ferro.
Esse é um típico exemplo do cinismo dos nossos empresários, que estão sempre jogando para a plateia na tentativa de comover o pobre do cidadão de que eles são bonzinhos, que só querem o bem-estar da sociedade, que cobram os preços que cobram porque são obrigados a isso.
A culpa de tudo é sempre do governo - o federal, claro, porque no Estado e na Prefeitura de São Paulo eles contam com os amigos do peito tucanos e assemelhados, amigos que não deixam de recolher, de bom grado, a sua parte da taxação.
Essa história de que no Brasil os impostos são os mais altos do mundo já cansou, primeiro porque eles não são os maiores, segundo porque, na hora do vamos ver, de fazer uma reforma tributária para valer, os prefeitos e os governadores, sejam lá de que partido forem, se unem todos para deixar tudo exatamente como está. Por essas e por outras a presidente Dilma avisou que vai enfrentar o problema tributário de outro modo, promovendo, como está, desonerações setoriais.
Outra coisa que já encheu é esse papinho dos empresários de que os impostos são responsáveis pelo preços que cobram das mercadorias e serviços. Pura cascata, mentira deslavada. Eles conseguiram acabar com a CPMF e não baixaram um centavo sequer de absolutamente nada. Cobram caro porque visam unicamente o lucro, não estão nem aí com a população.
O caso mais recente de manipulação é esse das sacolinhas de plástico. Com a ajuda de algumas ONGs bobocas, de autoridades ou desinformadas ou simplesmente mal intencionadas, os supermercados conseguiram o que queriam, que era cortar um dos custos de sua cadeia, a de embalar as mercadorias que vendem. São R$ 300 milhões a menos por ano.
Num primeiro momento, graças ao marketing poderoso da "sustentabilidade ambiental", seja lá o que isso for, levaram a opinião pública para o seu lado. A maioria das pessoas, ingenuamente, entrou na canoa furada da "ajuda ao meio ambiente" que o fim das sacolinhas iria proporcionar.
Quando, porém, os consumidores se viram diante da dura realidade de ter de carregar com as próprias mãos ou em caixas imundas as compras que faziam nos ambientalmente "corretos" supermercados, a porca torceu o rabo e pimba!, quem era a favor da medida ficou contra: segundo o Datafolha, 69% da população agora quer as sacolinhas de volta.
Por tabela, vários parlamentares, que caminham ao sabor do vento que bate em seus eleitores, já se movimentam, em muitas cidades, para restaurar a obrigatoriedade de fornecimento gratuito das sacolinhas, ou de qualquer outro tipo de embalagem decente.
Esse movimento de reação, porém, teria sido evitado se os donos dos supermercados, logo que baniram as sacolinhas, tivessem baixassem os preços das mercadorias. Isso mostraria que estavam realmente bem intencionados, que tudo o que diziam sobre consumo consciente e outras parlapatices vinha do fundo do coração e não era apenas a mais rasteira, óbvia e pura demagogia.
Uma coisa eu garanto: se todo o esforço que os nossos patrióticos empresários fazem em prol de tantas causas nobres fosse dirigido para satisfazer os seus clientes, eles estariam hoje numa situação muito, mas muito melhor do que estão - e eles estão muito, mas muito bem.
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